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2024 é o ano que Mexia fica livre para voltar a trabalhar em empresas de energia

Afastado em 2020, o ex- CEO da EDP volta esta quinta-feira à praça pública para dar uma palestra sobre um tema que domina bem: "Liderança na Energia – Mitos e Realidades".

Tiago Sousa Dias
11 de Janeiro de 2024 às 16:17
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2024 marca o ano em que António Mexia, agora com 66 anos - professor universitário, ex-ministro e ex-CEO da EDP (cargo que ocupou durante quase uma década e meia, e do qual foi afastado em julho de 2020 depois de ter sido constituído arguido no caso das alegadas rendas excessivas) - ficará finalmente livre  para trabalhar de novo em empresas de energia, em Portugal ou noutro país qualquer. Se o fará ou não, e se são esses os seus planos para este novo ano que agora começa, só o próprio o saberá dizer. 

Ao fim de quase quatro anos na sombra, em que o seu nome praticamente deixou de ser ouvido (exceto no contexto do processo que ainda decorre e se arrasta em tribunal), Mexia volta esta quinta-feira à praça pública - mais concretamente ao grande auditório do Taguspark, em Lisboa -, para dar uma palestra sobre um tema que domina bem: "Liderança na Energia – Mitos e Realidades".

De acordo com os organizadores da mesma, a palestra servirá como "partilha de conhecimento e experiências" do antigo gestor e tem como objetivo "abordar o papel decisivo que o setor da energia e as suas empresas têm para o desenvolvimento sustentável e crescimento da economia portuguesa".
 
Enquanto alguém que "esteve no centro da tomada de decisão" (ocupou ao longo de 25 anos o cargo de CEO nas grandes empresas de energia, EDP, Galp, GDP e Transgás), Mexia falará das "escolhas feitas e a fazer perante os desafios e oportunidades que a transição energética representa para um Portugal mais inclusivo e competitivo".

Sobre as suas próprias escolhas para o futuro, as perguntas são muitas, mas ainda não é certo se Mexia estará já pronto para dar as respostas. Restam as escolhas que fez no passado. 

Ao contrário de João Manso Neto, também ele afastado do cargo de CEO da EDP Renováveis em 2020 (pelo mesmo motivo), que preferiu abdicar de parte dos milhões pagos pela EDP e nestes três últimos anos transformou a Greenvolt num caso de sucesso em Portugal, Mexia tem recebido religiosamente todo o valor que lhe cabe.

Em 2022 recebeu da EDP 1,4 milhões de euros: 692 mil euros relativos ao ano de 2019 e mais 800 mil euros, que correspondem à contrapartida da "obrigação de não concorrência". 

Em causa está o compromisso, assinado por Mexia, de não ir trabalhar para outra companhia energética, quando renunciou ao cargo que exercia em 2020 no âmbito do processo judicial em que foi constituído arguido por suspeitas da prática de crimes de corrupção ativa e participação económica em negócio.

No momento da sua saída da EDP, e depois do Ministério Público ter pedido a suspensão de Mexia do cargo de presidente executivo, a empresa negociou o pagamento de 800 mil euros por ano, durante três anos (até 2023, portanto), acrescido do pagamento de prémios de seguro de saúde e de seguro de vida, assim como do Seguro de Vida PPR.

Tudo isto para garantir que Mexia não fosse trabalhar para uma empresa concorrente, tendo em conta o acesso que teve aos planos de negócio da EDP e a outra informação sensível. 

Também Manso Neto, à data CEO da EDP Renováveis foi constituído arguido pela suspeita dos mesmos crimes, que terá praticado em coautoria com Mexia. O agora CEO da Greenvolt recebeu em 2022 499 mil euros da EDP referentes ao exercício de 2019. No entanto, abdicou da cláusula de 'não concorrência' que lhe daria 1,7 milhões de euros.

Enquanto isso, continua a decorrer no Juízo Central Criminal de Lisboa o julgamento do chamado Caso EDP. Há menos de um mês, neste mesmo julgamento, o empresário Vasco Mello garantiu que a nomeação de António Mexia para a presidência da EDP em 2006 partiu dos acionistas privados e não resultou de um acordo entre Manuel Pinho e Ricardo Salgado, refutando assim a informação que constava da indiciação do Ministério Público. Esta apontava para um alegado acordo entre o ex-ministro da Economia e o ex-presidente do Banco Espírito Santo sobre a indicação do nome de António Mexia para CEO.

"António Mexia foi uma sugestão nossa. Não sei quem Manuel Pinho queria indicar. António Mexia foi indicado como presidente executivo e António de Almeida como presidente do conselho de administração. E isso não foi sugestão nossa, terá sido a demonstração de vontade por parte do Estado", disse  Vasco Mello.

Ao fim de quase 12 anos, a acusação no âmbito deste processo terá de acontecer também em 2024, e já no próximo mês de março. 
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