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Seis trabalhos da nova administração da TAP

A nova equipa da companhia aérea nacional tem pela frente seis grandes desafios..

As receitas operacionais da TAP, que em 2019 foram de 3,3 mil milhões de euros, vão diminuir este ano para cerca de mil milhões.
Miguel Baltazar
24 de Junho de 2021 às 11:58
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1 - Concretizar a reestruturação
A TAP voltou no ano passado a ser controlada pelo Estado, que passou a ter 72,5% do capital, e poderá, na sequência da conversão de parte ou da totalidade do auxílio entregue em 2020 de 1.200 mil milhões de euros, passar a ter "90 e muitos por cento" da "holding" da transportadora aérea de bandeira portuguesa, ficando Humberto Pedrosa e os trabalhadores com participações residuais. Se até ao deflagrar da pandemia e à saída de David Neeleman a gestão da companhia estava entregue aos privados, a ajuda pública desencadeou uma maior intervenção do poder político, designadamente do ministro Pedro Nuno Santos, que abriu logo a porta de saída ao então CEO, Antonoaldo Neves. Desde essa altura têm sido várias as suas intervenções públicas sobre a TAP, seja na qualidade de ministro seja na de representante do acionista Estado, o que já levou a que alguns o apelidassem mesmo de CEO da companhia aérea. Só nos últimos meses envolveu-se em polémica com a Ryanair, indignou-se com o polémico vídeo de responsáveis dos recursos humanos gravado em Espanha e pronunciou-se sobre os despedimentos coletivos na empresa. Um papel interventivo que pode não ser bem recebido pela nova equipa de gestão.

A implementação do plano de reestruturação da TAP, que tem ainda de ser aprovado pela Comissão Europeia, é o grande desafio que tem pela frente a nova administração da companhia aérea, do qual dependem vários outros.

O plano, que foi entregue a Bruxelas a 10 de dezembro do ano passado, prevê a redução do número de trabalhadores, de aviões e rotas, e admite que a transportadora possa vir a precisar de apoios entre 3,4 e 3,7 mil milhões de euros até 2024, valores que já incluem os 1,2 mil milhões de euros injetados na TAP no ano passado. O Governo já disse esperar que a companhia se consiga financiar no mercado até 2024 e prevê que em 2025 comece a devolver dinheiro ao Estado. O Executivo chegou a acreditar que Bruxelas aprovasse a proposta de reestruturação ainda no primeiro trimestre deste ano, mas a conclusão das negociações tem vindo a derrapar. O que deixa por esclarecer se poderão ser ainda impostas condições, como é o caso da cedência de slots ( faixas horárias nos aeroportos) à semelhança do que a Comissão já exigiu a outras companhias, algo que poderia condicionar a capacidade de recuperação da TAP.

A implementação rigorosa do plano de reestruturação é vital para a sobrevivência da TAP. Ramiro Sequeira
CEO interino da TAP
2 - Incertezas na retoma da aviação

A pandemia ainda não terminou, nem os efeitos negativos que tem tido sobre o setor da aviação, que prevê atingir o tráfego que tinha em 2019 apenas em 2023, segundo as projeções da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA, na sigla inglesa). Nas estimativas divulgadas em maio passado, a entidade aponta para que este ano o número de passageiros fique em 52% do total de 2019 e em 2022 chegue a 88%. Como as restantes companhias aéreas mundiais, a TAP tem sido impactada pelas restrições impostas pelos países para travar os contágios, o que levou, em fevereiro e março passados, a que a companhia tivesse operado apenas 7% da sua capacidade. Já em maio deste ano, de acordo com dados da Autoridade Nacional de Aviação Civil (ANAC), a TAP transportou mais 24% de passageiros do que no mês de abril, num total de cerca de 261 mil. Um número que revela um aumento de 2050% face a maio de 2020, mas que comparativamente com o mesmo mês de 2019 mostra ainda uma quebra de 83%. Em março, a TAP chegou a anunciar a intenção de operar 879 voos e 100 rotas por semana este verão, mas como tem alertado o seu CEO interino, Ramiro Sequeira, as projeções de retoma são incertas.

-83%Passageiros
A TAP transportou em maio mais 24% de passageiros do que em abril. Face a maio de 2019 a queda é de 83%.
3 - Conseguir lucros em 2025

Sem a retoma da operação e sem reestruturação, a TAP não pode aspirar a conseguir resultados. Em 2020, devido à pandemia, a companhia aérea apresentou prejuízos históricos de 1.230 milhões de euros (12 vezes mais do que as perdas de 106 milhões de euros registadas em 2019), depois de forçada em março a aterrar a sua frota, resultando numa queda das receitas a pique. Já no primeiro trimestre deste ano a transportadora perdeu 365,1 milhões de euros pelo impacto da covid-19, que "continuou a atrasar a recuperação da procura, com um aumento dos casos e novas restrições nas viagens", justificou no comunicado em que revelou as contas de março. O cenário do Governo é que a TAP tenha perdas acumuladas de receitas no montante de 6,7 mil milhões de euros até 2025, ano em que, segundo o plano de reestruturação entregue a Bruxelas, a companhia terá de apresentar lucros. Com as incertezas da retoma, a transportadora vai redimensionar-se, cortando custos, desde logo, com trabalhadores e frota. A meta assumida é de uma redução acumulada da massa salarial de 1,4 mil milhões de euros e da diminuição do número de aviões de 108 para 88.

