Notícia
Alternext - À espera que a crise passe
Reforçar os capitais próprios, acrescentar visibilidade e abrir novas oportunidades de crescimento são alguns dos objectivos da bolsa das pequenas e médias empresas. Mas, apesar das vantagens para as empresas, a Alternext ainda não fala português.
06 de Janeiro de 2011 às 10:24
"Estamos à espera que as condições do mercado melhorem para avançarmos" é uma das frases mais ouvidas quando se fala da Alternext, a bolsa das pequenas e médias empresas. Vontade não falta, mas a crise económica veio estragar os planos a muitas empresas e lançar para dentro da gaveta os projectos de entrada no mercado de capitais.
É este o caso da Onebiz, para quem a dispersão em bolsa é apenas uma questão de tempo e oportunidade. "Há quase dois anos que temos tudo pronto, mas as condições do mercado não são as mais agradáveis", diz António Godinho, administrador da empresa.
Com o processo praticamente concluído, o grupo foi obrigado a cancelar todos os planos e a adiar a operação para mais tarde, já que a crise da dívida soberana resultou numa fuga de investimentos do país e tornou as ofertas públicas iniciais - assim se chama a operação de entrada em bolsa - menos atractivas. No entanto, o adiamento dos planos não é visto como algo necessariamente negativo pela empresa, uma vez que isto lhe permitiu amadurecer e estar agora mais consolidada e melhor preparada para o desafio. "Às vezes as coisas acontecem no momento em que têm de acontecer e não antes", refere António Godinho.
Olhando para o futuro, António acredita que 2012 será um bom ano para ponderar de novo a entrada no Alternext, que considera "um trampolim para o crescimento", pelo que permite em termos de abertura de capital, acesso a fontes de financiamento adicionais e oportunidades de internacionalização.
O selo de garantia dos mercados
Foi com estas vantagens em mente que a NYSE Euronext criou, em Maio de 2005, esta bolsa adaptada a empresas de média dimensão, que visa simplificar o acesso aos mercados de capitais, sem que a segurança dos investidores seja posta em causa. Mas a verdade é que nunca houve uma única empresa portuguesa a cotar na Alternext, isto apesar das vantagens que lhe são apontadas.
Conforme nota o administrador da Onebiz, a presença num mercado como o Alternext funciona como um selo de garantia para as pequenas e médias empresas, que são normalmente encaradas pelos potenciais investidores como familiares e pouco profissionalizadas.
Opinião semelhante tem Nuno Carvalho, que administra a Agriloja, uma retalhista especializada em agricultura e pecuária que também ponderou a entrada na Alternext. Entrar na Alternext "obriga as empresas a serem mais profissionais e andarem para a frente". E, numa altura em que os bancos se mostram pouco dispostos a emprestar, é muito importante encontrar outros mecanismos de obtenção de fundos.
Quando uma empresa quer crescer e precisa de aceder ao crédito, é importante apresentar-se perante as instituições financeiras com um certo equilíbrio entre o capital próprio e o capital alheio. "É uma questão de partilha de riscos e de dar alguma segurança aos bancos, porque também estamos a arriscar investimentos nossos", diz Nuno Carvalho.
Começar no Alternext nem sempre é o destino final
Com estes benefícios em mente, são várias as empresas que começam a olhar para o Alternext como uma opção vantajosa. Em Novembro deste ano, a NYSE Euronext, a Ernst & Young e o IAPMEI juntaram 20 empresas no IPO Retreat, uma iniciativa que vai já na quinta edição e que pretende dar a conhecer as vantagens de uma listagem em bolsa e clarificar os procedimentos que lhe estão associados. Um inquérito realizado junto das participantes do retiro apurou que 78% equacionavam uma entrada em bolsa, 15% das quais nos próximos 12 meses. Entre os principais factores para esta decisão estavam a busca de alternativas de financiamento e a vontade de expansão ou internacionalização, apontadas por 26% e 25% das empresas, respectivamente.
A Douro Azul, que participou numa destas iniciativas, foi outra das empresas cativadas pela ideia de se financiar através da bolsa. As ideias de expansão levaram a empresa de cruzeiros fluviais a equacionar a possibilidade de dispersar uma parte do seu capital na Alternext. Mas, depois de uma análise mais cuidadosa das condições do mercado, este acabou por se revelar apenas um primeiro passo que deu origem a aspirações maiores.
