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Bruxelas quer contratos de luz com preços fixos, vários contadores em casa e tarifários dinâmicos
Apesar da proposta de reforma do mercado elétrico, a comissária europeia da Energia garantiu que "os pontos fundamentais mantêm-se intocados". "Ainda não estamos livres da crise energética na Europa", frisou Kadri Simson.
"A Comissão adotou uma revisão do mercado europeu de eletricidade. Foi anunciada pela presidente Von der Leyen em setembro do ano passado, e hoje finalizamos esta proposta para complementar as reformas para amortecer os impactos da crise energética", disse a comissária europeia da Energia Kadri Simson.
"Ainda não estamos livres da crise energética na Europa", frisou Simson, lembrando os preços altos e voláteis registados em 2022, no contexto da "guerra energética da Rússia contra a UE", que "sobrecarregaram excessivamente os consumidores".
A reforma do mercado elétrico da União Europeia "não irá alterar a mecânica de formação de preços no mercado de curto prazo [‘spot’]", mas responde às "falhas" que ficaram expostas com a crise energética, conseguindo uma "dissociação entre os preços da eletricidade e os preços do gás". "A nossa propostas tornará o mercado europeu de eletricidade apto para o futuro", salientou a comissária.
Contratos com preços fixos e tarifas dinâmicas
Esta proposta da Comissão Europeia permitirá então aos europeus optar por "preços seguros e de longo prazo", mas também por "contratos de preços dinâmicos para aproveitar a variabilidade de preços para usar eletricidade quando for mais barato (por exemplo, para carregar carros elétricos ou usar bombas de calor)".
Além de expandir a escolha dos consumidores, a proposta de reforma exige também que as empresas fornecedoras de energia façam uma melhor "gestão dos riscos de preços na extensão dos volumes sob contratos fixos, para uma menor exposição a picos de preços e volatilidade do mercado".
Bruxelas quer ainda obrigar os Estados-Membros a estabelecerem comercializadores de último recurso (CUR) e tarifas reguladas, tal como já existe em Portugal, por exemplo. A UE inverte assim o sentido em relação aos mercados regulados de energia, cuja extinção já tinha pedido anteriormente. Em Portugal, o mercado regulado foi prolongado e estará em vigor até 2025.
A proteção dos consumidores prevista pela reforma do sistema elétrico leva também a que, de acordo com a reforma proposta, os Estados-Membros protejam as famílias com faturas em atraso de eventuais cortes de enrgia. Estão previstos preços regulamentados pelos governos para famílias e PME em "caso de crise".
De acordo com a proposta, as regras de partilha de energia também devem ser reformuladas. "Os consumidores poderão investir em parques eólicos ou solares e vender o excesso de eletricidade aos vizinhos, e não apenas à rede", refere a Comissão Europeia em comunicado.
Reformar um mercado de eletricidade com 20 anos
Com a reforma do projeto de mercado de eletricidade da UE (que existe há mais de 20 anos e permitiu poupanças anuais de cerca de 34 mil milhões de euros por ano), o Executivo comunitário quer: acelerar a capacidade instalada de energias renováveis (tem de triplicar até 2030), eliminar gradualmente o gás, reduzir os preços da energia elétrica torná-los menos dependentes dos preços voláteis dos combustíveis fósseis, garantir que o custo mais baixo das energias renováveis é refletido nas faturas dos consumidores, acautelar futuros picos de preços e potencial manipulação do mercado.
Para melhorar a flexibilidade do sistema de energia, os Estados-Membros deverão apostar numa maior capacidade de armazenamento. A reforma também permite que os operadores do sistema elétrico imponham uma redução na produra de energia nos horários de pico.
A proposta que esteve em consulta pública e está agora a ser considerada prevê revisões de vários atos legislativos da UE – nomeadamente o Regulamento da Eletricidade, a Diretiva da Eletricidade e o Regulamento REMIT -- e introduz contratos de longo prazo.
Tendo em conta que em 2022 muitas empresas foram severamente afetadas por preços de energia excessivamente voláteis, a Comissão Europeia quer agora facilitar o recurso a contratos de longo prazo mais estáveis, como os Acordos de Compra de Energia (PPA).
Por outro lado, para garantir estabilidade de receita aos produtores de energia, os apoios públicos a novos investimentos em geração de eletricidade renovável terão de ser feitos na forma de contratos por diferença bidirecionais (CfD), com as receitas a serem canalizardas para os consumidores.
"Estes dois instrumentos serão fundamentais para aumentar a estabilidade e previsibilidade dos custos da energia em toda a UE", defendeu Kadri Simson, prevendo que com os CfD bidirecionais será possível aumentar a produção solar na Europa em 50 GW e eólica em 30 GW, com receitas de 12 mil milhões de euros para os Estados-membros.
Finalmente, a Agência para a Cooperação dos Reguladores de Energia (ACER) e os reguladores nacionais (a ERSE em Portugal) terão maior capacidade de monitorizar a transparência do mercado de energia.
A proposta de reforma do mercado elétrico europeu seguirá agora para ser discutida e aprovada pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho, antes de entrar em vigor. "Apelo ao Parlamento para que trate este dossier como prioritário para que possamos concluir a resposta legislativa à crise energética o mais rápido possível", rematou a comissária.