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Hotelaria contra utilização das receitas da taxa turística para habitação em Lisboa

Câmara de Lisboa admitiu o recurso às receitas da taxa turística - que este ano deverão ascender a 32 milhões - para investir em habitação. Associação da Hotelaria de Portugal lembra que “a taxa turística não nasceu para fins sociais" e de acordo com a lei em vigor "isso não pode ser feito".

Cristina Siza Vieira, presidente executiva da AHP, diz que retoma mais séria não acontecerá antes de 2021.
Inês Gomes Lourenço
15 de Dezembro de 2022 às 15:52
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A Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) está contra o recurso às verbas que resultam das receitas da taxa turística para investimento em habitação em Lisboa. Cenário admitido pela Câmara Municipal disse esta quinta-feira a vice-presidente executiva da AHP, Cristina Siza Vieira.


"A taxa turística não nasceu para fins sociais. […] Neste momento, isso não pode ser feito. Se a Câmara [Municipal de Lisboa] tiver a intenção de fazer, terá a oposição da AHP", afirmou Cristina Siza Vieira aos jornalistas, durante a apresentação do inquérito sobre o impacto da Web Summit na hotelaria e sobre as expectativas para o Natal e passagem de ano.


A Câmara Municipal de Lisboa admitiu, a 24 de novembro, prevê arrecadar este ano uma receita com a taxa turística que ascende a 32 milhões de euros, admitindo alterar o modelo em vigor para usar as verbas para reforçar o investimento na área da habitação.


No âmbito de uma audição na Assembleia Municipal de Lisboa sobre a proposta de orçamento para 2023, o vice-presidente da Câmara de Lisboa, Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP), disse que a legislação da taxa turística pode ser alterada, ressalvando que essa competência não é da exclusiva responsabilidade do executivo camarário.


Cristina Siza Vieira adiantou que a AHP já pediu esclarecimentos ao presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, por considerar que a medida, a ser adotada, seria "uma aposta profundamente errada".


"Não se nos afigura que a Câmara careça dessa verba para poder acudir a este problema [da habitação]. O problema não é a falta de verba, portanto, não é, com certeza, a alocação da receita turística" que o vai solucionar, considerou a responsável.


A utilização das receitas da taxa municipal turística para investimento na área da habitação, inclusive para "mitigar os efeitos do turismo" na oferta e nos preços das casas na cidade, foi defendida pelos deputados municipais Vasco Barata (BE) e Miguel Coelho (PS), assim como a possibilidade de aumentar o atual valor de dois euros por noite.


Essa proposta mereceu a oposição de Carlos Reis (PSD), que a considerou "ilegal", afirmando que "o problema da habitação não se resolve com mais impostos".


Esta não é a primeira vez que a AHP critica o uso das verbas da taxa turística. Em entrevista ao Negócios, o presidente da associação que representa os hoteleiros, Bernardo Trindade, ex-secretário de Estado do Turismo do PS, disse que não aceita que o pagamento da organização da Web Summit "seja feita apenas com verbas do Turismo de Portugal e da taxa turística de Lisboa". "É tempo de encontrarmos formas alternativas de financiamento a este evento. Se interessa a todo o país e toca um conjunto vasto de setores, como as novas tecnologias, a nova digitalização, a criação de empresas, não podem ser só as verbas do Turismo de Portugal e da taxa turística em Lisboa a pagar este evento. Não é justo que aconteça".



O que diz a lei

Segundo a legislação em vigor as receitas da taxa turística são aplicadas em obras de melhoria das infraestruturas do turismo de cada conselho e na promoção do turismo.


Não é uma medida em vigor em todo o país. A decisão de aplicar a taxa cabe a cada autarquia, que define também o valor cobrado aos turistas que pernoitam em hotéis, alojamento local ou até em parques de campismo.


A primeira autarquia a avançar com a medida foi Aveiro, que entre janeiro de 2013 e abril de 2014 cobrava 0,35 cêntimos aos turistas. Na cidade de Lisboa, a taxa turística começou a ser aplicada em janeiro de 2016 com o valor de um euro por noite, mas desde de janeiro de 2019 que aumentou para dois euros.


Atualmente há 11 câmaras com a taxa em vigor. No continente outras seis aguardam o início de 2023 para aplicar a medida: Viana do Castelo, Coimbra, Évora, Loulé, Portimão, Olhão. Nas ilhas, a partir do próximo ano vai ser cobrada a taxa nos Açores e em Porto Santo.

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