"Entretanto, achei que não fazia sentido entrar na Alternext, uma vez que já tínhamos cumprido as regras necessárias para estar presentes no mercado geral e isso não nos ia trazer mais encargos", recorda Mário Ferreira, líder executivo da Douro Azul. Com a contabilidade e os métodos de apresentação de resultados já dentro dos parâmetros internacionais, a empresa preferiu "ser a mais pequena entre os maiores do que a maior entre os mais pequenos".
Adoptar procedimentos mais saudáveis
Mas nem tudo são vantagens. Há também alguns deveres a cumprir pelos emitentes, que passam essencialmente pela qualidade da informação prestada: é obrigatória a apresentação de relatórios e contas semestrais e anuais, bem como a comunicação de todos os factos que possam influenciar o preço das acções e das participações qualificadas.
Para quem não está habituado a tantos preceitos, o processo de admissão à bolsa pode parecer complicado. Todavia, as empresas que já passaram por isso garantem que não é nenhum bicho-de-sete-cabeças.
"Não é tão complicado quanto isso", conta António Godinho, defendendo que se trata sobretudo da adopção de regras que deviam ser prática comum das empresas, como a apresentação de contas trimestrais e auditadas, e que podem obrigar as companhias a tornar-se mais transparentes e eficientes. "Isto deveria ser encarado como uma preocupação e não uma obrigação".
Já para Nuno Carvalho, a questão é mais psicológica do que formal. A maior parte das empresas ainda tem uma natureza familiar e "há, muitas vezes, o receio de abdicar de uma parte do controlo da empresa". Para Mário Ferreira, que esperava procedimentos mais burocráticos por parte das entidades oficiais, "não é pela Euronext que não há empresas portuguesas na Alternext".
Apesar das vantagens que lhe são apontadas um pouco por todo o lado, a verdade é que, das pouco menos de 170 empresas cotadas neste mercado, nenhuma é portuguesa. O desenvolvimento dos mercados durante o próximo ano deve ser crucial para a estreia das empresas portuguesas no Alternext, assim como os incentivos estatais, que tinham sido anunciados no Orçamento do Estado para 2010, e que devem ser adoptados só neste ano.
Incentivos à cotação devem avançar em 2011
É este o caso da Onebiz, para quem a dispersão em bolsa é apenas uma questão de tempo e oportunidade. "Há quase dois anos que temos tudo pronto, mas as condições do mercado não são as mais agradáveis", diz António Godinho, administrador da empresa.
Olhando para o futuro, António acredita que 2012 será um bom ano para ponderar de novo a entrada no Alternext, que considera "um trampolim para o crescimento", pelo que permite em termos de abertura de capital, acesso a fontes de financiamento adicionais e oportunidades de internacionalização.
O selo de garantia dos mercados
Foi com estas vantagens em mente que a NYSE Euronext criou, em Maio de 2005, esta bolsa adaptada a empresas de média dimensão, que visa simplificar o acesso aos mercados de capitais, sem que a segurança dos investidores seja posta em causa. Mas a verdade é que nunca houve uma única empresa portuguesa a cotar na Alternext, isto apesar das vantagens que lhe são apontadas.
Conforme nota o administrador da Onebiz, a presença num mercado como o Alternext funciona como um selo de garantia para as pequenas e médias empresas, que são normalmente encaradas pelos potenciais investidores como familiares e pouco profissionalizadas.
Opinião semelhante tem Nuno Carvalho, que administra a Agriloja, uma retalhista especializada em agricultura e pecuária que também ponderou a entrada na Alternext. Entrar na Alternext "obriga as empresas a serem mais profissionais e andarem para a frente". E, numa altura em que os bancos se mostram pouco dispostos a emprestar, é muito importante encontrar outros mecanismos de obtenção de fundos.
Quando uma empresa quer crescer e precisa de aceder ao crédito, é importante apresentar-se perante as instituições financeiras com um certo equilíbrio entre o capital próprio e o capital alheio. "É uma questão de partilha de riscos e de dar alguma segurança aos bancos, porque também estamos a arriscar investimentos nossos", diz Nuno Carvalho.
Começar no Alternext nem sempre é o destino final
Com estes benefícios em mente, são várias as empresas que começam a olhar para o Alternext como uma opção vantajosa. Em Novembro deste ano, a NYSE Euronext, a Ernst & Young e o IAPMEI juntaram 20 empresas no IPO Retreat, uma iniciativa que vai já na quinta edição e que pretende dar a conhecer as vantagens de uma listagem em bolsa e clarificar os procedimentos que lhe estão associados. Um inquérito realizado junto das participantes do retiro apurou que 78% equacionavam uma entrada em bolsa, 15% das quais nos próximos 12 meses. Entre os principais factores para esta decisão estavam a busca de alternativas de financiamento e a vontade de expansão ou internacionalização, apontadas por 26% e 25% das empresas, respectivamente.
