Notícia
11 ideias para sair mais forte da crise
Formação, inovação, horas de trabalho mais produtivas e parcerias com universidades são algumas das recomendações de Eugénio Monteiro para que as empresas portuguesas possam vencer a crise.
01 de Março de 2012 às 12:30
Eugénio Monteiro, professor na AESE, sugere mais horas de trabalho durante a crise
Em 1952, Einsten escreveu que a crise é a melhor benção que pode acontecer às pessoas e países, porque leva a progressos. Segundo o cientista, a criatividade nasce da angústia, como o dia nasce da noite escura. "É na crise que nascem as invenções, as descobertas e as grandes estratégias.
Quem supera a crise, supera-se a si mesmo"." Para ajudar as empresas a encontrar soluções para os problemas trazidos pela actual conjuntura económica, Eugénio Monteiro , professor na AESE - Escola de Negócios, listou 11 ideias para apresentar aos quadros das empresas. Conheça-as.
1. Formação para todos
Eugénio Monteiro deu o exemplo de Bob Galvin, da Motorola, que, em 1980 foi contra toda a equipa administrativa e avançou com um plano de formação para a empresa. Resultado: a produtividade cresceu 139% em cinco anos, teve um retorno elevado (por cada dólar investido, recuperou 30), aumentou a capacidade de inovar e a equipa tornou-se mais leal. Esta ideia é indicada, sobretudo, para empresas que não tenham grandes dificuldades financeiras, que actuem no sector tecnológico e estejam inseridas num ambiente competitivo. O professor afirma não existir uma só forma de estruturar um programa de formação, mas há linhas gerais a ter em conta: devem equilibrar as necessidades de cada unidade de negócio com a visão corporativa global, criar sistemas para medir e analisar os resultados, áreas de melhoria e o retorno sobre o investimento. A intuição, criatividade e compromisso podem levar a grandes decisões e resultados. Bob Galvin não sabia o que ia acontecer depois de avançar com o plano de formação, mesmo sem ter o apoio do Conselho de Administração. Mas o resultado não poderia ser melhor, levou a Motorola à liderança de mercado.
2. Estimule novas ideias e partilhe preocupações
O segundo conselho do professor da AESE é claro: peça a todos os colaboradores ideias para melhorar a fiabilidade e produtividade da empresa, reduzindo os custos. Deu o exemplo de José Ignacio Lopes, na General Motors, em Saragoça, Espanha, onde se fazem os carros Corsa. José Lopes pediu a todos os que visitassem uma exposição de partes homogéneas de seis carros equivalentes ao Corsa para darem ideias de melhoria. Recolheu 25 mil sugestões numa semana. Classificou-as e ordenou-as , tendo acabado por contribuir para o sucesso na fiabilidade e redução de custos. O professor relembra os conselhos de James Lincoln, docente na Universidade de Berkeley, California, que diz que a continuidade no emprego é o primeiro passo da eficiência. Como? Durante os períodos fracos, deve-se fabricar para stocks, porque, regra geral, os custos são mais baixos, devido à queda do custo dos materiais. Depois, desenvolver máquinas novas e melhorar métodos de produção, reduzindo preços, porque os custos baixam. Segundo o especialista, os trabalhadores gostam de contribuir para reduzir custos. Em quarto lugar, os gestores devem explorar novos mercados e desenvolver novos produtos. Em resumo, James Lincoln considera que a direcção deve ter sempre um plano para uma eventual crise, mesmo que esteja em "tempos de vacas gordas".
3. Comprometa todos na busca de soluções
Para explicar esta ideia o professor da AESE foi buscar o exemplo do modelo da Matsushita ElectricCo, em 1930. Como tinha excesso de produção sobre as vendas pediu aos colaboradores que trabalhassem apenas meio dia, pagando o salário completo. Ao mesmo tempo, desafiou-os a concentrarem-se em aumentar as vendas nos tempos livres. Os colaboradores levaram o desafio a sério, venderam os produtos em stock e retomaram o trabalho normal.
4. Mais trabalho durante a semana
Foi neste ponto que a controvérsia se gerou no auditório da AESE. Apesar da ideia inicial de Eugénio Monteiro ser a de propor mais horas de trabalho por semana enquanto durar a crise, para reduzir o custo unitário de produção, o professor acabou por explicar ao Negócios que tudo tem a ver com a forma como se aproveita o tempo. "Temos todos de tomar consciência de que estamos a trabalhar muito pouco. Eu diria que, se calhar, o tempo efectivo de trabalho de um colaborador ronda os 70%. Duvido que sem exigência pessoal se possa chegar longe, o que vai obrigar as pessoas a procurarem formas de serem mais produtivas." E acrescenta que o sentido de responsabilidade tem de ser interiorizado nas empresas, sem distracções pelo meio.
