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Bactéria antiga extrai combustível da luz do sol no deserto do Novo México

Uma equipa de cientistas conseguiu recriar uma bactéria antiga que produz etanol sem emissões de dióxido de carbono. Basta-lhe a luz do sol, resíduos de CO2 e água não potável. O combustível obtido pode vir a ser mais barato do que o petróleo.

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Ancient Bacteria Sweat Fuel Under New Mexico's Desert Sun
21 de Maio de 2015 às 03:10
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Na cidade de Hobbs, junto ao deserto do Estado norte-americano do Novo México, o petróleo é uma das principais fontes de rendimento dos seus cerca de 70.000 habitantes. Mas há uma nova fonte de produção de combustível que se está a revelar promissora.

 

Serge Tchuruk, que foi chairman e CEO da Alcatel e da Total, foi nomeado em 2014 presidente executivo da Joule Unlimited – a empresa norte-americana pioneira na conversão de CO2 em combustíveis líquidos a partir do sol, que começou por se chamar Joule Biotechnologies – e é um firme crente nesta tecnologia. Diz que trabalhou muitos anos na indústria do petróleo, que não acredita em milagres, mas que em seis meses se "converteu".

 

E o que faz esta empresa no deserto do Novo México? Em 2010, uma equipa de cientistas da Joule recriou uma bactéria com milhares de milhões de anos para poder extrair combustível a partir da luz solar, CO2 e água não potável. Em 2011 patenteou a inovadora descoberta e agora está a aplicar o processo.

 

De forma resumida, trata-se de um projecto que recorre a microorganismos fotossintéticos que transformam a luz solar e os resíduos de dióxido de carbono – que são alimentados em biorreactores – numa fonte de energia limpa. Ou seja, combustíveis alternativos que não derivam do petróleo ou outros hidrocarbonetos poluentes.

 

Conforme explica a EcoDesenvolvimento, a patente da Joule consiste em duas enzimas de cianobactérias que são combinadas para gerarem hidrocarbonetos numa única etapa, "convertendo a luz solar captada em energia líquida, que pode ser etanol ou diesel".

 

Ou seja, a empresa modificou cepas de microorganismos fotossintetizantes para produzir combustíveis recorrendo apenas ao sol, CO2 e nutrientes, em vez de recorrer ao açúcar, sublinha a Technology Review.

 

"Isto significa ter combustível que não tem de ser prospeccionado, fracturado [sujeito a fracturamento hidráulico (o chamado ‘fracking’) – injecção de um fluido a alta pressão, no subsolo, para facilitar a extracção de crude] ou cultivado, e que não emite dióxido de carbono", refere Ramy Inocencio, da Bloomberg, que esteve na cidade de Hobbs a acompanhar o processo de criação deste "ouro verde".

 

O processo consiste, então, em alimentar a bactéria - criada laboratorialmente - com resíduos de CO2 (azoto e vapor de água). A bactéria faz o resto, já que com a luz do sol cria uma espécie de exsudação, sendo possível obter esta energia renovável, conforme explicou à EarthSky um co-fundador da Joules Unlimited e professor de Genética na Universidade de Harvard, George Church.

 

"A sua produção utiliza apenas água residual salgada, dióxido de carbono e uma bactéria mágica, aliás uma cianobactéria. Trata-se de organismos monocelulares que medem alguns milésimos de milímetro e são dos mais antigos seres vivos do planeta. A Joule Unlimited conseguiu fazer alterações genéticas para que, na presença de dióxido de carbono, água salgada e luz solar, a bactéria produza uma corrente contínua de hidrocarbonetos, como o etanol. Depois, basta retirar a água e tratar os hidrocarbonetos e obtém-se a base para o E85 (85% de etanol e 15% de gasolina) pronto a ser queimado em motores ligeiramente modificados", conforme explicou a SuperInteressante num artigo intitulado ‘Bactéria Mágica’.

 

Mesmo tratando-se de uma bactéria, o organismo possui potencial e rendimento suficientes para substituir toda a infra-estrutura dos combustíveis fósseis numa escala significativa e com custos muito competitivos, acredita a empresa.

 

"Outras empresas, como a LS9 e a Amyris, também usam bactérias geneticamente modificadas para produzir biocombustíveis, mas estes são concebidos para criar açúcares e só depois é que são transformados em combustíveis. A descoberta da Joule Unlimited diferencia-se por tornar esse processo mais rápido e económico", refere a EcoDesenvolvimento.

 

Esta fábrica de combustíveis sintéticos, instalada pela Joules no Novo México, está assim a produzir etanol, seguindo-se o gasóleo e posteriormente a gasolina sintética. E a Joules está convicta de que, quando o processo se tornar comercialmente rentável, o combustível obtido poderá vir a ser mais barato do que o petróleo.

 

 
Bactérias mais promissoras do que as algas

O procedimento utilizado pela Joule Unlimited é semelhante aos processos de utilização de algas para a produção de biocombustíveis, mas é mais produtivo e eficiente. É que a maioria dos processos que recorrem às algas consiste em cultivar microalgas e aproveitar a sua biomassa para delas extrair óleos, sendo que são limitados pelo ritmo de crescimento das algas, conforme explica um artigo da Breaking Energy intitulado ‘Do CO2 para os combustíveis através da fotossíntese’.

 

"O processo da Joule retira a biomassa da equação e usa bactérias geneticamente modificadas para produzir etanol ou hidrocarbonetos directa e continuamente a partir das suas próprias células. As bactérias circulam através de uma série de tubos cheios de água, nutrientes e resíduos de dióxido de carbono industrial, que são expostos à luz solar. Durante o processo, o combustível obtido, seja etanol, diesel ou outro hidrocarboneto, é continuamente separado. As filas de tubos são dispostas de forma modular, permitindo que cada suporte dos tubos seja limpo, retirando e limpando a bactéria usada e reenchendo-os enquanto a restante produção prossegue", sublinha a mesma fonte.

 

Após cerca de oito semanas de produção, as bactérias são removidas e incineradas, sendo introduzidas no sistema novas bactérias. "Entre as vantagens do sistema usado pela Joule está o facto de se poder utilizar água salgada como agente circulante, eliminando a necessidade de água potável. Isto reduz os custos e os impactos ambientais, além de que as instalações podem localizar-se em zonas de escassez de água potável", refere ainda a Breaking Energy.

 

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