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"As pessoas não têm que descobrir tudo por si próprias"

A Associação Empresarial de Portugal vai lançar um curso a pensar nos empresários de PME que não têm formação académica. Luís Valente de Oliveira, um dos responsáveis desta iniciativa, que arranca em Outubro, fala ao IN sobre o curso e aborda os...

"As pessoas não têm que descobrir tudo por si próprias"
30 de Julho de 2009 às 16:12
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A Associação Empresarial de Portugal vai lançar um curso a pensar nos empresários de PME que não têm formação académica. Luís Valente de Oliveira, um dos responsáveis desta iniciativa, que arranca em Outubro, fala ao IN sobre o curso e aborda os temas que agitam o dia-a-dia das PME.


O vosso curso é para empresários de PME sem formação superior. O que vale uma licenciatura para quem está à frente de uma empresa?
Vale como preparação geral. Agora, não é garantia de que haja uma característica imprescindível, que é o empreendedorismo.

Metade das empresas criadas em Portugal entre 2002 e 2005 foram lançadas por empresários apenas com o ensino básico. Apenas 16% das novas empresas é que foram lançadas por pessoas com formação superior. Como olha para estes dados?
Isso é vulgar. Quando se conhece bem o tecido empresarial do Norte, temos a sorte de ter muita gente com impulso para empreender. Ou por imitação, ou porque está pouco contente com o que tem, ou porque acha que é capaz de fazer melhor... Tudo isso é impulso para fazer por si próprio. Isso é inestimável.

E qual é o impacto que tem na economia ter esse perfil de empresas e empreendedores?
É exactamente por isso que fazemos este curso, para que as pessoas não tenham que descobrir tudo por si próprias. É algo que surge como alternativa ao autodidactismo. E como já estiveram expostas à profissão, estas pessoas trazem experiências muito interessantes para todos os que estão na sala de aula. E é um curso feito durante um fim-de-semana por mês.

Os empresários têm sensibilidade para a importância da sua própria formação?

Este é o momento adequado para se fazer um curso destes. Se é numa época em que toda a gente ganha muito, as pessoas perguntam 'para quê aprender se eu estou a ganhar muito dinheiro?'. Neste momento, não - as pessoas estão com dificuldades. Se se ensinarem caminhos mais curtos, caminhos que fazem com que o esforço seja mais económico, eu suponho que eles entenderão. Esta é a época em que os empresários estarão psicologicamente mais abertos para entender a necessidade de uma formação.

E o que é preciso ensinar aos empresários das PME em Portugal?
Depende. O curso pretende transmitir o geral: estratégias de 'marketing'; investimento e estratégia empresarial; gestão de operações e qualidade; entender a conjuntura internacional; compreender a exportação e os novos mercados; compreender como se aborda o mercado internacional; finalmente, estudar a gestão e motivação das pessoas.

As aulas são um espaço habitual para se falar de boas práticas e de "case studies". Se lhe perguntasse quais são exemplos de boas PME para se discutir numa sala de aulas, quais são as empresas em que pensa?
Há muitos bons exemplos. YDreams, Critical Software, a Mar Kayaks ou a Petratex. E o que é que elas fizeram? Viram nichos, apostaram em tecnologia, fazem aquilo melhor que ninguém e por isso têm mercados relativamente cativos. Mas têm que ter a certeza que há outros a olhar para elas e para a forma como fazem os seus produtos - logo, nunca se deve adormecer.

Como olha para a forma como as PME portuguesas estão a responder à crise?

As PME têm que se inserir cada vez mais, seja por parcerias, seja por fusões, por aquisições... Têm que estar cada vez mais a olhar para mercados exteriores. Se não tiverem dimensão, devem ir à luta em conjunto com outras. Têm que ter dimensão na forma de atacar o mercado. Se eu faço cadeiras e se sou bom afazer cadeiras, não faço mesas, mas posso juntar-me a quem faz mesas, para depois atacar o mercado com o 'kit' completo.

Há PME que se queixam do comportamento da banca nestes dias difíceis. Pelo que sabe e vai vendo, como é que a banca se tem comportado com os empresários das PME?
A banca também está a lutar com grande falta de meios. Quando tinha muitos meios, o que era preciso era emprestar, para ganhar dinheiro. Agora, com ela própria a lutar pelos meios, está a ter um comportamento mais selectivo. Nada de anormal nesse comportamento.

O curso vai explorar ensinamento ao nível dos instrumentos alternativos de financiamento, como garantia mútua, sistema de incentivos ou capital de risco?
Os novos produtos financeiros têm que ser ensinados.

Às vezes, os empresários não têm conhecimento dessas alternativas...

É verdade. Essa observação faz-me dizer algo em que acredito há muitos anos: a informação tem que ser sempre superabundante. Não chega dizer 'já disse isso na televisão'. E aqueles que não tiveram tempo para olhar para a televisão? A informação tem que ter várias redes.

Mais do que nunca, parece que as PME entraram definitivamente no léxico dos políticos. Mas os políticos conhecem mesmo as PME do País?
Têm que conhecer.

Mas conhecem? Uma coisa é ter que conhecer, outra é conhecer de facto...

Acabam por conhecer, porque a PME está ao virar da esquina. Se formos comprar o jornal a uma tabacaria, aquela é uma pequena empresa; vamos a uma livraria de bairro, ela é uma pequena empresa; vamos ao café, é uma pequena empresa. As pessoas têm que estar sensibilizadas.

E o que é que o País tem feito pelas suas PME, politicamente falando?

Há muito tempo que há o IAPMEI. As pessoas sabem que o grosso do emprego está nas PME. Não há nenhum plano que não referencie as PME. As PME não foram descobertas agora. Talvez se fale mais nelas, porque a situação é mais difícil.

Perfil

Engenheiro condecorado
Engenheiro de formação, foi condecorado diversas vezes. Entre outras distinções, Luís Valente de Oliveira já recebeu a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo (Portugal - 2004) e a Grã-Cruz da Ordem do Infante (Portugal - 1980). Nasceu em S. João da Madeira, em 1937, e já passou por alguns governos. Foi ministro da Educação e Investigação Científica (1978/79), ministro do Planeamento e Administração do Território (1985-1995) e ministro das Obras Públicas, Transportes e Habitação (2002/2003). Integra actualmente a estrutura da Associação Empresarial de Portugal. É ainda membro do conselho directivo da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento e membro não-executivo do conselho de administração da Mota-Engil. No currículo, conta com passagens pela presidência da mesa da assembleia-geral do Banco Comercial Português, e pelo conselho de administração da Fundação de Serralves, entre outros cargos. Publicou mais de duas dezenas de livros e mais de duas centenas de artigos sobre matérias da sua especialidade académica, entre quais "Esquemas Teóricos e Modelos de Estruturas Espaciais Urbanas", "Bloco de Notas sobre o muito que devemos fazer para preparar o futuro" ou "Regionalização".
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