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Empreender nos bancos da escola

A oferta de empreendedorismo não se limita aos adultos. Várias escolas do país, desde o 1º ciclo do Ensino Básico até ao ensino secundário, têm já os seus alunos a aprender conceitos básicos sobre o que é ser empreendedor, o que é...

18 de Junho de 2009 às 15:02
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Em algumas escolas do país, o ensino do empreendedorismo começa cedo, desde os primeiros anos de escolaridade obrigatória. Empresas como a GesEntrepreneur ou a associação Aprender a Empreender são responsáveis por projectos que abrangem alunos do 1º ciclo ao Ensino Secundário e onde a preocupação é não só transmitir conceitos, mas também desenvolver projectos práticos

A oferta de empreendedorismo não se limita aos adultos. Várias escolas do país, desde o 1º ciclo do Ensino Básico até ao ensino secundário, têm já os seus alunos a aprender conceitos básicos sobre o que é ser empreendedor, o que é um plano de negócios e mesmo a testar na prática as suas ideias de negócio. A iniciativa parte das câmaras municipais ou das escolas, que recorrem a serviços de empresas ou associações vocacionadas para o ensino do empreendedorismo.

Miguel Gonçalves
Ensina o método aprender fazendo
A GesEntrepreneur é um desses casos. Nasceu no âmbito de um grupo empresarial, que conta por exemplo com a GesVenture, uma empresa de capital de risco que se apercebeu da necessidade de apostar na educação para que pudesse existir massa crítica e bons projectos para apoiar. Ou seja, "era preciso alimentar um ciclo de aposta na inovação", explica Miguel Gonçalves, managing director da GesEntrepreneur.

Aperceberam-se que 95% da formação em empreendedorismo baseava-se no ensino sobre como fazer planos de negócios, centrada na alfabetização financeira e muito técnica. "São conceitos importantes, mas não fazem de nós empreendedores", afirma Miguel Gonçalves. A alternativa foi virarem-se para o estrangeiro e importar um novo método de ensino. Fizeram uma parceria com o canadiano Chris Curtis para aplicar em Portugal o método do 'learn by doing' (aprender fazendo).

Um método que se centra no desenvolvimento das características necessárias para ser empreendedor, divide o processo em pequenos passos, facilmente atingíveis, um ensino capaz de se adaptar às várias formas de aprendizagem e baseado na experiência, explica Miguel Gonçalves.

O trabalho desde 2006, altura da criação da GesEntrepreneur, tem-se centrado na formação de professores de todas as áreas de ensino, criação e implementação de projectos em escolas e até já realizaram campos de férias centrados no empreendedorismo.

Joana Loureiro
Vai às escolas explicar como é ser empreendedor
No ano lectivo que está prestes a terminar, estão presentes em 13 concelhos do norte a sul do país, cobrem 334 escolas e 6.583 alunos desde o 1º ciclo do ensino básico até ao final do secundário. Mas também já fizeram formação a reclusos, no âmbito do trabalho de reinserção social, a jovens à procura do primeiro emprego e a desempregados.

O ensino do empreendedorismo nas escolas não tem um padrão fixo. Cada caso é um caso. No início do ano, directores de turma, professores e alunos, juntamente com as equipas que fazem formação em empreendedorismo, discutem qual o melhor método a desenvolver durante o ano.
Um método que até pode ser diferente de turma para turma dentro da mesma escola. Muitas vezes acaba por ser integrado nas Áreas de Projecto, mais transversal, e implica que os alunos tenham de desenvolver ideias de negócio durante o ano lectivo.

É assim no trabalho da GesEntrepreneur, mas também da associação Aprender a Empreender. Esta associação nasceu a partir de uma congénere americana criada em 1919, a Junior Achievement, que procura "promover os valores do empreendedorismo na escola através de voluntários que vêm do mundo do trabalho", explica Joana Loureiro, directora-geral da associação. A formação é feita por voluntários das empresas que apoiam a associação - e que incluem, por exemplo, a Microsoft, a HP, a Accenture ou o Millennium bcp - e que se disponibilizam para ir às escolas durante o ano lectivo.

Bernardo Serra Lopes
Aposta em ser empreendedor no negócio da arte
No caso da Aprender a Empreender, o trabalho vai também desde o ensino básico ao secundário, havendo também alguma formação no ensino superior, com programas adaptados a cada idade e sempre com actividades lúdicas incluídas. No 1º ciclo combinam com o programa com o professor e a formação inclui a ida dos voluntários à escola cinco a seis vezes por ano, no 3º ciclo a formação é feita geralmente no âmbito da Área Projecto, o mesmo acontecendo com o ensino secundário.

Neste caso, o projecto tem um nome: "A Empresa" e significa que, durante um ano lectivo, os alunos têm de criar uma ideia de negócio, ir buscar capital, organizar feiras, um processo que vai até à liquidação da empresa. Os alunos participam, depois, num concurso de âmbito nacional que elege a melhor ideia e essa ideia representa o país no Junior Achievement da Europa. Este ano, o projecto vencedor chama-se "Do a Deal" e consiste na criação de um jogo informático que se destina a gerir um orçamento familiar.

Os projectos da Aprender a Empreender são a custo zero para as escolas, - a associação vive dos recursos disponibilizados pelas empresas associadas e das parcerias com as câmaras municipais - e, este ano, o trabalho envolveu 20 mil alunos de 250 escolas, em 30 concelhos do país. Ao todo, a associação conta com o trabalho de 1.300 voluntários.

Galeria para invisuais vence concurso
Bernardo Serra Lopes tinha uma ideia de negócio. A ideia surgiu quando via na televisão anúncios sobre cães guia que orientavam pessoas cegas e pôs-se a pensar o que não está acessível a estas pessoas. Sendo um aluno de artes, a ideia de que não podem usufruir das peças de arte foi imediata. E que tal criar uma galeria de arte para invisuais? As bases sobre como criar o projecto de uma empresa e tornar-se um empreendedor, tinha-as da Escola Secundária de Cascais onde recebeu formação através da GesEntrepreneur. E a forma de testar que a ideia era mesmo boa surgiu este ano quando a Câmara Municipal de Cascais lançou um concurso para os alunos do concelho, em parceria com a DNA Cascais. Aluno do 12º ano avançou sozinho e acabou mesmo por vencer o concurso. Basicamente, a ideia é criar uma galeria de arte onde são expostas obras de arte recriadas e criadas com relevos, texturas e até odores para que as pessoas invisuais possam "criar uma relação com a arte", explica Bernardo Serra Lopes. No fundo, "ligar uma vertente educativa com a arte." Está a pensar na recriação de obras de arte famosas, como por exemplo uma Mona Lisa, mas também propor a pintores conhecidos, e não só, que criem quadros a pensar neste conceito. A rentabilização do negócio viria do preço fixo de entrada e até mesmo de visitas de grupo. E não está pensar que o seu público seria apenas aqueles que não conseguem ver. "Para qualquer pessoa que não seja invisual pode ser uma aventura fazer, por exemplo, um percurso com uma venda nos olhos", explica o aluno da Escola Secundária de Cascais, que até já teve quem se mostrasse interessado em apoiar a ideia. Agora está em época de exames e a ideia vai ficar em 'stand-by', mas o objectivo é dar os passos que aprendeu nas aulas de empreendedorismo: avançar para a criação de um plano de negócio e testar a sua ideia.
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