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Desafios profissionais de "mochila às costas"

Respondem à ambição de expansão das empresas que os empregam, na mesma moeda, e deixam para trás família e amigos e, muitas vezes, o "conforto cultural" do país de origem perante um desafio profissional no estrangeiro. Mas, embora se apontem alguns sacrifícios, as mais-valias parecem levar a melhor.

17 de Junho de 2010 às 11:14
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Respondem à ambição de expansão das empresas que os empregam, na mesma moeda, e deixam para trás família e amigos e, muitas vezes, o "conforto cultural" do país de origem perante um desafio profissional no estrangeiro. Mas, embora se apontem alguns sacrifícios, as mais-valias parecem levar a melhor.

Eleonora Silva cruzou o Atlântico há um ano por proposta do seu empregador Efacec para alavancar o negócio nos Estados Unidos em busca de mais conhecimento e de uma maior responsabilidade profissional. Na lista de desejos desta viagem até ao estado da Georgia, levava também a vontade de "alargar horizontes" ao contactar com outra cultura e experiência de vida, missiva que considera como um dos principais desafios para quem, como ela, parte para um país estrangeiro para trabalhar.

"O que custa mais é aprender os hábitos mais comuns ou o comportamento social adequado, de forma a não cometer gafes, especialmente, em ambiente profissional".

Que o diga Pedro Leite, há um ano e oito meses a viver em Macau a convite da Dão Sul e que desde muito novo sempre quis internacionalizar a carreira. "Como estudei também em Itália e na Polónia este desejo de conhecer melhores práticas de gestão internacionais ficaram mais fortes. Iniciei o programa INOV Contacto pela Dão Sul na China em Macau e aceitei o desafio que me foi lançado desde então".










Carlos Lucas, administrador e enólogo da Dão Sul

"A política da Dão Sul é premiar a deslocalização. No entanto, temos exemplos que colaboradores que estiveram em escritórios no estrangeiro e que depois foram convidados a fazerem parte da equipa em Portugal".






Dão Sul
Premiar a deslocalização

Os colaboradores que abraçam novas experiências fora do país são recrutados pela Dão Sul tanto internamente como externamente, através de jornais da especialidade. "Ainda recentemente colocámos vários colaboradores no estrangeiro, no âmbito do Inov Contacto, e que acabaram por ficar com contrato na empresa", faz questão de salientar Carlos Lucas, mostrando que uma aposta forte da empresa na internacionalização do negócio.

O administrador e enólogo da Dão Sul garante que a política da empresa é efectivamente "premiar a deslocalização", mas admite que há colaboradores que estiveram em escritórios no estrangeiro e que foram posteriormente convidados a fazerem parte da equipa em Portugal.

Analisando os benefícios de uma experiência profissional deste género, os colaboradores só terão a ganhar.

"Têm acesso a experiências e realidades diferentes da portuguesa, aprendendo a lidar com novas perspectivas comerciais e sociais, conhecendo o mercado por dentro e não apenas como visitante regular, integrando-se na comunidade local".

O que faz a Dão Sul
Criada em 1989 a Dão Sul/ Global Wines tem como missão a divulgação dos vinhos do Dão a nível nacional e internacional.
A empresa possui actualmente escritórios no Brasil (São Paulo e Recife), Angola (Luanda) e na China (Macau).




Estar a trabalhar no mercado asiático "é, sem dúvida, um enorme desafio". É muito diferente do que estar deslocalizado na Europa, pois as regras, os hábitos, a forma de estar e de ser, e as situações são muito diferentes, já para não falar na distância ou mesmo no fuso horário. Mas o que mais custa são as saudades. "Saudades da família, dos amigos, de um carro só para nós, do céu limpo, e de alguma comida portuguesa", aponta Pedro Leite, admitindo ao mesmo tempo que actualmente até tem mais dificuldade em comer de talheres do que com pauzinhos.

