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Falta de informação "pode pôr em causa grandes investimentos" nos leilões offshore de 2023

Orsted, Vestas, Total Energies e Ocean Winds. Quatro empresas internacionais que estão de olhos nos leilões de 2023 pedem ao Governo mais dados, um calendário claro e tarifas subsidiadas para investirem em Portugal.

17 de Novembro de 2022 às 14:23
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É líder mundial na energia eólica offshore e foi a primeira empresa no mundo a construir um parque eólico no Mar do Norte, ao largo da Dinamarca (Vindeby), em 1991, para espanto do setor energético mundial à data.

Hoje, a Orsted tem 27 parques eólicos offshore espalhados pelo mundo, uns fixos, outros flutuantes, e não esconde que está de olho nos leilões de 10GW de capacidade anunciados pelo Governo português para 2023.  


No entanto, a gigante dinamarquesa deixa desde já um aviso a Portugal: "O leilão é já para o ano e ainda não há há dados disponíveis para os promotores avaliarem os seus investimentos e planearem as licitações.  Isso pode pôr em causa a participação no leilão", disse Marianne Beck Hassl, responsável da Orsted, na conferência da APREN, no painel dedicado às Renováveis Oceânicas.  

E acrescentou ainda: "Não precisam de inventar a roda, basta seguirem o que já foi feito noutros leilões, pelo mundo". 


A questão, disse Marianne Beck Hassl, é que para os promotores de projetos de energias renováveis "está muito dinheiro em cima da mesa, e para participar num leilão há muito trabalho que tem de ser feito com bastante antecedência para podermos apresentar a melhor oferta. Só para mitigar riscos, são necessários dados de pelos menos um ano. E não temos essa informação disponível neste momento". 

Outra forma de mitigar riscos são os subsídios á tarifa: "Podem ser usados e acho que não vamos conseguir sem isso".

Quanto à meta de 10GW até 2030, diz que é "muito ambiciosa" mas possível, com o enquadramento regulatório certo e uma rede elétrica nacional que "possa acompanhar este crescimento exponencial e absorver a energia produzida".  

Quanto à capacidade da rede elétrica, a responsável da Orsted deu como exemplo a Dinamarca, que no passado tinha modelo centralizado e de desenvolvimento da rede (tal como Portugal) e agora são os próprios promotores dos projetos renováveis que investem na expansão da rede. 

"Se for o operador nacional de redes a construir demora mais tempo. Já as empresas e os promotores dos projetos têm todo o interesse e vontade de investir para que haja essa capacidade para escoar a energia", disse, reforçando a ideia que, ainda assim, "será sempre o consumidor a pagar a expansão das redes, seja pelo preço da energia, ou outro mecanismo". 

Leilões de 2023 prometem ser muito concorridos

Desde que o Governo anunciou a realização de leilões para o eólico offshore em 2023, várias empresas admitiram o seu interesse e até já reuniram com o Governo português, como a alemã BayWa r.e -- que até já solicitou assim direitos de uso exclusivo para desenvolver um parque eólico offshore flutuante com 30 turbinas e até 600 MW no total, numa zona ao largo da costa de Viana do Castelo --, o consórcio Ocean Winds (constituído pela EDP e a Engie, que já têm o parque flutuante Windfloat Atlantic, ao largo de Viana do Castelo), a dinamarquesa Orsted, a espanhola Iberdrola, a recém-criada "joint venture" irlandesa e espanhola Iberblue Wind.

Soma-se ainda à lista a coreana CS Wind, que no início deste ano assumiu 100% do capital da portuguesa ASM Industries, líder nacional no fabrico de torres eólicas, as espanholas Capital Energy e Acciona e ainda a sul-coreana Hanwha Q Cells, a grande vencedora dos leilões de energia solar de 2020, apurou o Negócios.

Também presente no mesmo painel, a dinamarquesa Vestas, maior fabricante mundial de turbinas eólicas, também concordou que o facto de os promotores de futuros projetos offshore não poderem "
ligar onde queremos à rede, é um constrangimento ao planeamento". Outro desafio passa por desenvolver projetos de larga escala.

No entanto, 
Benoît Gilbert, representante da Vestas, mostrou-se confiante que a indústria flutuante vai crescer em força, com "subestações flutuantes perto da costa, mais inovação nas plataformas, várias centrais ligadas a um hub. Várias soluções vão emergir", disse. 

Também na visão da francesa 
Total Energies, que admitiu estar interessada nos leilões de 2023 -- tendo em conta que um quarto do seu portefólio de eólico offshore é flutuante -- "terá de ser o promotor a desenvolver a capacidade da rede elétrica nacional, se quiser escoar a sua energia".

"Mas no final, será o consumidor final a pagar", avisou Alexandra de Marichalar, representante da Total Energies, sublinhando a ambição dos 10GW e a necessidade imperativa de um "calendário que mostre como e quando esta capacidade vai ser desbloqueada". Essa é a chave, a par de uma solução "one stop shop" para o licenciamento dos projetos.

José Pinheiro, da Ocean Winds -- o consórcio formado pela EDP e pela Engie, que opera o parque flutuante Windfloat Atlantic, em Viana do Castelo, e quer expandir as três turbinas que já tem no mar para muitas mais -- também concorda que para a energia eólica offshore é fundamental haver mecanismos de estabilização de preços (remuneração garantida) sendo que os 'contracts for difference' são uma uma modalidade muito comum e geralmente aceite pela indústria.  

"Não devemos demonizar estes mecanismos. Veja-se o que está a acontecer com as tarifas feed in tariff, e a gigantesca poupança que nos está a trazer", rematou.




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