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O maior porta-contentores do mundo tem nome de menina, força de Hércules e está protegido pela Madonna

O MSC Zoe parou em Portugal na sua viagem inaugural. O Negócios foi conhecer este colosso dos mares que tem capacidade para transportar 19 mil contentores, o equivalente à distância a ir de Lisboa a Leiria.

14 de Agosto de 2015 às 20:30
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O maior porta-contentores do mundo tem nome de menina de quatro anos, mas tem tanta força como Hércules. Os seus 82 mil cavalos de potência vão transportar regularmente mais de 19 mil contentores entre a Europa e o sudoeste asiático.

Na sua viagem inaugural, partiu da Alemanha, parou em Sines e seguiu rapidamente para Singapura. Entre chegar ao destino final e regressar ao ponto de partida são mais de 24 mil quilómetros, que serão navegados em dois meses e meio. Na sua rota, vai cruzar sete mares: o Mar do Norte, Mediterrâneo, Vermelho, Arábico, das Laquedivas, de Andamão e também os oceanos Atlântico e Índico.

O Negócios visitou este colosso dos mares durante a sua curta paragem em Portugal. Ao chegar ao cais do terminal XXI do Porto de Sines, a movimentação era frenética com quatro pórticos, gruas a movimentar a mercadoria, a carregar e a descarregar contentores do Zoe. Foi um dia em cheio em Sines com 1.500 contentores movimentados só neste navio.

Para subir ao Zoe, é preciso escalar 79 degraus através de uma dançante escada metálica. Já a bordo, um elevador assegura a ligação entre o convés e a ponte de comando, o cérebro do navio. Com uma altura de 74 metros do porão à ponte de comando, o Zoe tem 11 andares no total.

À chegada à ponte, o capitão Pica Domenico dá as boas-vindas. Apesar do momento ser mais calmo no centro de comando, com o navio atracado, o experiente oficial está sempre atento às operações de carga e descarga. 

Italiano, originário da província de Napóles, Domenico conta com 26 anos de experiência como capitão. Este é o maior navio que já comandou e assegura que este novo desafio não o assusta: "É a mesma coisa para mim. Um navio é um navio".

O capitão passou de navios com capacidade máxima para 17 mil TEU (unidade que equivale a um contentor com mais de seis metros) para um com 19.200 TEU. "A única grande diferença entre este e outros navios é o peso. É um bocadinho pesado".

A única grande diferença entre este e outros navios é o peso. É um bocadinho pesado. Mas um navio é um navio.
Pica Domenico, capitão do Zoe


E sendo mais pesado, é mais difícil de manobrar? "Apesar de ser mais pesado, para manobrar não há problemas. Se estiver carregado aplica-se mais velocidade. É como num carro, sem a velocidade não nos conseguimos mexer", explica ao Negócios.

Entre um navio mais leve ou mais pesado, Domenico não tem dúvidas. "Prefiro navegar com o navio mais pesado, é muito melhor: Fica mais sólido, mais estável". Totalmente carregado, o navio conta com 193 mil toneladas de peso, mais do que o consumo total de arroz por ano em Portugal.

Sines pode ganhar com a expansão do Suez

O Canal do Suez no Egipto foi recentemente expandido. Com estas obras, a sua capacidade diária vai dobrar até 2023: dos actuais 47 navios para 97 navios. E este aumento do tráfego no atalho entre a Ásia e a Europa pode vir a beneficiar o porto deno futuro. "Sines pode ganhar muito com isso, porque a expansão vai facilitar o tráfego do Oriente para a Europa, diminuindo os tempos de espera no canal", defende o presidente do Porto de Sines. Este ganho será no "médio prazo" pois Sines tem "capacidade para receber os maiores do mundo", destaca João Franco.


Durante a visita à ponte do Zoe, outro membro da tripulação mantém-se sempre atento ao que se passa na casa das máquinas, através do seu "walkie-talkie", escutando e dando ordens.O seu nome é Kascelan Ilija, o engenheiro-chefe do navios. É ele o chefe da casa das máquinas, o coração que dá força ao Zoe para navegar. 

"Este motor é um pouco maior do que outros navios, tanto em tamanho como em potência. Tem um comprimento de 59 metros e tem um potente motor com 82 mil cavalos", explica o montenegrino que conta com 44 anos no mar.

"Com o navio completamente carregado, este navio tem uma velocidade de 22,5-23 nós", o que dá uma velocidade máxima de mais de 42 quilómetros por hora, afirma.

O engenheiro-chefe fala da sua profissão com amor - "adoro o meu trabalho, adoro o mar" - e destaca a importância do bom relacionamento entre a tripulação de 22 homens para o trabalho correr bem: "Temos um bom ambiente e isso é muito importante".