5. Reduza as suas margens de lucro
Pode ser um dos pontos mais discutido pelos empresários, mas Eugénio Monteiro garante que as empresas acabarão por vender mais se os seus administradores abdicarem mais da margem de lucro que definiram à priori. A tendência das organizações costuma ser a de pedir esforços aos colaboradores, explica o professor, mas o essencial é que o exemplo venha de cima, para que se possa, efectivamente, reduzir custos.
6. Esqueça a Europa
É altura de esquecer a Europa, diz o professor da AESE. Os países de alto crescimento, como o Brasil, Angola, Moçambique, Índia, China entre outros, são os mais indicados para vender e fabricar os produtos das empresas portuguesas, explica Eugénio Monteiro. "[os empresários devem] ter em conta que o custo de produção na Europa é muito alto, pelo que terá de se reduzir os custos ou fabricar localmente", diz. O professor adianta que as organizações devem exportar produtos que sejam apreciados nestes países, que tenham um valor alto intrínseco, que sejam difíceis de produzir "in loco" e que as pessoas mais ricas queiram comprar.
7. Unir a produção às parcerias
A recomendação do professor é que as empresas passem a fabricar os seus produtos em países com custos baixos, que produzam bem e a bons preços. Eugénio Monteiro dá o exemplo da Índia, onde a Efacec, por exemplo, produz para venda local e exportação através de três parcerias, que segundo o professor, poderão elevar-se a cinco. E dá mais exemplos, como o da Petrobec (bombas de gasolina), fábricas de sapatos (Sofrepa, Jefar), entre outras.
8. Mais I&D para melhorar a produtividade
Com mais investimento em Investigação & Desenvolvimento (I&D), é possível que os produtos das empresas penetrem na base da pirâmide social, segundo o professor. Eugénio Monteiro explica que, na Índia, por exemplo, há uma óptima experiência de novos modelos de negócio, como os telefones móveis, os "carros nano", os purificadores de água para beber ou a produção de fármacos, entre outros. O carro Nano é um modelo da Tata Motors, cujo preço começa nos 2.500 dólares norte-americanos, sendo dos carros mais baratos do mercado. Foi lançado em Janeiro de 2008 e a sua fábrica está instalada em Singur, no estado de Bengali Ocidental, na Índia.
9. Procure colaborar com as universidades
Eugénio Monteiro afirma que existem estudos ou teses de mestrado e doutoramento sobre temas especializados que podem ser aproveitados pelas empresas, como fez a Galpvem no passado. Os académicos podem ajudar a encontrar soluções para alguns problemas organizacionais, no âmbito do consumo energético, por exemplo, da utilização da energia solar, entre outros. O professor explica que estas parcerias dão um sentido prático às teorias e fornecem base de recrutamento de profissionais qualificados, desenvolvendo um sentido prático, de empreendedorismo, quer nas pessoas da organização, quer nas da Universidade.
10. Eficiência e economias de escala
Se conseguir que a sua empresa reduza custos, vende mais, o que dá para equilibrar a exploração total do seu negócio, prestando serviços ao preço normal, outros a um preço marginal ou até nulos, diz Eugénio Monteiro. Aqui, o professor deu o exemplo da AravindEyeCareSystem, no qual apenas 35% dos pacientes paga a factura hospitalar, enquanto que 65% não paga nada. O Dr. Devi Shettye é outro exemplo, desta vez em cirurgia cardíaca. Devido à grande eficiência do seu trabalho, o Dr. Davi Shettye consegue atender várias pessoas num só dia e o custo médio é mais baixo, segundo o professor. Outro dos conselhos é reorganizar o "outline" da fábrica, inovando no design dos processos e na própria organização, criar "task-forces" (grupo de pessoas que trabalham juntas para um só objectivo) temporárias para reduzir custos, de preferência com pessoas que tenham uma visão "fresca e sem preconceitos". Por último, porque não lançar desafios a equipas empreendedoras, em fase de afirmação? Foi desta forma que surgiu o carro Nano.