Bastante mais perto, em Madrid, Patrick Fonte persegue as mesmas ambições e partilha de problemas idênticos, embora a adaptação pareça ter sido mais facilitada. Dado que os escritórios de Espanha da Vilt, empresa para a qual trabalha, conta com vários portugueses, a adaptação ao grupo de trabalho e às suas metodologias foi rápida e simples. "Inclusivamente em breve disporemos de um plasma que nos mostra em tempo real o ambiente de trabalho do escritório de Lisboa e vice-versa, para criar ainda maior proximidade entre as pessoas independentemente do escritório onde se encontram".

A maior dificuldade nestes dois anos como gestor de projecto em Espanha foi mesmo estar longe da namorada, família e amigos mais chegados por períodos longos. Mas há compensações. "A experiência de viver noutra capital europeia, de maior dimensão, onde tenho acesso a todo o tipo de eventos culturais e lúdicos foi outro aspecto que me cativou particularmente".









Ana Cristina Lança, directora de gestão estratégica de recursos humanos e de Comunicação da Efacec

"É fundamental existir uma grande clareza quanto à selecção dos colaboradores cujos perfis pessoais e profissionais tenham características de excelência para a concretização do projecto de internacionalização".




Efacec
Recrutamento com regras bem definidas

No seu esforço de recrutamento para as empresas que mantém no exterior a Efacec segue alguns procedimentos. A selecção é feita de três formas: localmente (quando existem quadros com formação e experiência adequada), internamente (mobilidade interna) ou através de recrutamento em Portugal e após a formação necessária na unidade de negócio respectiva.

"É fundamental existir uma grande clareza quanto à selecção dos colaboradores cujos perfis pessoais e profissionais tenham características de excelência para a concretização do projecto de internacionalização", considera Ana Cristina Lança.

A directora de gestão estratégica de RH e de Comunicação diz existir também uma grande preocupação com a preparação do futuro expatriado quanto aos aspectos culturais e da língua mãe do país de destino. "E esta preocupação é extensível à preparação da família, quando esta acompanha o expatriado, o que a Efacec privilegia muitíssimo. O facto de em 2007 termos ganho o Prémio da Empresa mais Familiarmente Responsável em Portugal não é, com certeza, alheio a este e muitos outros aspectos".

O que faz a Efacec
Com mais de 100 anos de história, o Grupo Efacec actua nas áreas da Energia, Ambiente e Transportes e Logística.

A empresa marca presença em 65 países, focando a sua actividade em sete regiões prioritárias, onde pretende replicar as suas unidades de negócio: Estados Unidos da América; América Latina; Europa Central; Magrebe; África Austral; Espanha e Índia.




O factor económico, embora não tenha sido o principal motivo para aceitar o desafio, também teve naturalmente o seu peso.

Deslocalização motivada
Conscientes do atractivo dos desafios que oferecem aos seus quadros, mas também do compromisso que estes abarcam durante meses ou anos num projecto longe de casa, as empresas costumam dar benefícios a esses trabalhadores.

Além de uma ajuda de custo diária compensatória que pode representar até 100% sobre o vencimento anteriormente auferido, a Vilt garante ainda a estes funcionários pelo menos dois voos mensais para Lisboa, bem como alojamento gratuito.

Adicionalmente, os colaboradores deslocados passam a estar incluídos no esquema de bónus da empresa onde estão inseridos.

Na Efacec a política de compensação resulta de "benchmarking" efectuado com as multinacionais, grandes "players" mundiais das áreas de negócio da empresa. "Procuramos no entanto apoiar o melhor possível o expatriado, dando um grande ênfase ao apoio à família, quer ela fique no país de origem, quer, como verdadeiramente incentivamos, o acompanhe", refere Ana Cristina Lança, directora de gestão estratégica de RH e de Comunicação. A formação é também uma forma de apoio privilegiada pela empresa.

