David Cristina tinha 30 anos quando regressou de um doutoramento na Universidade da Califórnia, São Francisco, nos Estados Unidos da América. Da experiência trouxe um diploma em Genética do Envelhecimento e vontade de lançar um negócio. Bastaram-lhe seis meses para encontrar o projecto certo. Dois anos depois, a Acellera Therapeutics conquistou o 11º Prémio do Jovem Empreendedor, promovido pela Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE).

David Cristina já era amigo de Marta Monteiro, 32 anos, há vários anos. Foi ela quem lhe abriu a porta para o projecto que está a revolucionar o universo das terapias médicas. Juntamente com Luís Graça, professor na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, tinham descoberto uma célula reguladora destinada ao tratamento da rejeição de transplante de fígado.

Juntou-se a vontade de David Cristina à ciência do professor e da aluna de pós-doutoramento do Instituto de Medicina Molecular e estavam encontrados os ingredientes certos para levar a Acellera Therapeutics avante.

"O projecto foi crescendo à medida que fazíamos o plano de negócio", explica o jovem, natural de Portimão, que já tinha o gene do empreendedorismo no sangue. "Na minha família, há vários empreendedores. O meu avô foi um empreendedor em série, fundou o Brandymel, no Algarve", explica. Mas não era o único. Também Marta Monteiro e Luís Graça sentiam esta vontade correr-lhe nas veias. A experiência de David Cristina em São Francisco aguçou-lhe o apetite.

Viver na mesma cidade que viu nascer empresas como a Apple ou a Genentech foi uma fonte de inspiração. Foi a conversar com amigos empreendedores que percebeu que não queria fazer da ciência a sua vida. E já que estava na cidade que apelidou de "fonte de empreendedores", porque não beber da sua água?

"Vinha com esta fisgada", diz. Agora, está encarregue da área de negócios da Acellera Therapeutics, mas os cargos ainda não estão definidos. Luís Graça é responsável pela parte científica do projecto, mais conceptual, e Marta Monteiro realiza e planeia as experiências. Juntos, dão vida ao projecto vencedor do Prémio do Jovem Empreendedor, da ANJE.

A solução criada pela empresa utiliza células do próprio paciente e, contrariamente aos actuais tratamentos imunossupressores, que afectam o sistema imunitário na sua globalidade, estas actuam especificamente no fígado e reduzem os efeitos adversos das terapias. "O que a nossa terapia tem de único é que estas células se localizam no fígado, regulando apenas o sistema imune do fígado e evitando a incidência de cancros e de infecções", explica.

Quando se faz um transplante, o corpo trata o novo órgão como um "intruso" e tenta atacá-lo. Por isso, os médicos injectam células que vão baixar a actividade do sistema imune na globalidade, os imunossupressores, aumentando o risco de contrair doenças. Com a descoberta da Accelera Therapeutics, é possível baixar a actividade do sistema imune do fígado, sem comprometer o resto do corpo. Estes "imunorreguladores" são injectados no paciente e migram apenas para o fígado.

O objectivo é o de iniciar actividades em Janeiro de 2011. Por enquanto, procura encontrar financiamento. O investimento inicial será de 2,5 milhões de euros, para três anos, até que seja obtida a aprovação da entidade que regula os medicamentos na Europa. Depois, David Cristina acredita que será mais fácil obter capital internacional.

Por enquanto, o objectivo é o de assegurar a propriedade intelectual da sua descoberta. O prémio de 19.500 euros, da ANJE, vai servir para cobrir os custos de internacionalização da patente. "A propriedade intelectual é tudo para nós", comenta. São estas as principais preocupações dos cientistas empreendedores.




Bilhete de Identidade



Acellera Therapeutics
Área de actividade Desenvolvimento de terapias médicas inovadoras.
Promotores Luís Graça, David Cristina e Marta Monteiro.
Investimento inicial 2,5 milhões de euros.




Somar prémios



São quatro os prémios que a Acellera Therapeutics já levou para casa.

O projecto Acellera Therapeutics, "start-up" de investigação e desenvolvimento de terapias médicas inovadoras, venceu a 11ª edição do Prémio do Jovem Empreendedor, promovido pela Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE).

O júri, que avaliou os 172 planos de negócio a concurso, era presidido pelo director-geral da COTEC - Associação Empresarial para a Inovação, Daniel Bessa, e composto por Pedro Matias, vice-presidente do IAPMEI, Jorge Martins, administrador do BES, Manuel Ferreira da Silva, membro da Comissão Executiva do BPI, Ana Teresa Lehmann, vice-presidente da CCDR-N - Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte, Miguel Henriques, administrador do Grupo Lena, e Alberto Castro, director do Centro de Estudos de Gestão e Economia Aplicada da Universidade Católica. Em 2010, o projecto também foi distinguido na categoria "Saúde" do concurso BES Inovação e recebeu uma Menção Honrosa do concurso organizado em parceria entre o ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa e o MIT (Massachusets Institute of Technology). Em 2009, conquistaram o segundo prémio no concurso de empreendedorismo global "Idea 2 Product", da Universidade do Texas, em Austin, Estados Unidos da América.