Prejuízo da TAP está em linha com tudo o que está a acontecer na Europa. Pedro Nuno Santos
Ministro das Infraestruturas
4 - Assegurar paz social

A TAP conseguiu, em fevereiro passado, fechar acordos de emergência com todas as estruturas representativas dos trabalhadores para reduzir custos até 2024. A generalidade dos profissionais aceitou cortes salariais de 25%, mas no caso dos pilotos a redução acordada chega aos 50% este ano. Os entendimentos, que a administração da companhia e o Governo consideraram "históricos", prometiam assegurar a paz social durante o período em que a transportadora terá o plano de reestruturação para concretizar. Os acordos permitiram atenuar, mas não compensar na totalidade, o número inicial de 2.000 trabalhadores em excesso na empresa, levando a TAP a avançar com um processo de medidas de adesão voluntárias, como rescisões amigáveis, reformas antecipadas e pré-reformas ou trabalho a tempo parcial. O grupo assegurou assim nova redução dos seus quadros, mas manteve-se ainda com mais de 200 trabalhadores em excesso, aos quais comunicou já a sua saída do regime de lay-off para poder avançar para um despedimento coletivo em julho. A primeira ameaça à paz social já partiu do sindicato dos pilotos que, ao Expresso, deixou claro que se a TAP despedir pilotos haverá uma guerra judicial.

200Despedimentos
A TAP prepara-se para avançar com um despedimento coletivo em julho de mais de 200 trabalhadores.
5 - Resistir à pressão da concorrência

A pressão concorrencial das "low-cost" não é novidade para a TAP, que mesmo na pandemia continuou a sentir a guerra comercial. Mas além da concorrência de preços, estas companhias contestam as ajudas públicas atribuídas e pressionam para que seja forçada a uma redução de "slots" (faixas horárias nos aeroportos), o que no caso de Lisboa poderia pôr em causa o seu modelo de "hub". A Ryanair apresentou quase duas dezenas de recursos judiciais contra as ajudas públicas dadas às companhias europeias, entre as quais a TAP, que viu, neste processo, ser dada razão à "low-cost" irlandesa pelo Tribunal de Justiça da União Europeia em maio. Os efeitos da anulação do aval da Comissão à ajuda de 1.200 milhões de euros à TAP estão para já suspensos. Também o diretor-geral da Easyjet Portugal admitiu, em entrevista ao Jornal Económico, estar muito atento a tudo o que são ajudas do Estado "para que elas sejam adequadas e equilibradas para não distorcer o mercado", avisando que, se a TAP não tiver de reduzir "slots" no quadro da reestruturação, a Easyjet terá "não só de se queixar, mas também de alertar as entidades responsáveis para o que seria uma forma de distorcer o mercado".

Se a TAP não tiver redução de ‘slots’, temos de nos queixar e alertar entidades responsáveis. José Lopes
CEO da Easyjet Portugal
6 - Empresa pública, pressão política

A TAP voltou no ano passado a ser controlada pelo Estado, que passou a ter 72,5% do capital, e poderá, na sequência da conversão de parte ou da totalidade do auxílio entregue em 2020 de 1.200 mil milhões de euros, passar a ter "90 e muitos por cento" da "holding" da transportadora aérea de bandeira portuguesa, ficando Humberto Pedrosa e os trabalhadores com participações residuais. Se até ao deflagrar da pandemia e à saída de David Neeleman a gestão da companhia estava entregue aos privados, a ajuda pública desencadeou uma maior intervenção do poder político, designadamente do ministro Pedro Nuno Santos, que abriu logo a porta de saída ao então CEO, Antonoaldo Neves. Desde essa altura têm sido várias as suas intervenções públicas sobre a TAP, seja na qualidade de ministro seja na de representante do acionista Estado, o que já levou a que alguns o apelidassem mesmo de CEO da companhia aérea. Só nos últimos meses envolveu-se em polémica com a Ryanair, indignou-se com o polémico vídeo de responsáveis dos recursos humanos gravado em Espanha e pronunciou-se sobre os despedimentos coletivos na empresa. Um papel interventivo que pode não ser bem recebido pela nova equipa de gestão.

72,5Estado
A TAP voltou no ano passado para o controlo público, com o Estado a assegurar 72,5% do capital.

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