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Bruxelas ignorou alertas da Concorrência em relação aos CMEC
Depois de Bruxelas ter dado um primeiro parecer acerca da legalidade dos contratos que marcaram a transição para o mercado liberalizado, os CMEC, a AdC reiterou as suas preocupações, com a submissão de mais dados. Estes alertas nunca tiveram resposta, afirma o ex-presidente da AdC.
Depois de a Comissão Europeia se ter pronunciado uma primeira vez sobre os CMEC, afirmando que estes são ajudas de Estado "consideradas compatíveis com o mercado interno", tal como esclareceu o antigo presidente da Autoridade da Concorrência (AdC), António Ferreira Gomes, a AdC voltou a "reiterar as preocupações" relativamente a este regime contratual, já com "elementos concretos". A esta segunda interpelação, "não tive reação de Bruxelas", afirma o ex-presidente da AdC. E recorda: "quem estava mais próximo dos factos, Abel Mateus (presidente da AdC entre 2003 e 2008, a época de elaboração dos CMEC), colocou algumas dúvidas".
As declarações foram proferidas por Ferreira Gomes perante a Comissão Parlamentar de Inquérito ao Pagamento de Rendas Excessivas aos Produtores de Eletricidade, esta quinta-feira, 21 de fevereiro, na qual os deputados pretendem apurar se os produtores do setor saíram beneficiados dos acordos com o Estado, acabando, consequentemente, por prejudicar os consumidores.
O antigo responsável da Concorrência diz ter comunicado à entidade europeia competente tanto os riscos de sobrecompensação à EDP como os riscos de agravamento dos custos aos consumidores, e explica a insistência: "da parte da AdC, fizemos a recomendação, até porque há uma questão importante que a Comissão podia ter tomado em conta; em 2004, não havia MIBEL nem mercado de serviços de sistema". Ferreira Gomes sublinha ainda a "dimensão e expressividade dos regimes protegidos": a energia proveniente de regimes contratuais garantidos valiam à data quatro quintos da energia transacionada em Portugal continental.
Questionado acerca da idoneidade que atribui à direção da Concorrência em Bruxelas, Ferreira Gomes afirma que conhece "um trabalho de rigor", o que "não significa que por vezes não se engane e não significa que, quando se enganam, não possam estar sujeitos a um escrutínio judicial da sua atuação". Contudo, ressalva que não pretende um tom acusatório. "Não estou a dizer neste caso que falhou ou não falhou, ou a tentar intuir a ideia que houve falha de análise", conclui.