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Começar de novo

Muitos empreendedores hesitam antes de lançar um negócio. Têm receio de falhar e de carregar esse estigma. Mas há quem já tenha fracassado antes de ter sucesso. A primeira história arranca em Dezembro de 2002. A bolha tecnológica não poupa vivalma e ficar imune à razia é graça divina. O português José Salcedo e mais uns pares, instalados em plena Silicon Valley, não são abençoados pelas graças de cima.

27 de Fevereiro de 2009 às 14:49
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Muitos empreendedores hesitam antes de lançar um negócio. Têm receio de falhar e de carregar esse estigma. Mas há quem já tenha fracassado antes de ter sucesso. A primeira história arranca em Dezembro de 2002. A bolha tecnológica não poupa vivalma e ficar imune à razia é graça divina. O português José Salcedo e mais uns pares, instalados em plena Silicon Valley, não são abençoados pelas graças de cima.

Cerca de meio ano após o lançamento da Multiwave Networks, perdem os investidores que permitiram o arranque da empresa com um capital de 22 milhões de dólares - a perspectiva do insucesso veio demasiado cedo. Hoje, o mesmo José Salcedo lidera um projecto sólido, com gabinetes em Portugal, Alemanha e Estados Unidos.

A segunda história remonta a finais da década passada. Há dez anos, o português Miguel Monteiro viu no Brasil o palco ideal para o seu projecto. Atravessou o Atlântico e juntou-se a uma equipa disposta a investir no "webmarketing". Dois anos após o lançamento da empresa, percebeu que o projecto não tinha rendibilidade e fechou portas. Hoje, Miguel Monteiro está envolvido em seis empresas estáveis.

Fronteiro do sucesso

A fronteira entre a insolvência e o sucesso é imprevisível - é só olhar em redor e ver o que está a suceder no mundo. O que é mais difícil é a atitude: seja a dos que experimentam o purgatório do falhanço - não é fácil resistir à adversidade e manter a perseverança -, seja a dos que assistem aos insucessos alheios - são muitos os que dizem que Portugal tem o "anátema do falhanço".

Cinco erros a evitar

Nunca subestimar a importância do plano de negócios como guia de orientação estratégica; Estudar bem o mercado para verificar se este, de facto, necessita dos produtos e serviços que vão ser lançados; Ponderar devidamente as competências dos parceiros e sócios, de modo a que o negócio possua uma gestão multidisciplinar; Encontrar meios de financiamento a médio/longo prazo, uma vez que dificilmente as empresas têm retorno para pagar financiamentos a curto prazo; Não constituir uma empresa com base num cliente único.

Este homens sobreviveram aos vislumbres do insucesso e perguntam: qual é o mal de errar, qual é o mal de falhar? E, fundamentalmente, perguntam: qual é o mal de arriscar? É que eles conseguiram. É o "Yes, we can" à portuguesa. "É preciso aceitar a dor inerente ao erro", diz Miguel Monteiro, que está em empresas como a Chip7 e a Seara. E dá o exemplo do alemão Adolf Merckle, que se suicidou no início do ano após perdas milionárias provocadas pela aposta errada na queda das acções da Volkswagen. Merckle era apenas o 94º homem mais rico do mundo na lista da Forbes. "O erro aumenta a probabilidade do sucesso", reforça Miguel Monteiro.

Harvard concorda. Segundo um estudo da escola de negócios norte--americana, a probabilidade de sucesso de alguém que está a lançar uma empresa e que teve projectos falhados no passado é de 22,1%. Entre os que estão a lançar uma empresa pela primeira vez, a probabilidade de sucesso é menor - situa-se nos 20,9%.

Pelo menos para Harvard, há mais-valias no falhanço. "As pessoas que falharam e que depois vencem são as detentoras do conhecimento mais valioso", defende José Salcedo.

Quando a bolha estourou

Regressamos a Maio de 2002. Então, a equipa fundadora da Multiwave Networks lança-se no mercado, após ter encontrado um conjunto de financiadores do universo de capitais de risco de Silicon Valley. A empresa consegue reunir 22 milhões de dólares para investir na sua actividade, centrada no desenvolvimento de produtos de fibra óptica para o universo das telecomunicações.

Mas depois vem o estouro definitivo da bolha tecnológica (que já tinha vertido águas anteriormente) e graves abalos bolsistas. Após perdas imensas num série de outros projectos, os investidores americanos da Multiwave Networks decidem sair da empresa e tirar o dinheiro. Em Dezembro de 2002, e ao levar por tabela da crise, o cenário mais provável é fechar - o que vem a suceder, mas com contornos particulares.

Inconformados com a eventualidade de um falhanço que não é da sua responsabilidade, os fundadores da empresa decidem comprar 100% do capital aos investidores. De seguida, refundam o projecto: fecham a Multiwave Networks e abrem uma nova empresa, a Multiwave Photonics, para onde transferem todo o património da anterior (nomeadamente as patentes).

Em Setembro de 2003, e por sua conta e risco, José Salcedo e respectiva equipa lançam-se novamente no mercado - é o segundo "round" da aventura. Durante ano e meio, não conseguem encontrar investidores.

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