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GetSocial: cair duas vezes, levantar três
No mundo do empreendedorismo, a morte de start-ups não é um acontecimento inédito. Mas a história da GetSocial não é sobre morte. É sobre aprender a dar a volta por cima.
A primeira vez que publicámos um trabalho com a GetSocial foi em Fevereiro de 2014. Naquela altura, a GetSocial tinha "nascido" há poucos meses, sendo descendente da Wishareit, um projecto que falhou. Mais de dois anos depois, a GetSocial continua a chamar-se GetSocial. Mas já não é a mesma.
"Uma coisa que contamos sempre é que a GetSocial nasceu no final de 2013 como evolução de um outro projecto. Todo o processo de criação da nova empresa foi condicionado por essa situação. Tínhamos outra start-up, a Wishareit, que ajudava as pessoas a encontrarem os melhores presentes. Quando criámos a GetSocial, o objectivo foi: pegar na Wishareit e fazer isto para empresas. O nosso ‘pitch’ [apresentação] era: vamos ajudar as empresas a ajudarem os seus consumidores a encontrarem os presentes para a família e amigos", conta ao Negócios João Romão (na foto), CEO da GetSocial.
Durante mais de quatro meses, a equipa desta start-up trabalhou nesta transformação. Chegaram a realizar alguns projectos-piloto. Mas, reuniões atrás de reuniões mostravam algo diferente à equipa liderada por João Romão: o caminho, novamente, não era aquele. "Falhámos bastante mais depressa do que tínhamos falhado na Wishareit. Descobrimos depois que o produto - ainda acredito que fosse bastante válido - tinha problemas na venda. Não era uma necessidade óbvia para as empresas de e-commerce". Além disso, era uma solução que precisava de ser instalada por técnicos, o que se revelou mais um entrave.
Por isso, em Maio de 2014 tomaram uma decisão. "Dissemos: já passámos por isto, vamos falar com os investidores, com a equipa e vamos dizer que não vamos fazer mais isto e vamos para outra coisa".
Olharam para o produto e perceberam que havia uma característica que era muito usada e que estava relacionada com a partilha. "Resolvemos criar um produto à parte que respeitasse todos os problemas que tínhamos identificado até então: fosse fácil de instalar, mobilizar e que tivesse um valor específico", deixando o foco de estar no comércio online para passar a estar no tráfego gerado. O objectivo é perceber se o produto está a chegar ao público deles e como podem optimizar isto. E a mudança começou.
Com uma ferramenta que ajuda as empresas a medirem a eficácia dos conteúdos - e com isso permitir a geração de mais negócio para essas mesmas empresas -, os clientes-alvo da GetSocial passaram a ser os editores, os jornais e revistas e também páginas corporativas. "Lá para o final de Agosto, Setembro [2014] lançámos este produto novo e foi uma diferença da noite para o dia. Chegámos ao final desse ano com cerca de 500 sites a utilizarem-nos. No final de 2015, fechámos com, talvez, 35 mil /40 mil". No final de Maio deste ano, a empresa contava já com mais de 90 mil sites a utilizaram o produto da start-up.
"Em 2014, começámos com uma característica. Hoje temos um enquadramento que chamamos os quatro A’s: começa na activação, depois passa para a análise, para a automação e amplificação". Foi sendo dado um passo a seguir ao outro. As necessidades dos clientes foram sendo ouvidas.
"Lançámos a parte analítica a meio do ano passado, para ajudá-las [as empresas] a perceberem o impacto, em cada artigo, em cada rede social, que aquela audiência está a ter, o que permite perceber em tempo real que conteúdo está a ficar viral. E depois ajudar-nos na terceira parte: automação. Ao sabermos que este conteúdo está a ficar viral podemos ajudar as marcas a publicarem a história certa, no momento certo, e para a audiência certa. O que traz de volta a primeira promessa que é vamos ajudar a aumentar o tráfego".
Aprender a superar as dificuldades
Durante este caminho, houve situações que foram complicadas de lidar. João Romão conta que a empresa "só não fechou porque tínhamos o apoio dos nossos investidores" mas, "para mim, fechámos".
Mas o que foi mais difícil nestes últimos anos? "Mais difícil é explicar a alguém que convenceste a largar o seu trabalho para vir trabalhar contigo e quatro ou cinco meses depois dizer: errei, por isso, vais ter de ir embora. É horrível. Não recomendo a ninguém. E é parte da razão pela qual continuamos a ser quatro ou cinco". A GetSocial chegou a contar com uma equipa de quase uma dezena, mas com as mudanças no negócio, o número de funcionários teve de ser reduzido.
Actualmente, a start-up conta com cerca de 800 clientes pagantes e com 80% da facturação a ser oriunda de fora do continente europeu. Com uma equipa menor do que outrora, a start-up prepara-se para angariar financiamento. O montante deverá ser de cerca de um milhão de dólares. Por esta altura, a empresa é "auto-sustentável" o que "é um marco importante".
Vai procurar financiamento para "não ficarmos limitados, a dizer: não vamos crescer mais". "Neste mercado, sentimos que já validámos de certa forma alguma parte do conceito mas precisamos de expandir o negócio para depois" levantar uma ronda de financiamento mais elevada. "O investimento é para garantir que nos próximos 12 a 18 meses conseguimos continuar a crescer bem na facturação mas, idealmente, com a equipa a crescer", conclui.