11. Aposte na criação de novos produtos
Eugénio Monteiro acredita que as empresas devem lançar produtos focados para servir as necessidades reais da sociedade. Acrescenta que devem ser utilizadas capacidades jovens e dinâmicas para desenhar produtos e serviços adequados. As ideias mais frescas podem vir dos estagiários, que têm mais sede de agitar o sistema se estiverem bem enquadrados e motivados, diz. Segundo o especialista, os novos produtos devem ser mais acessíveis para substituir outros ou preencher necessidades emergentes.
Em 1952, Einsten escreveu que a crise é a melhor benção que pode acontecer às pessoas e países, porque leva a progressos. Segundo o cientista, a criatividade nasce da angústia, como o dia nasce da noite escura. "É na crise que nascem as invenções, as descobertas e as grandes estratégias.
1. Formação para todos
Eugénio Monteiro deu o exemplo de Bob Galvin, da Motorola, que, em 1980 foi contra toda a equipa administrativa e avançou com um plano de formação para a empresa. Resultado: a produtividade cresceu 139% em cinco anos, teve um retorno elevado (por cada dólar investido, recuperou 30), aumentou a capacidade de inovar e a equipa tornou-se mais leal. Esta ideia é indicada, sobretudo, para empresas que não tenham grandes dificuldades financeiras, que actuem no sector tecnológico e estejam inseridas num ambiente competitivo. O professor afirma não existir uma só forma de estruturar um programa de formação, mas há linhas gerais a ter em conta: devem equilibrar as necessidades de cada unidade de negócio com a visão corporativa global, criar sistemas para medir e analisar os resultados, áreas de melhoria e o retorno sobre o investimento. A intuição, criatividade e compromisso podem levar a grandes decisões e resultados. Bob Galvin não sabia o que ia acontecer depois de avançar com o plano de formação, mesmo sem ter o apoio do Conselho de Administração. Mas o resultado não poderia ser melhor, levou a Motorola à liderança de mercado.
2. Estimule novas ideias e partilhe preocupações
O segundo conselho do professor da AESE é claro: peça a todos os colaboradores ideias para melhorar a fiabilidade e produtividade da empresa, reduzindo os custos. Deu o exemplo de José Ignacio Lopes, na General Motors, em Saragoça, Espanha, onde se fazem os carros Corsa. José Lopes pediu a todos os que visitassem uma exposição de partes homogéneas de seis carros equivalentes ao Corsa para darem ideias de melhoria. Recolheu 25 mil sugestões numa semana. Classificou-as e ordenou-as , tendo acabado por contribuir para o sucesso na fiabilidade e redução de custos. O professor relembra os conselhos de James Lincoln, docente na Universidade de Berkeley, California, que diz que a continuidade no emprego é o primeiro passo da eficiência. Como? Durante os períodos fracos, deve-se fabricar para stocks, porque, regra geral, os custos são mais baixos, devido à queda do custo dos materiais. Depois, desenvolver máquinas novas e melhorar métodos de produção, reduzindo preços, porque os custos baixam. Segundo o especialista, os trabalhadores gostam de contribuir para reduzir custos. Em quarto lugar, os gestores devem explorar novos mercados e desenvolver novos produtos. Em resumo, James Lincoln considera que a direcção deve ter sempre um plano para uma eventual crise, mesmo que esteja em "tempos de vacas gordas".
3. Comprometa todos na busca de soluções
Para explicar esta ideia o professor da AESE foi buscar o exemplo do modelo da Matsushita ElectricCo, em 1930. Como tinha excesso de produção sobre as vendas pediu aos colaboradores que trabalhassem apenas meio dia, pagando o salário completo. Ao mesmo tempo, desafiou-os a concentrarem-se em aumentar as vendas nos tempos livres. Os colaboradores levaram o desafio a sério, venderam os produtos em stock e retomaram o trabalho normal.
4. Mais trabalho durante a semana
Foi neste ponto que a controvérsia se gerou no auditório da AESE. Apesar da ideia inicial de Eugénio Monteiro ser a de propor mais horas de trabalho por semana enquanto durar a crise, para reduzir o custo unitário de produção, o professor acabou por explicar ao Negócios que tudo tem a ver com a forma como se aproveita o tempo. "Temos todos de tomar consciência de que estamos a trabalhar muito pouco. Eu diria que, se calhar, o tempo efectivo de trabalho de um colaborador ronda os 70%. Duvido que sem exigência pessoal se possa chegar longe, o que vai obrigar as pessoas a procurarem formas de serem mais produtivas." E acrescenta que o sentido de responsabilidade tem de ser interiorizado nas empresas, sem distracções pelo meio.
