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EDP une-se à americana Rondo para trocar gás por baterias térmicas na indústria

Com esta parceria, a elétrica pretende desenvolver até 400 MW de projetos eólicos e solares a médio prazo para alimentar até 2 GWh de baterias térmicas da Rondo.

Bárbara Silva barbarasilva@negocios.pt 07 de Março de 2024 às 16:50
A EDP anunciou esta quinta-feira uma nova parceria com a startup norte-americana Rondo Energy, com vista à entrada da elétrica portuguesa num novo segmento de negócio: o fornecimento de energia térmica (calor) em larga escala às grandes indústrias nacionais e internacionais, para usarem nos seus processos de manufatura, com origem em fontes limpas como o eólico e o solar, em vez de ser produzido a partir do gás natural, como habitualmente. 

De acordo com Vera Pinto Pereira, CEO da EDP Comercial, a elétrica tem já um cliente industrial assegurado em Portugal para esta nova solução, de um "pipeline" total de 8 a 10 empresas na calha e com interesse em experimentar a tecnologia em países como Espanha, Itália, Polónia, Bélgica, Luxemburgo, Alemanha e França. 

"O objetivo é ampliar a relação com os nossos clientes industriais que operam em setores altamente dependentes do gás e que são os mais difíceis de descarbonizar e de fazer a transição para energias limpas. Todos os clientes em todas as geografias onde operamos são elegíveis, desde cimenteiras ao fabrico de aço, produção de alimentos, fabricantes de embalagens ou pneus, entre outros", disse aos jornalistas a responsável da elétrica, à margem da conferência EDP Business Summit, frisando que esta tecnologia é "economicamente interessante" e pode funcionar como uma alternativa ao hidrogénio verde, no desígnio de substituir o gás natural.

A responsável confirmou ainda que a solução está a suscitar um "grande interesse" por parte dos clientes industriais da elétrica em vários mercados europeus, para já.         

A cooperação entre a EDP e a Rondo começou em 2023, através do Free Electrons, um dos programas de inovação da elétrica, que procura soluções de empresas "cleantech" inovadoras. Para a empresa californiana, a cooperação com a elétrica portuguesa será o seu primeiro passo para a expansão fora dos EUA e o "passaporte" para entrer na Europa e nos mercados comunitários.

"Temos já projetos em desenvolvimento em quatro continentes, em parceria com grandes investidores como a Rio Tinto e a Microsoft, entre outros. Em breve esta tecnologia de baterias térmicas será uma grande tendência no mercado, mas por enquanto nós somos os únicos com um projeto comercial já em operação", disse aos jornalistas, no mesmo evento, John O’Donnell, CEO da Rondo Energy, que debateu esta oportunidade de negócio com o CEO da EDP, Miguel Stilwell d'Andrade, na última COP no Dubai. Também o gerstor americano frisou as vantagens das baterias térmicas para descarbonizar a indústria, face ao advento do hidrogénio verde na Europa.  

Para a EDP, por seu lado, esta parceria "desbloqueia um novo mercado, ao substituir progressivamente os combustíveis fósseis queimados para produzir calor industrial" (que atualmente liberta 15% do CO2 mundial) e apresenta-se como uma oportunidade de cerca de 7 TWh.

A empresa pretende assim desenvolver até 400 MW de projetos eólicos e solares a médio prazo para alimentar até 2 GWh de baterias térmicas da Rondo, anunciou a EDP no mesmo dia em que o acordo entre as duas empresas esteve em destaque na conferência EDP Business Summit. O evento reuniu em Lisboa líderes da indústria para abordar os desafios e oportunidades que o setor energético enfrenta, e contou com a presença de Vera Pinto Pereira, CEO da EDP Comercial, e de John O’Donnell, CEO da Rondo Energy.  

No âmbito da parceria, as duas empresas vão passar a instalar em clientes industriais (atuais e futuros clientes da EDP) as baterias térmicas da Rondo Energy (em substituição das tradicionais caldeias a gás), que serão por sua vez alimentadas através da eletricidade "limpa" produzida por projetos solares descentralizados, no âmbito de contratos de longo prazo (Power Purchase Agreements - PPA), associados a ativos eólicos e solares da elétrica. Os primeiros projetos devem entrar em operação em 2025, garante a EDP.

Na prática, as unidades de produção de energia solar fotovoltaica serão instalados junto às baterias térmicas fornecidas pela startup americana, "numa solução - sem combustão e segura - para descarbonizar empresas que utilizam calor, desde indústrias alimentares, químicas e grandes complexos industriais", refere o mesmo comunicado.

Estas baterias térmicas capturam então a energia elétrica intermitente proveniente dos painéis solares para autoconsumo - instalados nas fábricas - e também da rede elétrica, através de contratos de venda (PPA), e convertem-na depois em calor que é libertado continuamente (ficando este armazenado em "tijolos" de argila produzidos na Tailândia, capazes de reter altas temperaturas). Além disso, esta solução permite também a opção de fornecer energia contínua através de uma configuração de cogeração, explica a EDP. A solução estará disponível nos principais mercados em que a EDP está presente.

"A tecnologia da Rondo abre uma grande oportunidade de negócio para a descarbonização dos nossos clientes com altas necessidades energéticas e que usam calor nas suas instalações industriais. Ao trabalhar com a Rondo, podemos responder às suas necessidades de energia com eletricidade renovável e calor de uma forma mais limpa, acessível e confiável. Esta parceria abre mais uma via de descarbonização", disse ainda Vera Pinto Pereira, administradora executiva da EDP.

Por seu lado, John O'Donnell, CEO da Rondo Energy, referiu que "o custo da energia solar diminuiu tanto na última década que está a tornar-se competitiva com o gás". "Ao trabalharem juntas, a Rondo e a EDP vão fornecer calor limpo 24 horas por dia a clientes industriais, a preços competitivos com o gás e sem alterações profundas nos processos de cada fábrica. Isto é muito importante para as empresas em todo o mundo".

Em 2023, a Rondo iniciou a operação de sua primeira unidade comercial de baterias térmicas, contribuindo para diminuir a intensidade de carbono do biocombustível produzido pela Calgren Renewable Fuels, na Califórnia. Este projeto foi o primeiro sistema de armazenamento de energia térmica elétrica em operação comercial nos EUA.

Também no ano passado, em parceria com o Siam Cement Group (SCG), a Rondo anunciou que está a expandir a sua capacidade de produção de 2 GWh/ano para 90 GWh/ano.
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