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Conhaque é conhaque?

Jantares de negócios, acções de "team building" e outras iniciativas podem entrar em conflito com os compromissos pessoais dos colaboradores. Saiba como gerir estas situações.

06 de Março de 2009 às 11:42
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E se o seu chefe, no prazo de quinze dias, lhe marcasse três jantares com clientes da empresa e duas actividades de "team building" no fim-de-semana? Ainda que não conflituando com outros compromissos, poderia não ser uma situação agradável.

De facto, há vida para além do trabalho, sendo fundamental para a vida social - e imposto pela lei - que as pessoas disponham de tempo para si, para a família, para compromissos extra-laborais, o que ficaria condicionado se as empresas pudessem dispor de todo o tempo dos seus colaboradores, conforme as conveniências, ainda que proporcionando corridas de "karts" ou "paint-ball".

Muito se tem discutido recentemente o direito à desconexão dos trabalhadores, os quais, por força de Blackberrys e afins, cada vez têm mais dificuldade em separar trabalho e repouso. O que se passa nas actividades de "team building" é que as empresas tendem a considerar o tempo nelas empregue como tempo dos colaboradores, enquanto estes o consideram como tempo do trabalho ou da empresa. Já os jantares com clientes, sendo mais ou menos agradáveis, revestem-se de um cariz marcadamente profissional.

Em ambos os casos, trata-se de actividades, em princípio, fora do horário de trabalho e das respectivas funções, pelo que o colaborador pode invocar, legitimamente, qualquer dificuldade em comparecer, sem que lhe possam ser imputadas quaisquer consequências por esse facto. Também não valerá aqui, em princípio, a invocação da isenção de horário, já que esta está adstrita ao desempenho da actividade profissional, nos termos do artigo 155.º do Código do Trabalho, não servindo para tudo permitir.

A questão estará, portanto, em bem gerir a motivação dos colaboradores para participarem nestas actividades, todos sabendo que as mesmas se ligam directamente ao respectivo desempenho, de cujo nível poderão, aí sim, advir consequências.



Uma fronteira ténue
A fronteira entre o trabalho e a vida profissional é, por isso, cada vez mais ténue. Principalmente em funções de gestão, jurídicas, de cariz comercial e de administração muito se discute se se vive para o trabalho ou vice-versa.

Quem depende de objectivos e resultados a alcançar num espaço de tempo relativamente curto, possui, por norma, uma flexibilidade maior para compromissos extra-laborais. Para estes profissionais, o conceito de horário de trabalho tende a ser dependente da intensidade das oportunidades de "fazer negócios e parcerias" e tal suplanta outras prioridades.

Para outras funções, o conceito de horário de trabalho é bem mais valorizado nos seus limites (ou ausência deles). E neste caso podemos pensar no sector do retalho (onde os horários são rotativos), no sector secundário e mesmo no conceito de expediente no sector dos serviços.

A verdade é que, mesmo falando de acções de "team building", a maioria dos profissionais tende a percepcioná-las como uma ligação à empresa em horário de direito à desconexão. Isto acontece porque dependemos de hábitos e estes dependem da exigência. Mais facilmente conquistamos um hábito pessoal do que uma competência ou aprendizagem. E sempre que uma necessidade ou imposição laboral se substitui aos nossos hábitos pessoais e horários, tendemos sempre a senti-la como invasiva.

A utilização de ferramentas como "team building" e "outdoors" poderá representar um custo elevado para um departamento face ao retorno que produzirá. A sua utilização deverá ser ponderada face aos destinatários, época do ano de realização e que objectivos pragmáticos se retirarão dela.

Uma boa calendarização do evento, a correcta contextualização dos objectivos e mais-valias e uma valorização dos seus proveitos, minimizarão o sentimento de invasão da vida pessoal do colaborador. E estes ingredientes tanto se aplicam a uma acção de "team building" como a um jantar de negócios.



O que fazer

1 - Há actividades em que é difícil distinguir se estamos perante tempo de trabalho ou tempo de repouso, como jantares com clientes e encontros de "team building" promovidos pela empresa.


2 - Em princípio, tudo o que esteja fora do horário de trabalho e do âmbito de funções desempenhadas é extra-laboral, sendo legítima a recusa dos colaboradores em participar.


3 - Um bom planeamento e correcta estratégia de comunicação sobre o evento, incluindo a contextualização dos seus objectivos e mais-valias e uma valorização dos seus proveitos, minimizarão o sentimento de invasão da vida pessoal dos colaboradores, promovendo a adesão que é fundamental para o sucesso do mesmo.

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