Notícia
Recomeçar com um balanço de ano
O começo de um Ano Novo é uma boa oportunidade para balanços, para se olhar para trás, analisar o passado e projectar o futuro. Que foi efectivamente feito? A que se dedicou tanto tempo e empenho? Que meios foram empregues? Quais os...
A realização pessoal vai muito para além do sucesso profissional. Dois filmes ilustram esta realidade e desfazem equívocos.
O começo de um Ano Novo é uma boa oportunidade para balanços, para se olhar para trás, analisar o passado e projectar o futuro. Que foi efectivamente feito? A que se dedicou tanto tempo e empenho? Que meios foram empregues? Quais os resultados?
O trabalho é um factor primordial na realização do indivíduo como pessoa. Desenvolve as suas capacidades. Cria um espaço de colaboração com outros na construção de actividades de maior alcance. Pode fomentar a criatividade e a inovação. O esforço investido poderá proporcionar uma satisfação pelo sentimento de "dever cumprido". No entanto, a realização pessoal vai mais além da realização profissional.
Para quê lutar a todo o custo por conseguir determinada posição na hierarquia, ou receber um ordenado "chorudo" para depois se reparar que não é nem o cargo, nem o dinheiro, o factor determinante para se ser bem sucedido na vida?
Nos dois filmes analisados há uma tónica comum reflectindo a nossa época: qual o sentido da vida. Nos dois casos, há imprevistos e dificuldades. A pessoa é confrontada consigo própria. Que fazer? Vale a pena agir correctamente mesmo sendo mais árduo o caminho? Não seria melhor "facilitar" como tantos fazem? Dar "o golpe" de vez em quando, só para "desenrascar" um problema sem "prejudicar" ninguém?
O valor de alguém vê-se nos momentos difíceis. Aí é que se "joga" o que uma pessoa realmente pretende da vida. Nessas ocasiões adquire então um novo peso algo tão simples mas às vezes tão esquecido como "os outros". Não é por acaso que estes dois filmes tocam na questão do equilíbrio emocional e familiar como factor de realização pessoal. Também nós ao fazermos um balanço como no final de um filme, teremos de pesar quais as "cenas" que nos marcaram e que gostaríamos de rever no conjunto de toda a obra.
O valor de alguém vê-se nos momentos difíceis. Aí é que se "joga" o que uma pessoa realmente pretende da vida. |
Para quê lutar a todo o custo por conseguir determinada posição na hierarquia, ou receber um ordenado "chorudo" para depois se reparar que não é nem o cargo, nem o dinheiro, o factor determinante para se ser bem sucedido na vida?
Nos dois filmes analisados há uma tónica comum reflectindo a nossa época: qual o sentido da vida. Nos dois casos, há imprevistos e dificuldades. A pessoa é confrontada consigo própria. Que fazer? Vale a pena agir correctamente mesmo sendo mais árduo o caminho? Não seria melhor "facilitar" como tantos fazem? Dar "o golpe" de vez em quando, só para "desenrascar" um problema sem "prejudicar" ninguém?
O valor de alguém vê-se nos momentos difíceis. Aí é que se "joga" o que uma pessoa realmente pretende da vida. Nessas ocasiões adquire então um novo peso algo tão simples mas às vezes tão esquecido como "os outros". Não é por acaso que estes dois filmes tocam na questão do equilíbrio emocional e familiar como factor de realização pessoal. Também nós ao fazermos um balanço como no final de um filme, teremos de pesar quais as "cenas" que nos marcaram e que gostaríamos de rever no conjunto de toda a obra.
"A Estrada"
Realizador: John Hilcoat
Actores: Viggo Mortensen; Charlize Theron; K. Smit-McPhee
Música: Nick Cave; Warren Ellis
Duração: 110min.
