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Os 40 meses de Pedro Norton à frente da Impresa
Pedro Norton chegou a CEO da dona da SIC em 2012. Ao longo destes três anos e meio focou-se em reduzir o endividamento da empresa, em cortar custos e teve de lidar com a queda das chamadas de valor acrescentado.
O dia 6 de Março deste ano vai marcar a saída de Pedro Norton da Impresa. O gestor vai passar o testemunho de presidente executivo a Francisco Pedro Balsemão, filho do fundador do grupo, depois de nos últimos três anos e meio ter tentado reduzir a dívida bancária da dona da SIC e, ao mesmo tempo, encontrar fontes de receitas alternativas para compensar a queda da publicidade que o sector enfrenta, bem como a redução forçada do valor das chamadas de valor acrescentado.
Pedro Norton deu os primeiros passos no grupo Impresa há 23 anos, como assessor do presidente do conselho de administração da Controljornal. Mas rapidamente foi subindo degrau a degrau, até substituir Pinto Balsemão como presidente executivo, a 1 de Outubro de 2012.
Pelo meio desempenhou funções de director financeiro, subdirector de programação da SIC, director de novos negócios e membro do conselho da administração da SIC Filmes e da SIC Notícias.
Em 2001 passa a CEO da Sojornal, empresa que detinha o Expresso. Em Abril de 2008 estende o seu pelouro a todas as áreas de actividade do grupo fundado por Pinto Balsemão, aos 35 anos, passando a ocupar o lugar de vice-presidente da comissão executiva da Impresa.
Aos 44 anos, em 2012, Pedro Norton substitui Francisco Pinto Balsemão na presidência executiva, tendo o fundador do grupo ficado como presidente da administração ("chairman").
Quando se sentou na cadeira de CEO, Pedro Norton tinha vários desafios pela frente. A Impresa tinha fechado o ano de 2011 com prejuízos de 35 milhões, as receitas tinham caída 8% para 249,7 milhões de euros e a dívida líquida do grupo de media, dono da SIC e da Visão, situava-se em 213 milhões de euros, uma das principais dores de cabeça do grupo.
Passados poucos dias de ter assumido a liderança do grupo, Pedro Norton avança com uma reorganização que levou ao fecho de cinco revistas e à saída de cerca de 50 pessoas. E o programa de redução de custos não ficou por aqui.
No início de 2013, foi proposto um corte de 10% nos salários de todos os membros do conselho de administração. Cortes que, posteriormente, também se estenderiam a alguns trabalhadores do grupo tendo sido repostos no ano seguinte.
Grupo sai do vermelho
Em 2013 Pedro Norton viu as contas da empresa passarem de negativo para positivo ao fechar o ano com lucros de 6,6 milhões de euros. Fruto, em grande parte, da reorganização em curso mas também do aumento em 35,8% para 49 milhões da rubrica de outras receitas devido à popularidade das chamadas de valor acrescentado.
Estas chamadas, populares nos programas televisivos, passaram a ser a galinha dos ovos de ouro das estações televisivas. Mas viriam a dar nova dor de cabeça aos grupos de media quando alguns operadores de telecomunicações decidiram bloquear as chamadas para os números 760 devido às avultadas dívidas dos clientes.
Apesar da queda desta fonte de receitas, Pedro Norton conseguiu manter o total dos proveitos relativos ao ano de 2014 em linha com o exercício anterior e aumentar os lucros em 66% para 11 milhões de euros. Uma tarefa impulsionada pelo aumento das receitas publicitárias nomeadamente na área de televisão e pelo crescimento da subscrição de canais.
O investimento em iniciativas assentes no digital, proclamado o futuro dos media, esteve também no topo da agenda do gestor, que muitos indicavam como o futuro herdeiro do legado de Balsemão.
Foi pelas mãos de Pedro Norton que nasceu, por exemplo, o Expresso Diário, uma edição do título Expresso publicada de segunda a sexta-feira apenas em formato digital e que abriu portas ao lançamento de iniciativas semelhantes por parte de outros grupos de media.
Ao longo dos seu mandato, o gestor sublinhou várias vezes que uma das suas grandes apostas passava pelo reforço de todas as marcas do grupo no segmento digital.
Em 2014 Pedro Norton assistiu ainda ao fim da guerra antiga entre a Impresa e a Ongoing, quando a empresa de Nuno Vasconcellos decidiu vender a participação que tinha no grupo de Balsemão. A guerra accionista entre os dois grupos era travada há mais de cinco anos, tendo gerado diversos processos em tribunal.
Bónus e mais cortes
Depois de ter lucros pelo segundo ano consecutivo, 2013 e 2014, no início do ano passado Pedro Norton decidiu repor os salários que tinham sido alvo de cortes e até dar um prémio de desempenho a alguns trabalhadores.
"No período mais agudo desta crise pedimos a um conjunto de trabalhadores, a começar pela própria administração, que fizesse temporariamente uma redução dos seus vencimentos com o compromisso de que assim que a empresa tivesse uma performance melhor seriam repostos", contou no ano passado o presidente executivo do grupo, em entrevista ao Negócios.
Desde que assumiu a presidência executiva da dona da SIC, Pedro Norton reduziu os custos operacionais em 9,5%. Mas apesar do controlo de custos implementado pelo gestor, que antes de ingressar na Impresa passou pela banca de investimento, as contas da Impresa continuavam a enfrentar algumas dificuldades, fruto da contínua queda das receitas das chamadas de valor acrescentado. E no final de 2015 o grupo avançou com um programa de rescisões amigáveis com alguns trabalhadores.
Outra das "batalhas" encerradas por Pedro Norton enquanto CEO da Impresa viu o seu último capítulo ser escrito recentemente, quando há cerca de duas semanas a Impresa alcançou um acordo com a Altice, dona da Meo.
Depois de vários meses em conversações, a dona da SIC e a Altice chegaram a acordo no final do ano passado para a renovação do contrato de distribuição de conteúdos na plataforma da Meo.
As negociações entre a dona da SIC e a PT Portugal, que passou para as mãos da Altice em Junho, estavam tremidas no seguimento da proposta apresentada pelos novos donos da PT de não querer pagar pela distribuição destes canais na sua plataforma.
Dividendos? Talvez mais tarde
O forte endividamento ensombra o grupo desde pelo menos 2008. Ao longo dos quase três anos e meio enquanto CEO da Impresa, Pedro Norton conseguiu reduzir a dívida bancária líquida em mais de 8%. Quando entrou a empresa tinha uma dívida de 213 milhões e no final do terceiro trimestre de 2015, os últimos dados disponíveis, situava-se em 195 milhões de euros.
Apesar da melhoria dos resultados da dona da SIC, que integrou o PSI 20 em 2014, Pedro Norton deixa a liderança da empresa sem conseguir, contudo, voltar a distribuir dividendos aos accionistas.
Como Pedro Norton explicou no ano passado, "a Impresa está desde 2008 muito empenhada numa redução agressiva da dívida. O tema hoje já não é preocupante, mas o entendimento que temos partilhado com os accionistas é de que é saudável continuar a descer um pouco mais a dívida antes de começar a distribuir dividendos", admitiu. "Seria insensato depois do esforço brutal que fizemos corrermos o mínimo risco de andar para trás no caminho que fizemos", acrescentou.