Aos colaboradores da Dão Sul colocados fora do país de origem são dadas regalias em termos financeiros e sociais. Os funcionários têm ainda ao dispor viagens para Portugal duas vezes por ano, alojamento financiado e condições tecnológicas para efectuar o seu trabalho remotamente.








Miguel Araújo, co-fundador e director executivo da Vilt

"Procuramos encontrar um equilíbrio entre o recrutamento local e a deslocalização de alguns funcionários com mais experiência e 'know-how' desde Portugal".




Vilt
Convites de sucesso

Tal como os três sócios fundadores da Vilt, cuja média de idades ronda hoje os 34 anos, a equipa da empresa em Portugal é extremamente jovem (mais jovem que os fundadores), o que permite uma agilidade de recursos interessados em ter uma experiência profissional a nível internacional. Prova-o a taxa de sucesso dos convites que tem estado acima dos 80%.

"Esta integração representa enormes benefícios, permitindo o enriquecimento profissional ao ter de abarcar novas metodologias de trabalho e desafios de um mercado diferente", salienta Miguel Araújo. O director executivo considera que este tipo de experiências é extremamente enriquecedor, já que os consultores portugueses têm a oportunidade de trabalhar com clientes como o Banco de España, a Telefónica, o LaCaixa, a Ibéria, a Bridgestone ou a T-Mobile. "Em alguns mercados, como por exemplo na Europa Central, existe maior rigor na estimativa e execução dos projectos, o que cria hábitos e metodologias de trabalho muito diferentes às pessoas que trabalham nesses projectos e naturalmente enriquece a Vilt enquanto empresa, que se ajusta a essas metodologias".

O que faz a Vilt
Fundada em 2002, a Vilt é uma empresa dedicada à concepção e desenvolvimento de soluções tecnológicas ECM (Enterprise Content Management), cujo objectivo é optimizar a gestão da informação numa organização. Para além de Portugal, onde conta com 30 consultores, a Vilt possui escritório em Madrid, Espanha, empregando actualmente 21 pessoas.




Bagagem mais volumosa no regresso
Abraçar um projecto profissional no estrangeiro tem normalmente prazo limitado, sendo por isso importante assegurar em que condições se fará o regresso à casa-mãe. Na Vilt fica sempre definido que o funcionário pode regressar à empresa de origem sendo-lhe garantidas "pelo menos" as mesmas condições e funções anteriores.

"No entanto, estes consultores depois de uma experiência destas saem naturalmente 'valorizados' do ponto de vista profissional, pelo que normalmente ao regressarem são reavaliados no que diz respeito às suas funções e vencimento", refere Miguel Araújo, co-fundador e director executivo da Vilt.

A garantia de reavaliação parece justificar-se, já que a valorização profissional é o motivo maior entre aqueles que partem para um país estranho a convite da sua entidade patronal.

Um "skills set" mais alargado, contacto com novas situações profissionais, maior conhecimento técnico, novas áreas de conhecimento e polivalência e mais vocabulário, nomeadamente técnico, numa outra língua, são alguns dos itens que Eleonora Silva vai trazer na bagagem quando regressar a Portugal, em Abril de 2011, depois de dois anos fora, numa "experiência de vida fantástica" que aconselha vivamente.

Patrick Fonte e Pedro Leite partilham da mesma opinião. "O que me agradou mais foi a experiência. Como um todo. A nível pessoal, pelas múltiplas amizades com pessoas de variadas nacionalidades que fiz e pelos muitos sítios que conheci. A nível profissional, pelo conhecimento e experiência que adquiri e pelo reconhecimento da empresa pelo trabalho que desenvolvi", refere o gestor de conta da Vilt.

Sem data de volta prevista, Pedro Leite aconselha a "internacionalização profissional" a todos os que gostem de desafios. "Embora não seja fácil assumir uma etapa da nossa vida numa área de desconforto, acredito que as dificuldades diárias são a chave para a aprendizagem abrindo o caminho ao sucesso. Que no fundo é o que todos nós procuramos".



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