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Compras conjuntas de gás pela UE podem avançar nas próximas semanas

"Com esta plataforma vamos ajudar as empresas privadas europeias com o nosso poder de compra" nos mercados internacionais de gás, anunciou a comissária europeia da Energia, Kadri Simson na Assembleia da República.

EPA
12 de Maio de 2023 às 11:57
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A comissária europeia da Energia, Kadri Simson, anunciou esta sexta-feira que a primeira operação de compra de gás natural liquefeito (GNL) conjunta ao abrigo da nova plataforma criada pela União Europeia (UE) poderá avançar já nas próximas semanas. 

"Com esta plataforma vamos ajudar as empresas privadas europeias com o nosso poder de compra" nos mercados internacionais de gás, anunciou a comissária numa audição conjunta das Comissões do Ambiente e Assuntos Europeus do Parlamento. 

A responsável sublinhou, perante os deputados portugueses, que a União Europeia ainda está "numa situação muito perigosa, apesar de as nossas reservas subterrâneas de gás estarem a dois terços da sua capacidade. Mas não sabemos que temperaturas teremos no próximo ano, não sabemos que comportamento terá a Rússia", avisou.

"Criámos uma plataforma conjunta de compras para negociar preços de gás para todas as empresas interessadas em participar. Temos uma procura agregada por parte dessas empresas, que ajudaremos com o nosso poder de compra. A primeira "call" [entre compradores e vendedores] estará operacional nas próximas semanas", avançou Kadri Simson, que se encontra em Portugal para uma visita de dois dias, durante a qual já visitou o parque eólico flutuante offshore Windfloat Atlantic, ao largo de Viana do Castelo, na companhia do CEO da EDP, Miguel Stilwell. Na tarde desta sexta-feira a comissária visitará também uma comunidade de energia da Greenvolt em Cascais, acompanhada pela secretária de Estado da Energia, Ana Fontoura Gouveia.

A nova plataforma europeia de compra conjunta de gás - EU Energy Platform - entrou em funcionamento no dia 25 de abril com a abertura de candidaturas para empresas e associações empresariais em toda a Europa poderem introduzir as suas previsões de necessidades de GNL para os próximos 12 meses. A primeira fase deste processo decorreu já até 2 de maio, prosseguindo depois com a agregação desses volumes.

O calendário prevê que até meados de maio esta procura introduzida na plataforma possa ser "emparelhada" com as ofertas dos vendedores, que também estão presentes na plataforma. Este ciclo vai repetir-se a cada dois meses, tal como tinha dito já ao Negócios fonte da Comissão Europeia.

Cada Estado-membro tem de certificar-se que as respetivas empresas inscrevem na plataforma uma previsão de procura equivalente a pelo menos 15% da capacidade de armazenagem de gás do país (0,5 TWh de um total de 3,6 TWh no caso de Portugal). Apesar das inscrições, as empresas não ficam obrigadas a fazer qualquer compra.

"Ser dependente de um único grande fornecedor energético é um problema. Temos de garantir que nunca mais nos encontraremos nesta situação. Em relação ao abastecimento russo à Europa a situação é irreversível. Unilateralmente quebraram contratos e deixaram vários países europeus numa situação complicada. Conseguimos resolver esta questão com parceiros de maior confiança [EUA, Noruega, Argélia, Azerbeijão], que aumentaram as suas produções de gás e também através do mercado internacional de GNL", disse Simson na mesma audição. 

Ainda sobre o gás, a comissária europeia frisou que a Europa conseguiu baixar o seu consumo e a procura desta fonte energética, de 400 mil milhões de metros cúbicos para previsões de 330 mil milhões de metros cúbicos (bcm) neste ano. "Passo a passo vamos substituir o consumo de gás natural usado para produção de energia elétrica, através das renováveis, e também para o aquecimento doméstico, que ainda diz respeito a 40% do consumo de gás na Europa. As reservas de gás estão a dois terços da sua capacidade, os preços estão de volta aos níveis pré-guerra e este ano teremos novamente recordes na implementação de renováveis nos países europeus", disse Kadri Simson.

Bruxelas estima que a plataforma conjunta de compras de gás arrancará com uma procura total de 12 a 13 mil milhões de metros cúbicos, face a um mercado de 330 bcm em 2023, depois dos 380 bcm registados em 2022.

Bruxelas "conta" com produção portuguesa de hidrogénio verde 

Quanto ao futuro, a comissária europeia diz é necessário "substituir o gás natural por alternativas limpas". "Estamos a contar com Portugal e com os produtores portugueses de hidrogénio verde" para as grandes necessidades que o mercado de energia da União Europeia terá no futuro. 

Kadri Simson não poupou elogios às "metas ambiciosas de Portugal para as renováveis, que tem a grande vantagem face aos países do norte da Europa de poder armazenar a energia do vento e do sol sob a forma de hidrogénio verde" e admitiu uma "grande admiração com o que se passa em termos energéticos no país, em termos de renováveis".

No entanto, reconheceu vários desafios e constrangimentos que têm de ser resolvidos pelas autoridades portuguesas para que a transição energética possa avançar: como a demora nos processos de licenciamento, o reforço da rede elétrica para receber a energia produzida por todos os novos projetos de energia renovável (sobretudo solar e eólica offshore), o aumento das interconexões entre a Península Ibérica e o resto da Europa e ainda a falta de produção de equipamentos pela indústria nacional, como torres e turbinas eólicas.

"Portugal e Espanha não estão devidamente interconectados com o resto da Europa, para que os restantes países possam beneficiar da energia renovável a preços mais baixos da Península Ibérica", acrescentou, sublinhando que as interconexões maiores que estão planeadas e serão construídas entre a Península Ibérica e França fazem parte da "lista de interesses" de Bruxelas e "uma parte significativa dos custos de produção serão abrangidos por fundos europeus". 

"Espero que possamos avançar com estes projetos de interconexões sem mais demoras, porque trarão benefícios a todos os países europeus", disse.    

A comissária frisou também que pela primeira vez os fundos comunitárias poderão ser usados para estender e fortalecer a rede elétrica no contexto dos grandes parques eólicos flutuantes que estão a ser planeados para o mar português, na sequência do leilão das eólicas offshore de 10 GW já anunciado pelo Governo português para avançar este ano.
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