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Dinastia alemã vende ativos para sobreviver
Antes em pé de igualdade com gigantes de engenharia alemãs como Siemens e Daimler, a situação da Thyssenkrupp espelha a desaceleração da economia alemã e erros de gestão, que obrigam a empresa a vender unidades para tapar buracos no seu balanço.
Nas margens do rio Ruhr, que atravessa o coração industrial da Alemanha, há um vasto parque ornamental com jardins bem cuidados e árvores exóticas. Ao centro destaca-se uma mansão neoclássica com telhado verde-cobre e pilares gregos: a Vila Huegel, a antiga residência do magnata do aço Alfred Krupp.
Vila é um nome impróprio - o lugar é mais um palácio do que uma residência. Existem salas de bibliotecas com painéis de madeira, elaboradas tapeçarias flamengas e lustres brilhantes pendurados nos tetos. A mansão é uma homenagem à riqueza e status de Krupp como líder da revolução industrial da Alemanha no século XIX. Se o vale do Ruhr fosse a casa de máquinas da economia, a Vila Huegel seria a sua ponte de comando.
Hoje, a Vila Huegel é um mausoléu de uma época passada. O famoso nome Krupp foi dobrado no "portmanteau" das dinastias de aço Thyssen e Krupp durante a fusão em 1999. Antes em pé de igualdade com gigantes de engenharia alemãs como Siemens e Daimler, a situação da Thyssenkrupp espelha a desaceleração da economia alemã e erros de gestão, que obrigam a empresa a vender unidades para tapar buracos no seu balanço.
O declínio do império Thyssenkrupp é motivo de preocupação para políticos que veem a situação da siderúrgica como um presságio do que pode ocorrer com a economia alemã, que até agora se apoiou num mercado de trabalho bem remunerado.
Declínio
"Este princípio básico da economia de mercado social sempre foi particularmente pronunciado na Thyssenkrupp", afirmou o ministro do Trabalho alemão, Hubertus Heil, do Partido Social-Democrata, que viu a sua relevância diminuir de forma semelhante à transição da Alemanha, que no passado foi marcada por setores com ampla mão-de-obra que formaram a sua base política. "A responsabilidade social não deve ser sacrificada pelos interesses dos investidores de curto prazo no valor de mercado da ação."
A crescente crise na Thyssenkrupp alinha cada vez mais os interesses de investidores e trabalhadores: a empresa precisa de dinheiro para pagar pensões e sobreviver. A fundação, que gere a Vila Huegel e é uma grande parte interessada, depende de dividendos para cobrir os gastos, que incluem subsídios à investigação, bolsas de estudo culturais e manutenção da bem cuidada propriedade.
Executivos de Essen atualmente conversam com os interessados no ativo mais valioso da Thyssenkrupp: a divisão de elevadores, uma unidade avaliada em 15 mil milhões de euros que atraiu o interesse de várias empresas. A siderúrgica também pretende vender as operações de componentes automóveis, onde os lucros caem devido ao agravamento da crise do setor na Alemanha. A divisão de chapas grossas - sucessora das siderúrgicas Krupp que fortificou os tanques e navios de guerra de Adolf Hitler - também está no programa de desinvestimentos.
"Tendência descendente"
"Esta é a continuação de uma tendência descendente iniciada após a Segunda Guerra Mundial", disse Albrecht Ritschl, professor de história económica da London School of Economics. "A indústria pesada da Alemanha nunca foi totalmente viável nas condições do mercado mundial, devido à sua localização no topo de regiões carboníferas que eram abundantes, mas caras para explorar."
Juntamente com a dívida, as desonras da outrora gigante continuam a acumular-se: a empresa foi excluída do índice DAX da Alemanha em setembro e substituída pela fabricante de turbinas de jatos MTU Aero Engines. É uma saída emblemática de como o futuro industrial da maior economia da Europa está nas mãos de empresas de alta tecnologia e margem elevada, em vez de siderúrgicas.
A crise colocou a empresa na mira de investidores ativistas que pressionam para que sejam implementadas mudanças. A sueca Cevian Capital é o segundo maior acionista por trás da fundação. Uma porta-voz da Thyssenkrupp fez referência a uma declaração da CEO Martina Merz em setembro, quando disse que a empresa continuará com o seu realinhamento estratégico, à procura de recuperar a confiança dos investidores.
(Texto original: A German Dynasty Sells Assets to Survive)