Notícia
O que leva a Microsoft a comprar o LinkedIn?
A Microsoft decidiu comprar a rede social LinkedIn. Que interesse tem a tecnológica na rede social? Na imprensa, há quem defenda que com a operação a Microsoft vai ganhar alcance em termos de conteúdos profissionais.
A Microsoft vai comprar a rede social LinkedIn por mais de 23 mil milhões de euros. Os conselhos de administração das duas companhias já deram o seu aval, faltando agora o sinal positivo dos reguladores. De acordo com o Seatle Times, a empresa liderada por Jeff Weiner tem mais de 433 milhões de utilizadores ao nível mundial e recebe dois terços da sua receita a partir da unidade que ajuda os recrutadores a encontrarem e a entrarem em contacto com os potenciais candidatos a um posto de trabalho. No ano passado, o LinkedIn teve receitas de 2,99 mil milhões de dólares – 2,65 mil milhões de euros.
Porquê adquirir o LinkedIn?
A pergunta a que muitos tentam responder prende-se com o descobrir do interesse da Microsoft no LinkedIn. Na carta que enviou aos funcionários da rede social, Satya Nadella (ao centro na foto), CEO da Microsoft, sublinha que, nos últimos dez anos, a tecnológica empreendeu a transformação do Microsoft Office de um conjunto de ferramentas de produtividade para uma plataforma de serviços na "cloud" (nuvem). "Este negócio vai ser o próximo passo para o Microsoft Office 365 e para o Dynamics [linha de software da Microsoft destinado a empresas] na medida em que os ligamos com a maior e mais valiosa rede profissional – o LinkedIn", referiu.
Já na missiva enviada aos funcionários da Microsoft, o líder da tecnológica apontou que as duas empresas "perseguem uma missão comum centrada na capacitação das pessoas e das organizações". "Juntamente com o novo crescimento comercial do Office 365 e do negócio do Dynamics, este negócio é fundamental para a nossa ambição de reinventar a produtividade e os processos de negócio".
Na imprensa, a TechCrunch considera o negócio vantajoso para ambos os lados. No caso da tecnológica fundada por Bill Gates, a aquisição dá-lhe uma peça em falta na sua estratégia de construção de mais serviços para empresas. O "LinkedIn vai dar à Microsoft um grande alcance em termos de redes de serviços no social e de conteúdos profissionais – desenvolvendo os sinais iniciais de uma empresa de redes sociais que arrancou com a compra da Yammer por 1,2 mil milhões de dólares em 2012", escreve o TechCrunch. A Yammer é uma rede social que visa impulsionar a cooperação entre funcionários e que foi vendida à Microsoft em 2012. Além disso, as ligações do LinkedIn vão fornecer um canal de vendas mais amplo à Microsoft. Ou um complemento à oferta que a tecnológica já tem disponível.
Por outro lado, para a rede social, segundo o TechCrunch, esta operação coloca um ponto final nas questões que eram levantadas sobre como ia a empresa competir com as companhias que cada vez mais desenvolvem software em paralelo com as suas características de rede social.
A revista norte-americana Inc enumera três motivos que justificam o apetite da Microsoft pelo LinkedIn. O primeiro é que a Microsoft pode incorporar o LinkedIn no Windows como um serviço. Em segundo lugar, a gigante tecnológica pode incorporar o LinkedIn no Microsoft Office. E, por último, a tecnológica pode usar os dados que o LinkedIn tem para informar de uma estratégia de produto.
23 mil milhões é muito?
A Microsoft vai pagar 26,2 mil milhões de dólares – mais de 23 mil milhões de euros – pelo LinkedIn. Se é muito ou não, as opiniões dividem-se.
do Office 365 e do negócio
do Dynamics, este negócio
é fundamental para a nossa ambição de reinventar
a produtividade e os processos de negócio. Satya NadellaCEO Microsoft
De acordo com um comentário de Brooke Sutherland, colunista da Bloomberg, esta compra é cara e estabelece um padrão elevado para a gigante tecnológica fundada por Bill Gates provar que o valor compensa. E explica porquê. Estes mais de 26 mil milhões de dólares são cerca de 91 vezes o EBITDA do LinkedIn no ano passado.
Nas operações de fusão e aquisição anteriores, a Microsoft tinha desembolsado, em média, nos maiores negócios, 34 vezes o EBITDA. Além disso, os analistas estimam que o EBITDA do LinkedIn, este ano, ascenda a cerca de mil milhões de dólares – quase quatro vezes mais que o valor de 2015. A somar a isto está o facto de as perspectivas apontarem para um crescimento das receitas do LinkedIn, em 2016, a um ritmo mais lento da história da empresa.
Mas nem todos os agentes de mercado estão tão cépticos em relação ao valor que a tecnológica vai pagar. Mark May, analista do Citi, numa nota aos clientes, citada pelo Market Watch, sustenta que "o racional da estratégia faz sentido". "O LinkedIn foi, durante algum tempo, ‘o livro de endereços do Outlook' para muitos profissionais de negócios. Há provavelmente novas formas da Microsoft poder integrar/estender este 'franchise' ao detê-lo".
Brad Reback, analista da Stifel, citado pela mesma publicação, aponta que a tecnológica pagou "um preço justo por um activo único que seria muito difícil replicar organicamente". O responsável acredita mesmo que este negócio vai gerar várias formas de a Microsoft criar receitas que justifiquem o valor do negócio.
Porquê recorrer a empréstimos?
A Microsoft tem mais de 100 mil milhões de dólares em dinheiro ou equivalentes, sendo que a maioria desse montante está fora dos Estados Unidos. Ou seja, tem cerca de quatro vezes mais o valor necessário para concretizar a operação, ainda assim, e segundo a Bloomberg, a empresa liderada por Satya Nadella vai recorrer a um empréstimo para financiar a transacção.
A decisão pode estar relacionada, segundo a Bloomberg, com aspectos fiscais, já que este empréstimo permitirá à Microsoft baixar de forma significativa a carga fiscal. Segundo cálculos da agência de informação, a gigante tecnológica pode evitar pagar 35% da taxa de imposto para repatriar o dinheiro que está no estrangeiro, repatriamento que seria necessário para pagar o LinkedIn.
Por outro lado, socorrendo-se de um empréstimo, a companhia pode deduzir o pagamento de juros, reduzindo assim o valor dos impostos futuros. Financiando grande parte da operação com recurso ao empréstimo, a Microsoft pode poupar cerca de nove mil milhões de dólares na factura de IRC.