Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

Há uma empresa familiar a apertar o lucro de um gigante chamado Galp

A Galp teve de provisionar largos milhões de euros por créditos de cobrança duvidosa. Entre eles os da Transportes Freitas, parceiro de longa data.

31 de Outubro de 2013 às 00:01
  • 15
  • ...

Este ano a Galp Energia está a sofrer perdas de largos milhões de euros no seu negócio de distribuição, em face de vários créditos de cobrança duvidosa. Um dos mais penalizadores está relacionado, segundo soube o Negócios, com um parceiro de longa data da Galp, a Transportes Freitas, distribuidor de combustíveis de raiz familiar, que figura entre as empresas que mais facturam no País. Nos últimos anos uma sucessão de insolvências de postos de combustíveis, que eram clientes daquela transportadora, veio penalizar o grupo da Vila das Aves, em Santo Tirso. Agora, por arrasto, é a própria Galp que vê parte dos seus ganhos consumidos por uma crise com efeito de bola de neve.

A petrolífera admitiu segunda-feira que "há um cliente muito grande que está a ser reestruturado", estando na origem do aumento das provisões da Galp este ano. A Galp, que diz acreditar na viabilidade desse cliente, não revela de que empresa se trata. Instada a confirmar se é a Transportes Freitas, a petrolífera apenas afirma que "a Galp Energia não comenta as relações com os seus clientes". O Negócios contactou o presidente da Transportes Freitas, mas João Freitas não respondeu às questões colocadas.

Em causa estarão vários milhões de euros de dívida da transportadora à Galp, com quem trabalha desde 1978. De 2012 para 2013 as provisões da Galp na área da refinação e distribuição, originadas "principalmente" em créditos de cobrança duvidosa, saltaram de 18 para 39 milhões de euros. Para isto contribuiu sobretudo o "cliente muito grande" apontado pela Galp.

O caso evidencia a vulnerabilidade de toda a cadeia petrolífera à crise que assola Portugal. O consumo de combustíveis está em queda. Segunda-feira o presidente da Galp, Manuel Ferreira de Oliveira, notou que "desde 2006 o consumo de produtos petrolíferos em Portugal e Espanha caiu um terço". Não é só quem explora as estações de serviço que sente dificuldades. Mas é a partir daqui que começam as histórias, mais ou menos dramáticas, que permitem questionar se a indústria petrolífera, frequentemente acusada de cartelização, está ou não imune à crise.

Desafios dos negócios familiares

A Transportes Freitas tem vindo nos últimos anos a constituir-se como credora de diversas empresas gestoras de postos de combustíveis. São vários os processos de insolvência de clientes da Transportes Freitas que deixaram de conseguir fazer face aos seus compromissos.

A Apetro - Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas confirma que o ambiente é complexo. "O negócio de venda de combustíveis em toda a cadeia de valor está a passar por um período extremamente crítico", observou o secretário-geral da Apetro, António Comprido, em declarações ao Negócios.

Recuemos uns anos. Detentora de um posto no quilómetro 39 da estrada nacional 204, que liga Famalicão a Santo Tirso, a empresa Petrobelas era gerida desde 1994 por Joaquim Fernandes e Maria do Carmo Januário, marido e mulher. Em 2009, a morte de Joaquim coloca Maria do Carmo na gerência. "Quando iniciou funções, esta deparou-se com uma dívida avultada ao seu principal fornecedor de combustíveis, a sociedade Transportes Freitas, Lda, decorrente de uma gestão menos rigorosa do seu falecido marido", escreveu o administrador da insolvência da Petrobelas, Nuno Oliveira da Silva, num relatório de Julho de 2010. Na altura, a Transportes Freitas era credora de 398 mil euros, quase 60% das dívidas da Petrobelas.

Este nem sequer foi o caso mais crítico. No processo de revitalização de um outro comercializador de combustíveis, a Gasolife, a lista de credores era encabeçada em 2012 pela Transportes Freitas, que reclamava 3,9 milhões de euros, quase 40% de todos os créditos sobre a referida Gasolife. Em 2013, foi declarada a insolvência desta empresa.

A lista de clientes da Transportes Freitas a viver dificuldades não fica por aqui. Em muitos casos trata-se de empresas familiares ou unipessoais, segundo um levantamento feito pelo Negócios.

Para António Comprido, um dos problemas é que o sector vive uma queda do consumo e "não houve uma racionalização equivalente no número de postos". Em Portugal, nota o porta-voz da Apetro, "temos uma rede de abastecimento demasiado capilar". E quando se trata de pequenos negócios familiares, lembra António Comprido, há uma resistência à racionalização... porque ninguém quer ficar sem trabalho. Mesmo que o custo seja o esmagamento de margens. "Isso dificulta tremendamente a reacção à crise", diz. António Comprido garante querer ser optimista. Mas o futuro dos mais de 2.500 postos em Portugal é uma incógnita para todo um sector. Com a Galp incluída.

 
Transportes Freitas é uma das maiores empresas do País

Com sede na Vila das Aves, Santo Tirso, a Transportes Freitas é um grupo familiar que se assume como "o principal distribuidor da Galp", segundo o site da empresa. Detentora de uma frota de 80 camiões-cisterna, tem centenas de empregados. Num "ranking" do ano passado era a 118.ª maior empresa portuguesa em facturação, com um volume de negócios de 219,5 milhões de euros apurado em 2011, ano em que teve um prejuízo de 3 milhões. Fundada em 1945, é hoje detida em 58% por António Freitas (59 anos, filho do fundador), em 33% pelo seu filho João Freitas e em 9% por Gracinda Freitas Castanheira. O grupo detém ainda a TF Gest, subsidiária que gere vários postos de venda de combustível ao consumidor final.

Ver comentários
Saber mais energia Galp Transportes Freitas lucro Vila das Aves
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio