Notícia
"Este é o tempo certo para poupar e investir"
António Murta já esteve por trás da criação de sete empresas, que continuam todas em actividade. E pode haver mais projectos a caminho.
12 de Março de 2009 às 16:23
António Murta acredita que as empresas portuguesas da área dos produtos podem crescer por aquisição no mercado internacional. Na área dos serviços, refere que a tendência é para os bons projectos portugueses acabarem incorporados em gigantes externos.
No mundo do empreendedorismo, há quem critique este tipo de negócios, em que as empresas portuguesas verdadeiramente inovadoras são vendidas, isto em vez de serem elas as compradoras. Seria possível ter uma Enabler ou uma Mobicomp a comprar empresas lá fora ou é utópico?
Não seria possível com toda a certeza no mundo dos serviços - a menos que numa área altamente especializada e por um período de tempo limitado. É possível nos produtos; é desejável nos produtos. Bons exemplos disso mesmo são a Altitude, a Alert e a WeDo. A WeDo já fez aquilo a que você chamou 'utópico' - comprar 'n" empresas lá fora.
Portugal terá algum dia capacidade para ter empresas tecnológicas a crescer através de aquisições no exterior ou a tendência será a de incorporação das empresas portuguesas em "gigantes" externos?
A tendência maior será sempre a segunda. É natural. Não somos diferentes de todos os outros. Sobretudo agora que o mercado de ofertas públicas iniciais não existe. Mas vejo a possibilidade de empresas de produto crescerem a partir de Portugal. Num sector completamente diferente, tenho enorme admiração por aquilo que Álvaro Portela fez e faz na SonaeSierra. A par da Cimpor, a SonaeSierra é das poucas multinacionais criadas a partir de Portugal. Mais, fê-lo num negócio que exige muito capital - sempre com criatividade e com alto valor percebido - e com parceiros ao mais alto nível do mundo. É pena que não hajam muitos casos. Contam-se pelos dedos.
Voltando ao espírito criativo e empreendedor, quão difícil é fazer com que uma nova empresa se torne realmente bem-sucedida em Portugal? Quais são os obstáculos e os estímulos existentes no mercado para os empreendedores portugueses?
O grande obstáculo é assumir que o mercado português quase não existe, é muito pequeno, e tirar daí as devidas ilações. Estamos condenados a exportar - não é uma opção, é uma obrigação nacional. O estímulo mais importante é, sem dúvida, a qualidade dos profissionais de tecnologia produzidos em Portugal - falo no Minho, Porto, Aveiro, Coimbra, IST - e a empatia dos portugueses no contacto com outras culturas. É igualmente muito positivo ver o trabalho feito, primeiro pelo Diogo Vasconcelos ainda no último Governo PSD, e depois pelo Carlos Zorrinho neste Governo. Não podemos ficar alheios aos sinais de confiança que recebemos.
Vivemos dias de crise. Há quem diga que são os momentos ideais para o surgimento de novos empreendedores. É da mesma opinião?
Sou da opinião que este é o tempo certo para poupar e para investir. Há uma equação fundamental na economia: "savings=investment". Só se investe o que se poupa. Não acredito em soluções de 'dinheiro fácil'. Foi o 'dinheiro fácil' que nos trouxe aqui. Não vai ser ele que nos vai tirar daqui. Se quiser, sendo conservador, acredito mais no Hayek que no Keynes, sendo simplista. Acho que esta é a altura certa para investir. Mais, nós precisamos, como de pão para a boca, de atitude de investimento por oposição a atitudes de consumo. A diferença é que, no investimento, esperam-se retornos - com um grau de risco. Infelizmente, ouço falar muitas vezes em investimento que, como não tem retorno, são meras opções de grande consumo. Por mim, prefiro o investimento.
No mundo do empreendedorismo, há quem critique este tipo de negócios, em que as empresas portuguesas verdadeiramente inovadoras são vendidas, isto em vez de serem elas as compradoras. Seria possível ter uma Enabler ou uma Mobicomp a comprar empresas lá fora ou é utópico?
Não seria possível com toda a certeza no mundo dos serviços - a menos que numa área altamente especializada e por um período de tempo limitado. É possível nos produtos; é desejável nos produtos. Bons exemplos disso mesmo são a Altitude, a Alert e a WeDo. A WeDo já fez aquilo a que você chamou 'utópico' - comprar 'n" empresas lá fora.
Portugal terá algum dia capacidade para ter empresas tecnológicas a crescer através de aquisições no exterior ou a tendência será a de incorporação das empresas portuguesas em "gigantes" externos?
A tendência maior será sempre a segunda. É natural. Não somos diferentes de todos os outros. Sobretudo agora que o mercado de ofertas públicas iniciais não existe. Mas vejo a possibilidade de empresas de produto crescerem a partir de Portugal. Num sector completamente diferente, tenho enorme admiração por aquilo que Álvaro Portela fez e faz na SonaeSierra. A par da Cimpor, a SonaeSierra é das poucas multinacionais criadas a partir de Portugal. Mais, fê-lo num negócio que exige muito capital - sempre com criatividade e com alto valor percebido - e com parceiros ao mais alto nível do mundo. É pena que não hajam muitos casos. Contam-se pelos dedos.
O grande obstáculo é assumir que o mercado português quase não existe, é muito pequeno, e tirar daí as devidas ilações. Estamos condenados a exportar - não é uma opção, é uma obrigação nacional. O estímulo mais importante é, sem dúvida, a qualidade dos profissionais de tecnologia produzidos em Portugal - falo no Minho, Porto, Aveiro, Coimbra, IST - e a empatia dos portugueses no contacto com outras culturas. É igualmente muito positivo ver o trabalho feito, primeiro pelo Diogo Vasconcelos ainda no último Governo PSD, e depois pelo Carlos Zorrinho neste Governo. Não podemos ficar alheios aos sinais de confiança que recebemos.
Vivemos dias de crise. Há quem diga que são os momentos ideais para o surgimento de novos empreendedores. É da mesma opinião?
Sou da opinião que este é o tempo certo para poupar e para investir. Há uma equação fundamental na economia: "savings=investment". Só se investe o que se poupa. Não acredito em soluções de 'dinheiro fácil'. Foi o 'dinheiro fácil' que nos trouxe aqui. Não vai ser ele que nos vai tirar daqui. Se quiser, sendo conservador, acredito mais no Hayek que no Keynes, sendo simplista. Acho que esta é a altura certa para investir. Mais, nós precisamos, como de pão para a boca, de atitude de investimento por oposição a atitudes de consumo. A diferença é que, no investimento, esperam-se retornos - com um grau de risco. Infelizmente, ouço falar muitas vezes em investimento que, como não tem retorno, são meras opções de grande consumo. Por mim, prefiro o investimento.