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Blockchain pode ser "acelerador de convergência" entre países pobres e ricos

O blockchain, tecnologia que permite transferir e salvaguardar dados de transações entre duas partes, pode facilitar a inclusão financeira de milhões de pessoas no mundo que não têm acesso a contas bancárias, mas também tem riscos ligados à ética e transparência.

Lusa
13 de Setembro de 2019 às 10:11
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As vantagens e riscos desta tecnologia estão a ser debatidos no Forum da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) dedicado exclusivamente a este tema, que decorre entre hoje e sexta-feira, em Paris. Esta tarde, numa conferência organizada por Jorge Moreira da Silva, diretor da Cooperação para o Desenvolvimento da OCDE, a utilidade do blockchain foi debatida no âmbito da ajuda internacional.

 

"O blockchain, como todos os processos de disrupção tecnológica, abre oportunidades, mas também envolve riscos. O que interessa valorizar para a área do desenvolvimento sustentável é a dimensão que pode ter como um acelerador da convergência dos países mais pobres com os países mais ricos", disse o antigo ministro português do Ambiente em declarações à agência Lusa, à margem da conferência "Blockchain para o Desenvolvimento Sustentável: Estamos a deixar alguém para trás?".

 

Na perspetiva da cooperação e do desenvolvimento, segundo os oradores da conferência, o blockchain já está a servir como verificador de transações em termos energéticos, com experiências piloto em África e também como sistema de transferência de dinheiro sem os custos adicionais dos métodos utilizados convencionalmente.

 

"Quando falamos do potencial desta tecnologia, falamos de mil milhões de pessoas que não têm bilhetes de identidade, os 2,5 mil milhões que não têm acesso a eletricidade e todos os refugiados do Mundo que perderam acesso aos seus documentos e às suas contas bancárias", lembrou Jane Thomason, CEO da empresa Fintech Worldwide e uma das oradoras deste painel.

 

Este papel foi também reforçado por Bernhard Kowatsch, diretor de inovação do Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas.

 

"Uma das formas como o blockchain já está a ser utilizado é que as pessoas que precisam estão a receber diretamente as verbas através deste método e a gastá-lo em alimentos em lojas que aceitam estes pagamentos. Já ajudamos cerca de 100 mil pessoas nestas condições. E ao usarmos este método estamos a evitar pesadas taxas bancárias associadas a transferências internacionais", relatou Kowatsch, também orador na conferência.

 

Um exemplo que nem sempre é visível quando se fala sobre blockchain. "Há uma diferença enorme entre o que as pessoas pensam que é o blockchain e o que ele já é. As criptomoedas, incluindo a discussão sobre a libra [criptomoeda que está a ser desenvolvida pelo Facebook], é uma pequena parte daquilo que representa o potencial da tecnologia. O blockchain já está a ser utilizado para produção de eletricidade descentralizada em África", referiu Jorge Moreira da Silva.

 

No entanto, as polémicas da criptomoeda acabam por contagiar as outras utilizações do blockchain. Esta manhã, Bruno Le Maire, ministro das Finanças francês, disse no Forum da OCDE que não aceitaria a Libra, criptomoeda ligada ao Facebook, na Europa por receio de se querer sobrepor à soberania do Estado em termos financeiros.

 

Ric Shreves, diretor de tecnologias emergentes da Mercy Corps, uma organização não-governamental que integra o Conselho de Impacto Social da Libra, e que interveio nesta conferência referiu que a Libra obedece a determinadas regras de transparência.

 

"Somos muitas vezes acusados de participarmos numa lavagem humanitária da Libra e de ser um projeto controlado pelo Facebook e esse não é o caso, a associação está estruturada de uma forma a que toda a gente tem um voto na matéria", lembrou Ric Shreves.

 

O orador disse ainda que o debate sobre esta moeda vem também mostrar as desigualdades no acesso ao sistema bancário atual. "Se nada mais, a Libra mostra que o sistema bancário mundial não está a servir toda a gente. A regulação financeira e os bancos centrais precisam repensar o que estão a fazer e ter em conta os problemas de toda a gente", concluiu.

 

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