A Douro Azul, que participou numa destas iniciativas, foi outra das empresas cativadas pela ideia de se financiar através da bolsa. As ideias de expansão levaram a empresa de cruzeiros fluviais a equacionar a possibilidade de dispersar uma parte do seu capital na Alternext. Mas, depois de uma análise mais cuidadosa das condições do mercado, este acabou por se revelar apenas um primeiro passo que deu origem a aspirações maiores.
"Entretanto, achei que não fazia sentido entrar na Alternext, uma vez que já tínhamos cumprido as regras necessárias para estar presentes no mercado geral e isso não nos ia trazer mais encargos", recorda Mário Ferreira, líder executivo da Douro Azul. Com a contabilidade e os métodos de apresentação de resultados já dentro dos parâmetros internacionais, a empresa preferiu "ser a mais pequena entre os maiores do que a maior entre os mais pequenos".
Adoptar procedimentos mais saudáveis
Mas nem tudo são vantagens. Há também alguns deveres a cumprir pelos emitentes, que passam essencialmente pela qualidade da informação prestada: é obrigatória a apresentação de relatórios e contas semestrais e anuais, bem como a comunicação de todos os factos que possam influenciar o preço das acções e das participações qualificadas.
Para quem não está habituado a tantos preceitos, o processo de admissão à bolsa pode parecer complicado. Todavia, as empresas que já passaram por isso garantem que não é nenhum bicho-de-sete-cabeças.
"Não é tão complicado quanto isso", conta António Godinho, defendendo que se trata sobretudo da adopção de regras que deviam ser prática comum das empresas, como a apresentação de contas trimestrais e auditadas, e que podem obrigar as companhias a tornar-se mais transparentes e eficientes. "Isto deveria ser encarado como uma preocupação e não uma obrigação".
Já para Nuno Carvalho, a questão é mais psicológica do que formal. A maior parte das empresas ainda tem uma natureza familiar e "há, muitas vezes, o receio de abdicar de uma parte do controlo da empresa". Para Mário Ferreira, que esperava procedimentos mais burocráticos por parte das entidades oficiais, "não é pela Euronext que não há empresas portuguesas na Alternext".
Apesar das vantagens que lhe são apontadas um pouco por todo o lado, a verdade é que, das pouco menos de 170 empresas cotadas neste mercado, nenhuma é portuguesa. O desenvolvimento dos mercados durante o próximo ano deve ser crucial para a estreia das empresas portuguesas no Alternext, assim como os incentivos estatais, que tinham sido anunciados no Orçamento do Estado para 2010, e que devem ser adoptados só neste ano.
Incentivos à cotação devem avançar em 2011
Levar as PME portuguesas ao mercado de capitais é um dos objectivos do Governo, de acordo com as Grandes Opções do Plano para 2010-2013. Uma das iniciativas "passa por estabelecer uma parceria entre o IAPMEI e a NYSE Euronext - Alternext Lisbon - com vista ao lançamento do mercado de capitais para empresas de pequena e média capitalização".
Aquando da divulgação das GOP, o Negócios apurou que, entre as medidas previstas, estava um fundo para dar liquidez às PME cotadas, bem como o financiamento do processo de admissão à bolsa. Do lado da fiscalidade, espera-se que sejam apoiadas tanto as empresas emitentes como os seus investidores, por via de deduções em sede de IRC e IRS, respectivamente.
Esta é uma intenção que estava já inscrita no Orçamento de Estado para 2010, mas acabou por não ser transposta para a forma de lei. A acreditar nas palavras do secretário de Estado adjunto da Indústria e do Desenvolvimento, em declarações recentes à Económico TV, isto é algo que deve acontecer no início de 2011. Os novos incentivos devem estar prontos "no início do próximo ano", referiu.
Aquando da divulgação das GOP, o Negócios apurou que, entre as medidas previstas, estava um fundo para dar liquidez às PME cotadas, bem como o financiamento do processo de admissão à bolsa. Do lado da fiscalidade, espera-se que sejam apoiadas tanto as empresas emitentes como os seus investidores, por via de deduções em sede de IRC e IRS, respectivamente.
Esta é uma intenção que estava já inscrita no Orçamento de Estado para 2010, mas acabou por não ser transposta para a forma de lei. A acreditar nas palavras do secretário de Estado adjunto da Indústria e do Desenvolvimento, em declarações recentes à Económico TV, isto é algo que deve acontecer no início de 2011. Os novos incentivos devem estar prontos "no início do próximo ano", referiu.