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Altri ameaça travar investimentos se Portugal "demonizar" o eucalipto
Paulo Fernandes deixa aviso ao Governo na assinatura de contratos de 125 milhões de euros na Celbi e Celtejo. Primeiro-ministro responde com linha de financiamento para subir produtividade na floresta de eucalipto.
Paulo Fernandes garantiu esta segunda-feira, 16 de Janeiro, que "a Altri está disposta e comprometida a investir em Portugal", mas avisou que "se continuarmos a tratar mal o nosso 'petróleo verde', que é a nossa floresta, dentro da sua diversidade, será sempre mais difícil encontrar racional para esses investimentos". "A simples proibição do plantio de determinada espécie de árvore, neste caso o eucalipto, preferindo que aí floresça mato, é a todos os títulos pouco recomendável", alertou.
"Não somos apologistas de monoculturas. O nosso desafio é, sim, aumentar a produtividade na floresta de eucalipto, mas também rentabilizar áreas abandonadas. Não comungamos é com aqueles que, sentados em gabinetes e que não sabendo o que é a floresta, se limitam a criar obstáculos, como se o piorar das condições de gestão na floresta aproveitasse em favor da sociedade e do país, criticou o presidente da Altri.
Na sessão de assinatura de dois contratos no valor de 125 milhões de euros, a realizar nas fábricas da Celtejo, em Vila Velha de Ródão, e da Celbi, na Figueira da Foz, Paulo Fernandes assinalou que estes investimentos no sector da pasta de papel traduzem "a confiança que o grupo tem em Portugal e mostra o seu compromisso de longo prazo em investir no país quando, porventura, outros mercados apelam aos seus investimentos". Porém, falando perante o primeiro-ministro, António Costa, o empresário antecipou "alguns constrangimentos que são críticos para a produção" de pasta de papel.
"No meio de mitos e demagogias várias, demoniza-se a floresta de eucalipto e, com ela, toda a criação de riqueza que ela proporciona, sobretudo no espaço rural. O desenvolvimento económico não é incompatível com a preservação da biodiversidade, muito pelo contrário. Só uma floresta organizada, rentável, que tenha incentivos à sua renovação, conduz à criação de riqueza e de preservação dos habitats. A alternativa é o abandono e a substituição de floresta por mato improdutivo e que ciclicamente é objecto de incêndios", frisou o líder do grupo Altri, empresa que partilha o núcleo accionista e de gestão com a Cofina (dona do Negócios).
Segundo dados do Eurostat e do Global Forest Watch, Portugal foi o único país da UE que nos últimos 25 anos reduziu a área florestal, estimando-se que o recuo nos últimos 15 anos tenha atingido um quarto da área total. Sustentando que não há mais eucalipto, mas apenas que o seu peso aumenta face a uma área florestal cada vez menor, onde não se refloresta e onde as áreas de mato são as únicas que crescem, Paulo Fernandes insistiu que "num país com parcos recursos endógenos e com uma indústria que compara positivamente com os mais exigentes mercados, é um crime andar à boleia de ideias velhas, mitos e preconceitos".
Costa aponta à produtividade
Portugal importa anualmente 22% da madeira que consome, o que representa mais de 180 milhões de euros por ano. "É um contra-senso ter a maioria do território apto, mas que, ano após ano, tem cada vez mais áreas improdutivas. Temos sempre escolhido deixar o território ser tomado pelo mato, ao invés de promover novas plantações. (...) Não raras vezes procura-se obstaculizar quem investe através de todo o tipo de entraves e normativos, favorecendo uma realidade que a ninguém interessa sob nenhum prisma", contestou o presidente e co-CEO do grupo Altri, que tem uma capacidade de produção superior a um milhão de toneladas por ano, exporta 94% do que produz e que em 2015 gerou um volume de vendas que superou os 665 milhões de euros.
Depois de ouvir estas críticas da primeira fila do auditório improvisado, o primeiro-ministro respondeu que "o grande desafio na plantação do eucalipto é a melhoria da produtividade média por hectare, que é baixíssima", notando que "não são só os matos que estão ao abandono". Melhorar a gestão, o ordenamento e as condições de exploração da própria terra são áreas em que as empresas podem investir, avisando que a solução "não [passa] necessariamente por aumentar a área do eucalipto".
Na mesma sessão de assinatura dos contratos, que decorreu na fábrica da Celbi, na Figueira da Foz, e em que estiveram também os ministros Caldeira Cabral, Capoulas Santos e o presidente da AICEP, Miguel Frasquilho, António Costa adiantou que o Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural vai abrir durante este ano um concurso de 18 milhões de euros para financiar investimentos na melhoria da produtividade da área de eucalipto, acreditando que essa medida "vai responder à procura crescente para a produção de pasta de papel".
A Altri não é a primeira empresa a ameaçar travar investimentos. A Navigator também já disse que os seus investimentos dependem dos termos da nova lei para o eucalipto. A empresa, antiga Portucel, quer conhecer os termos da nova lei para as plantações de eucalipto para decidir se avança ou cancela os projectos que tem para Cacia e Figueira da Foz, no valor de mais de 200 milhões de euros. Esta posição foi assumida em Novembro, quando a empresa apresentou os resultados do terceiro trimestre.