É fácil entrar e sair do porto

Durante a visita do Negócios ao navio, a qualidade de Sines como porto foi destacada em várias conversas. Mas o que é que o distingue dos grandes portos do norte da Europa?

"Este porto tem a vantagem de não ter barra, é aberto ao mar, e como tal os navios entram e saem com grande celeridade. As rotas norte-sul e este-oeste estão muito próximas", explica João Carlos Simões da Administração do Porto de Sines.

"É muito fácil entrar e sair para o mar, e não tem canal, ao contrário de Antuérpia e Roterdão que são portos muito grandes, mas têm esse constrangimento", sublinha.

É muito fácil entrar e sair para o mar no Porto de Sines. Não tem canal, ao contrário de Antuérpia e Roterdão que têm esse constrangimento"
João Carlos Simões, Administração do Porto de Sines

É a partir da ponte que Pica Domenico controla a navegação do Zoe, que foi baptizado com o nome da neta de quatro anos do fundador e presidente executivo da companhia. Cinco grandes ecrãs fornecem toda a informação necessária para assegurar uma navegação tranquila e que as mercadorias chegam intactas ao seu destino.

É com as tempestades que é preciso ter particular cuidado, avisa o capitão, garantindo que uma das mais-valias deste navio é a sua estabilidade. "Com mau tempo, o Zoe nem se mexe. É como uma rocha. Até ondas de cinco metros não há problema, só depois de 5 metros é que é preciso ter cuidado".


O segredo é cortar as ondas ao meio, confidencia o capitão. "É preciso entrar nas ondas na diagonal, não podemos entrar a direito. Quanto mais cortarmos as ondas, mais fácil se torna".

Sines tem capacidade para receber os maiores do mundo

A escala do maior porta-contentores do mundo em Sines foi recebida com "entusiasmo" pelo presidente da Administração do Porto de Sines. Mas, ao mesmo tempo, João Franco encara esta paragem com "muita naturalidade".

E explica porquê: "Para nós, isto é algo que iria acontecer inevitavelmente, porque temos todas as condições para receber os maiores e os mais modernos navios do mundo, com qualquer tipo de carga, e em todos os terminais".

Sines tem todas as condições para receber os maiores e os mais modernos navios do mundo
João Franco, presidente da Administração do Porto de Sines

CP Carga quer liderar em Portugal e Espanha
A MSC Portugal foi a vencedora da privatização da CP Carga. Com esta aquisição, a companhia marítima pretende apostar forte no transporte de mercadorias. "Nós temos um objectivo: Fazer da CP Carga o primeiro operador ferroviário de mercadorias da Península Ibérica", disse o presidente da MSC, Carlos Vasconcelos. Em Espanha, a CP Carga vai contar com um concorrente de peso: a Renfe. "É desses concorrentes que a gente gosta. Vai dar trabalho com certeza, mas estamos cá para isso."


O Zoe é propriedade da Mediterranean Shipping Company (MSC), empresa que deixa elogios a Sines. "Este porto está muito bem preparado e na Europa é dos poucos portos com capacidade para receber este navio", aponta o presidente da MSC Portugal.

Carlos Vasconcelos destaca que o verdadeiro desafio é ter estes grandes porta-contentores a pararem regularmente em Portugal. "Trazer um navio destes não é só o acto de o trazer, é ter a responsabilidade de conseguir assegurar condições para atrair mais navios destes".

Neste momento ainda não é certo o regresso deste navio a Portugal, afirma o responsável da MSC, que espera ter "o Zoe ou um dos seus irmãos gémeos a escalar regularmente o porto de Sines".

A Zoe está protegida pelos santos

O MSC Zoe foi baptizado no início de Agosto no Porto de Hamburgo e já conta com dois irmãos gémeos: o Oscar e o Oliver que já navegam há vários meses.

Uma das paredes da ponte de comando está decorada com três imagens religiosas e com a "oração dos marinheiros". Questionado sobre estas imagens, o capitão conta a história por detrás delas. É que o Zoe foi construído nos estaleiros da Daewoo na Coreia do Sul e navegou mais de 12 mil quilómetros sem ser benzido por um padre.

Apesar de toda a tecnologia de ponta e a qualidade da construção, Pica Domenico não via com bons olhos esta possibilidade e optou por fixar as imagens da Madonna (Nossa Senhora) de Pompeia, de Jesus Cristo e de Sant'Agnello, da sua terra natal. Para o experiente capitão, toda a ajuda é bem vinda quando se trata de cruzar os setes mares. "Estes são os meus santos. Esta é a protecção do navio".

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