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Como conquistar investidores internacionais
Quatro "start-ups" portuguesas vão receber investimento do Seedcamp, fundo de investimento europeu, e participar no programa de aceleração em Londres. Saiba o que mudou na vida dos promotores da CrowdProcess, Hole19, Qamine e SimpleTax desde que concorrem à iniciativa.
Anthony Douglas | O contacto com os mentores do Seedcamp melhorou a qualidade do projecto Hole19.
Jaime Jorge concorreu ao Seedcamp Lisboa duas horas antes de o prazo terminar. Quando soube que a Qamine tinha sido uma das 20 "start-ups" seleccionadas para participarem no evento, ficou satisfeito. Estava a um passo de entrar num dos programas de aceleração de empresas que mais admirava.
Duas semanas depois do evento lisboeta, em Dezembro, o engenheiro de "software" recebeu o telefonema que iria mudar a sua vida. O fundo de investimento europeu em "start-ups" tecnológicas britânico queria investir na Qamine e Jaime Jorge tinha até Janeiro para fazer as malas e mudar-se para Londres. Como reagiu? "Fartei-me de gritar", contou ao Negócios.
Das 20 empresas que participaram no evento, 13 eram portuguesas e três foram seleccionadas pelo júri para receberem investimento e integrarem o programa de aceleração em Londres. A Jaime Jorge, seguiram-se Pedro Fonseca e João Jerónimo, da CrowdProcess, e Anthony Douglas, da Hole19.
Quando os empreendedores chegaram à capital britânica, juntaram-se a Celso Pinto, da SimpleTax. A versão inglesa da Modelo3, primeira "start-up" tecnológica portuguesa a receber investimento e a ser integrada no Seedcamp, tinha sido seleccionada pelo fundo em Setembro, depois de o promotor ter participado num evento em Londres.
Três dias a discutir projectos
Desde 2010 que a Beta-i estava a tentar lançar o Seedcamp em Lisboa. Foi na segunda visita a Londres que os responsáveis desta associação sem fins lucrativos convenceram Philipp Moehring, responsável do fundo de investimento europeu, a conhecer a comunidade nacional de empreendedores.
Porquê tanta insistência? Porque "o Seedcamp é o maior programa de aceleração da Europa e foi um dos primeiros a investir nesta fase de 'seed' [capital inicial para projectos ainda numa fase embrionária, de protótipo]", explica Ricardo Marvão, da Beta-i.
Philipp Moehring chegou a Lisboa em Maio para participar no "Silicon Valley Sessions", a convite da associação de empreendedorismo. No final do evento, a boa nova chegou. O Seedcamp Lisboa iria acontecer, pela primeira vez, em Novembro de 2012. Das 200 candidaturas que a Beta-i recebeu, foram validadas 96 e, entre estas, foram seleccionadas vinte finalistas.
No primeiro dia do evento, os promotores apresentaram os projectos aos responsáveis do Seedcamp. Objectivo: tornar as apresentações mais apetecíveis aos cerca de 100 mentores e investidores que estariam presentes no dia seguinte. "Muitas das 'start-ups' que vieram no primeiro dia fizeram apresentações radicalmente diferentes a seguir", acrescenta Ricardo Marvão.
No segundo, cada equipa teve oportunidade de discutir o projecto com vários mentores e convencê-los de que merecia passar à fase final. É na última etapa do concurso que os projectos escolhidos pelo júri discutem, à porta fechada, a possibilidade recolherem investimento do fundo. "O normal é o Seedcamp investir 50 mil euros por 8% de capital social", conta Ricardo Marvão.
O Seedcamp vai regressar a Lisboa em Setembro de 2013, mas com contornos diferentes. Existirão dois eventos grandes, em Londres e Berlim, e nas restantes cidades é feita uma pré-selecção das empresas que podem participar. Só naqueles dois é que podem entrar na corrida pelo investimento. O período de candidaturas abre em Julho.
Proposta de valor clara
Pedro Rocha Vieira, presidente da Beta-i, comenta que a maior parte das "start-ups" portuguesas não sabe crescer bem, posicionar-se ou apresentar uma proposta de valor clara. "Há um trabalho muito grande nessa área, de haver melhores empreendedores, projectos mais bem estruturados, consciência daquilo é preciso para crescer rapidamente", acrescenta.
Quanto ao investimento, adianta que em Portugal há muito pouca capacidade de assumir riscos, mas que esta não é a preocupação mais importante. O acesso a redes, parceiros internacionais, "know-how" de operações a nível global e uma "proposta de valor boa" são fundamentais para fazer crescer a "start-up". E o que é uma proposta de valor boa? "É perceber o problema de um cliente e resolvê-lo, de forma única e clara, e que acrescente valor", conclui.
2. Seja pró-activo e fale previamente com os responsáveis do Seedcamp. Envie-lhes a sua apresentação e esclareça dúvidas.
3. Esforce-se por apresentar o projecto de forma original.
4. Apresente números, nem que sejam as tentativas que fez com potenciais clientes.
5. Pratique muito o "pitch" (apresentação) antes do evento.
6. Peça conselhos a mentores e empreendedores portugueses.
7. Não avance sozinho. Para Ricardo Marvão, o número mágico são três pessoas.
8. Leve a sua equipa ao evento. É importante que o júri conheça a equipa com quem pode vir a trabalhar.