5. Reduza as suas margens de lucro
Pode ser um dos pontos mais discutido pelos empresários, mas Eugénio Monteiro garante que as empresas acabarão por vender mais se os seus administradores abdicarem mais da margem de lucro que definiram à priori. A tendência das organizações costuma ser a de pedir esforços aos colaboradores, explica o professor, mas o essencial é que o exemplo venha de cima, para que se possa, efectivamente, reduzir custos.
6. Esqueça a Europa
É altura de esquecer a Europa, diz o professor da AESE. Os países de alto crescimento, como o Brasil, Angola, Moçambique, Índia, China entre outros, são os mais indicados para vender e fabricar os produtos das empresas portuguesas, explica Eugénio Monteiro. "[os empresários devem] ter em conta que o custo de produção na Europa é muito alto, pelo que terá de se reduzir os custos ou fabricar localmente", diz. O professor adianta que as organizações devem exportar produtos que sejam apreciados nestes países, que tenham um valor alto intrínseco, que sejam difíceis de produzir "in loco" e que as pessoas mais ricas queiram comprar.
7. Unir a produção às parcerias
A recomendação do professor é que as empresas passem a fabricar os seus produtos em países com custos baixos, que produzam bem e a bons preços. Eugénio Monteiro dá o exemplo da Índia, onde a Efacec, por exemplo, produz para venda local e exportação através de três parcerias, que segundo o professor, poderão elevar-se a cinco. E dá mais exemplos, como o da Petrobec (bombas de gasolina), fábricas de sapatos (Sofrepa, Jefar), entre outras.
8. Mais I&D para melhorar a produtividade
Com mais investimento em Investigação & Desenvolvimento (I&D), é possível que os produtos das empresas penetrem na base da pirâmide social, segundo o professor. Eugénio Monteiro explica que, na Índia, por exemplo, há uma óptima experiência de novos modelos de negócio, como os telefones móveis, os "carros nano", os purificadores de água para beber ou a produção de fármacos, entre outros. O carro Nano é um modelo da Tata Motors, cujo preço começa nos 2.500 dólares norte-americanos, sendo dos carros mais baratos do mercado. Foi lançado em Janeiro de 2008 e a sua fábrica está instalada em Singur, no estado de Bengali Ocidental, na Índia.
9. Procure colaborar com as universidades
Eugénio Monteiro afirma que existem estudos ou teses de mestrado e doutoramento sobre temas especializados que podem ser aproveitados pelas empresas, como fez a Galpvem no passado. Os académicos podem ajudar a encontrar soluções para alguns problemas organizacionais, no âmbito do consumo energético, por exemplo, da utilização da energia solar, entre outros. O professor explica que estas parcerias dão um sentido prático às teorias e fornecem base de recrutamento de profissionais qualificados, desenvolvendo um sentido prático, de empreendedorismo, quer nas pessoas da organização, quer nas da Universidade.
10. Eficiência e economias de escala
Se conseguir que a sua empresa reduza custos, vende mais, o que dá para equilibrar a exploração total do seu negócio, prestando serviços ao preço normal, outros a um preço marginal ou até nulos, diz Eugénio Monteiro. Aqui, o professor deu o exemplo da AravindEyeCareSystem, no qual apenas 35% dos pacientes paga a factura hospitalar, enquanto que 65% não paga nada. O Dr. Devi Shettye é outro exemplo, desta vez em cirurgia cardíaca. Devido à grande eficiência do seu trabalho, o Dr. Davi Shettye consegue atender várias pessoas num só dia e o custo médio é mais baixo, segundo o professor. Outro dos conselhos é reorganizar o "outline" da fábrica, inovando no design dos processos e na própria organização, criar "task-forces" (grupo de pessoas que trabalham juntas para um só objectivo) temporárias para reduzir custos, de preferência com pessoas que tenham uma visão "fresca e sem preconceitos". Por último, porque não lançar desafios a equipas empreendedoras, em fase de afirmação? Foi desta forma que surgiu o carro Nano.
11. Aposte na criação de novos produtos
Eugénio Monteiro acredita que as empresas devem lançar produtos focados para servir as necessidades reais da sociedade. Acrescenta que devem ser utilizadas capacidades jovens e dinâmicas para desenhar produtos e serviços adequados. As ideias mais frescas podem vir dos estagiários, que têm mais sede de agitar o sistema se estiverem bem enquadrados e motivados, diz. Segundo o especialista, os novos produtos devem ser mais acessíveis para substituir outros ou preencher necessidades emergentes.