Ano: 2009
Cormac McCarthy é um escritor com várias obras transpostas para cinema, como "Este país não é para velhos". Em 2006 publicou "A estrada", vencendo o prémio Pulitzer e cuja adaptação cinematográfica estreia agora em Portugal.
Depois de uma catástrofe apocalíptica num futuro em que tudo fora destruído, poucas pessoas sobrevivem no planeta. Um pai e um filho tentam salvar-se. Têm um objectivo: caminhar para sul e chegar à costa. As dificuldades são muitas: incêndios e tremores de terra, chuva, frio e um persistente ar carregado. Não se vislumbram animais vivos. A comida escasseia e a fome uma constante. Além disso, dos poucos que sobrevivem, alguns organizam-se em hordas selváticas que subjugam os outros. É a lei do mais forte em vigor. Precisam de fugir, de estarem atentos, tentando controlar o rumo da situação.
O pai procura por todos os meios proteger o garoto. Ficamos a saber em flasback que a mulher desistira, abandonando-os desesperada pois não conseguia viver mais. Mas o homem quis continuar. Possuía a esperança em seguir uns princípios aos quais ser fiel. Quer transmitir à criança uma centelha de um mundo melhor e isso motiva-o. O filho observa o que o rodeia, incluindo o exemplo do pai. É possível de facto ser bom? Num tempo actual onde impera o relativismo a questão é colocada directamente, de um modo ingénuo mas autêntico.
Quando chega ao fim, o homem sente que cumprira a sua missão. A criança também sente e sabe isso. Valera a pena tanto esforço. Não é um final é antes um outro começar.
Tópicos de análise
• Cada um constrói a sua realização pessoal com as decisões que toma.
• Ser coerente a princípios e atitudes forja um carácter que outros seguirão.
• É motivador ter um objectivo e lutar por ele, procurando atrair os demais.
"O Visitante"
Realizador: Thomas McCarthy
Actores: Richard Jenkins; Haaz Sleiman
Música: J. A. P. Kaczmarek
Duração: 104min.
Ano: 2007
Um filme nomeado para os óscares do ano passado, retratando um professor universitário mais velho, viúvo, com uma carreira consolidada. Cumpre o seu dever com rigor. Assume uma postura fria e firme. Sabe o que quer. Vive de hábitos consolidados que lhe concederam resultados comprovados. O seu filho já formado vive noutra cidade.
A certa altura pedem-lhe na faculdade para ir dar uma conferência a Nova Iorque. Protesta. Não estava programado. Acaba por ceder. Ao chegar ao apartamento que possuía nessa cidade, repara com espanto que estava ocupado por um jovem par de imigrantes ilegais. Expulsa-os. Arrepende-se e deixa que lá fiquem até encontrarem um novo local. O rapaz era músico. Inveja-o, pois sempre ambicionara tocar algo. A rapariga vendia bijuterias na rua. Com o passar do tempo vão-se conhecendo melhor. Aprende a tocar com o rapaz. Participa no congresso mas sem entusiasmo começa a interrogar-se sobre o que fazia.
Um dia o seu novo amigo imigrante é preso. A rapariga nada pode fazer. Ele vai envolvendo-se cada vez mais para libertar o rapaz. Aparece a mãe dele. Fala com ela. Percebe melhor o que se passa, mas desconfia de algo. Procura ajudá-los. Uma mentira estava na base de tudo, mas ele não o sabia. Começa a redescobrir a sua sociabilidade. A música atrai-o e experimenta tocar... De repente, o rapaz é expulso e devolvido ao seu país de origem. A mãe vai com ele e então, o filme em vez de ser mais uma abordagem sobre a imigração, toca na verdadeira questão pondo o "dedo na ferida": que sentido tivera o seu trabalho ao longo da vida? Só vendo.
Tópicos de análise
• Enganar-se e enganar os outros é inconsistente a longo prazo.
• A realização pessoal não se esgota no triunfo profissional.
• Um trabalho que estagne na rotina empobrece as capacidades pessoais.