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Provável insolvência da Inapa Portugal poderá "salvar o negócio, diz administrador judicial
"A tentativa será essa: tudo fazer para, rapidamente, encontrar uma solução que viabilize a continuidade do negócio da Inapa, que tem valor pela antiguidade da empresa no mercado e pela capilaridade dos seus clientes e nível de fidelização que tem", diz Bruno Costa Pereira.
O administrador judicial da Inapa Portugal apresenta até final da próxima semana um parecer que deverá apontar para a insolvência, face à inviabilização de um plano de revitalização, mas acredita que este será o caminho para "salvar o negócio".
"Acredito que é possível salvar o negócio e não sair do mercado, porque a empresa continua a vender", afirmou Bruno Costa Pereira em declarações à agência Lusa.
Segundo o administrador judicial, "com alto nível de probabilidade, aquilo que irá acontecer é que a insolvência garante que a empresa se mantém debaixo do regime de proteção judicial, com a capacidade de continuar a operar sem a disrupção que poderia ser trazida pelo facto de ter dívidas que não foram reestruturadas no âmbito do PER [Processo Especial de Revitalização] e a consequente possibilidade de os credores poderem agir de forma isolada contra a empresa".
Neste "clima regulado, sem preocupação com o passado", Bruno Costa Pereira acredita que a Inapa Portugal - empresa de distribuição de papel do grupo Inapa-Investimentos, Participações e Gestão (Inapa IPG), que em julho do ano passado anunciou a insolvência -- poderá "encontrar soluções que permitam ou a venda do negócio, ou um projeto de capitalização", mantendo assim a atividade.
"Com o conhecimento que tenho do projeto, tenho a absoluta tranquilidade de que a Inapa Portugal consegue estar num processo de insolvência e ver os credores serem chamados a discutir o futuro da empresa, garantindo o cumprimento das obrigações laborais e das obrigações fiscais e contributivas, como aliás vem fazendo até esta data", sustentou.
Bruno Costa Pereira salienta, aliás, que "a tentativa será essa: tudo fazer para, rapidamente, encontrar uma solução que viabilize a continuidade do negócio da Inapa, que tem valor pela antiguidade da empresa no mercado e pela capilaridade dos seus clientes e nível de fidelização que tem".
Num requerimento disponibilizado na quarta-feira no portal Citius, dirigido ao Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa Oeste, o administrador judicial refere que a Inapa Portugal "informou da impossibilidade de viabilização de um plano de revitalização, pelo que deve ser dado por encerrado o período de negociações".
Como resultado, determina um prazo de cinco dias para "auscultação da devedora e dos credores, após o que juntará aos autos um "parecer sobre se a devedora se encontra em situação de insolvência".
Em julho do ano passado, a 'holding' Inapa IPG anunciou a insolvência devido a uma "carência de tesouraria de curto prazo" da sua subsidiária Inapa Deutschland GmbH no montante de 12 milhões de euros, para a qual não foi encontrada solução.
Fundado em 1965 e líder em Portugal na distribuição de papel e embalagens, o grupo Inapa tem como principal acionista a empresa pública Parpública, com 44,89% do capital social.
Em agosto, as Finanças demitiram a administração da Parpública, liderada por José Realinho de Matos, e escolheram Joaquim Cadete para lhe suceder.
A saída foi justificada com a existência de uma postura mais reativa do que preventiva da administração, bem como com a falta de prestação de informação atempada ao ministério, segundo o Jornal de Negócios.
Na terça-feira, durante uma audição na Comissão de Orçamento, Finanças e Administração Pública, por requerimento do Chega, o antigo presidente executivo da Inapa, Frederico de Moser Lupi, garantiu que procuraram no mercado alternativas ao desfecho da empresa e que a Parpública acompanhou "sempre" a atividade da empresa.
"Procurámos alternativas no mercado várias vezes. [...] Eu próprio tomei a iniciativa de procurar um investidor que estivesse interessado em participar no capital da Inapa", assegurou o gestor durante a audição no parlamento.
Ouvido no parlamento no mesmo dia, o antigo presidente da Parpública José Realinho de Matos defendeu que o problema da Inapa é "mais estrutural do que conjuntural" e que a distribuidora de papel "deu um passo maior do que as pernas", nomeadamente na expansão na Alemanha.
"Desde 2020 que a Inapa tinha vindo a solicitar apoios públicos direcionados ao acionista Parpública", afirmou, lembrando a complicada situação financeira que a empresa já vinha a relatar e as quebras de cerca de 20% do mercado nos últimos anos.