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O gestor de sucesso que ignora os seus accionistas para os tornar ricos
"Os accionistas vêm em último", disse o carismático Matsumoto, numa entrevista em Tóquio. "É realmente o melhor para eles."
Quando Akira Matsumoto fala, os investidores escutam cada palavra com atenção. E isto é o que Matsumoto lhes diz: vocês são menos importantes do que todos os demais.
O diminuto executivo de 71 anos pode fazer isso devido ao seu status no mundo dos negócios no Japão, onde é conhecido pelas duas décadas de sucesso a gerir grandes empresas. No grupo de alimentos Calbee, por exemplo, Matsumoto quase duplicou as vendas e multiplicou o lucro operacional por seis em nove anos no cargo. As acções afundaram quando os investidores descobriram que estava de saída.
Mas Matsumoto não corresponde a esse amor, pelo menos na aparência. Os donos das acções, diz, vêm em quarto lugar na sua lista de prioridades, depois dos clientes, dos funcionários e da comunidade em geral. Ignorando-os -- e concentrando-se no bem maior da empresa -- ele responde às necessidades dos accionistas.
"Os accionistas vêm em último", disse o carismático Matsumoto, numa entrevista em Tóquio. "É realmente o melhor para eles."
A postura parece ir contra toda a tradição do capitalismo de mercado. É também uma visão relativamente comum no Japão. Os bilionários empreendedores Kazuo Inamori, fundador da Kyocera, e Shigenobu Nagamori, que criou a Nidec num barracão ao lado da fazenda da mãe e a transformou numa empresa de 41 mil milhões de dólares, manifestaram opiniões semelhantes, talvez porque o seu sucesso como líderes empresariais permita que digam o que outros guardam para si.
Mas no caso de Matsumoto, o sentimento tem raízes nos EUA. Mais especificamente, na Johnson & Johnson, onde Matsumoto trabalhou antes de se juntar à Calbee. A declaração de valores da empresa de saúde também coloca os clientes em primeiro lugar, seguidos dos funcionários, da comunidade e, por último, dos accionistas. "Eu respeito isso e jamais me desviarei disso enquanto viver", disse Matsumoto.
Segundo o executivo, colocar os donos das acções em primeiro lugar sempre gerou problemas para as empresas.
"Pensar apenas nos accionistas é o mesmo que pensar apenas no resultado final, e isso leva a todos os tipos de escândalos", disse. "Se realmente acredita que os accionistas são importantes, precisa administrar a empresa" ao estilo da Johnson & Johnson, disse.
É claro que alguns accionistas não ficam muito felizes ao saberem que são os últimos da fila.
"Recebo sempre reclamações", disse Matsumoto. Mas "nunca pedi para os accionistas comprarem acções. Eu digo-lhes que essa é a política com a qual opero. Digo que realmente acredito nessa política e que se eles também acreditam, devem comprar acções. Se não gostarem, que vendam."
Ainda assim, muitos investidores não têm nenhum problema com os métodos de Matsumoto.
"O histórico dele merece aclamação", disse Mitsushige Akino, executivo da Ichiyoshi Asset Management em Tóquio. "Não me importo que ele deixe os accionistas para último e não em primeiro lugar. Se ele consegue resultados, isso já significa colocar os accionistas em primeiro lugar."
Matsumoto estudou na prestigiada universidade de Kyoto, onde em 1972 tirou um mestrado em agricultura, tendo trabalhado na corretora Itochu Corp. Entrou para a unidade nipónica da Johnson & Johnson em 1993 e chegou a presidente em 1999, tendo desempenhado o cargo durante nove anos. Foi depois nomeado chairman e CEO da Calbee em 2009.
As acções da Calbee dispararam mais de seis vezes desde que Matsumoto ajudou a companhia a entrar na bolsa em 2011. E registaram uma queda recorde nos dois meses posteriores a Março deste ano, quando anunciou a demissão.
Dois meses mais tarde, o cobiçado CEO surpreendeu o Japão quando anunciou que tinha aceite o cargo de chief operating officer (COO) da Rizap Group, um operador de ginásios que ficou conhecido pela publicidade nas televisões com celebridades, antes e depois de um intenso programa de dois meses de treino. Com a liderança do CEO Takeshi Seto, também ganhou fama pelas aquisições efectuadas. Tem agora um valor de mercado de 3,6 mil milhões de dólares.
Se muitos ficaram surpreendidos, Matsumoto não vê nada de estranho na alteração da sua carreira e de reportar a um CEO que tem idade para ser seu filho.
"É como ter uma caixa de brinquedos", comenta a propósito da oportunidade de descobrir coisas novas sobre as empresas que Seto comprou. E "eu prefiro trabalhar discretamente nos bastidores".
Artigo original: The Star Businessman Who Ignores His Investors to Make Them Rich