Perfil
O engenheiro do algoritmo
Arlindo Oliveira, de 60 anos, dedica-se há 40 à ciência do algoritmo. Licenciado em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores pelo Instituto Superior Técnico (IST) e doutorado pela Universidade da Califórnia, em Berkeley, é professor catedrático do IST e preside ao Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores (INESC). Tem desempenhado funções ligadas à ciência e tecnologia, fazendo parte do Conselho Consultivo do Painel para a Ciência e Tecnologia do Parlamento Europeu, mas não só. Tem fascínio pela ficção científica. No universo dos livros, Jorge Luis Borges e Richard Dawkins são as principais referências.
Como tecnologia disruptiva, a inteligência artificial tem gerado acesos debates em todo o mundo. Em entrevista ao Negócios, Arlindo Oliveira defende que as empresas portuguesas e, em última instância, a economia têm muito a ganhar com o seu uso, sobretudo no domínio da competitividade. Para o professor do Instituto Superior Técnico e autor de "Inteligência Artificial", publicado em 2019, a destruição de emprego é uma falsa questão.
Que impacto pode a inteligência artificial ter nas empresas?
Pode ter um impacto muito significativo. Estes modelos de linguagem [como o ChatGPT] permitem-nos, basicamente, comunicar com os computadores em língua natural. Pelo que tarefas relativamente repetitivas (as chamadas funções recorrentes de colarinho branco), não diria totalmente mas em grande parte, vão poder ser feitas, a muito curto prazo, por sistemas de inteligência artificial.
Desse prisma há uma vantagem ao nível da produtividade, mas não tem subjacente um eventual efeito nocivo de destruição de emprego?
Há uma alteração significativa do lado da produtividade, sim, mas não vejo esse efeito nocivo. Neste momento, confrontamo-nos em Portugal com duas ameaças duplas: uma baixa produtividade, que tem sido tradicional no nosso país e uma enorme falta de recursos humanos. Portanto, o aumento da produtividade e a eventual baixa de necessidade de recursos humanos vai, pelo contrário, libertar as nossas empresas para conseguirmos gerar mais valor. E não me parece muito provável que venha a ter um impacto muito significativo no emprego porque, atualmente, o nosso problema é justamente uma grande procura das empresas por recursos humanos qualificados que não existem.