Notícia
Porto acusa Governo de querer proteger privados no terminal do Barreiro
A Associação Comercial do Porto (ACP) acusa o Governo de pretender “colocar o Estado na condição de avalista de investidores privados para garantir" a construção de um terminal portuário no Barreiro, uma infra-estrutura que considera "desnecessária, redundante e ruinosa”.
"Porto do Barreiro: a Ota do Mar". É assim, em tom provocatório, aludindo ao facto de o Governo ter trocado a Ota pelo Montijo para a construção de um novo aeroporto na região de Lisboa, que a Associação Comercial do Porto (ACP) reage à intenção assumida pela ministra do Mar no sentido de o Executivo liderado por António Costa fazer avançar a construção de um terminal portuário na margem sul do Tejo.
"Invocando argumentos desfasados da realidade portuária nacional, fica a sugestão de que o Governo pretende colocar o Estado português na condição de avalista de investidores privados para garantir uma infra-estrutura que é desnecessária, redundante e ruinosa", acusa a ACP, que é liderada por Nuno Botelho, que sucedeu no cargo a Rui Moreira, actual presidente da Câmara do Porto.
Sobre o estudo promovido pela ACP, que "prova que o porto do Barreiro não é necessário nem viável", a associação critica o facto de a ministra Ana Paula Vitorino, apesar de ter revelado publicamente que tinha recebido o documento intitulado "Terminais Portuários e Infra-estruturas Logísticas em Portugal", enviado em 29 de Junho do ano passado, a sua recepção "jamais havia sido confirmada".
De resto, frisa a ACP, "a forma como [a ministra] a ele se refere", em entrevista ao diário "Público", na edição de 29 de Janeiro passado, "revela, no entanto, o total desconhecimento quanto ao conteúdo daquele documento", algo que a instituição centenária do Porto considera "lamentável e preocupante".
Promovido pela ACP, o estudo foi desenvolvido pelo Centro de Estudos em Economia e Gestão da Universidade Católica Portuguesa, no Porto, e pela consultora de transportes e território TRENMO, sob orientação de Álvaro Nascimento e de Álvaro Costa.
À luz das conclusões deste estudo, a ACP diz que "não pode deixar de manifestar publicamente a sua perplexidade pelo facto do Governo vir agora anunciar a intenção de construir no Barreiro um novo terminal portuário, como o que existe a funcionar em Alcântara, se houver operadores privados interessados".
Para a associação presidida por Nuno Botelho, "é difícil perceber que interesse terão empresas privadas em investir no Barreiro, a não ser que o Estado lhes venha assegurar os riscos do negócio, que vão ser certamente elevado", alerta.
"A construção de um terminal de contentores no Barreiro, seja qual for a sua configuração, não só não vai preparar o País para as perspectivas de crescimento de tráfego antecipadas pela senhora ministra, como também não irá contribuir para fazer face às alterações das frotas de navios que se avizinham à escala global e que, precisamente, reclamam a reconversão dos portos para terminais de águas profundas", conclui a ACP, em comunicado.
O estudo promovido pela ACP concluiu, em primeiro lugar, que os portos portugueses "só conseguem ser competitivos à escala internacional caso haja uma aposta sólida na melhoria das acessibilidades aos principais portos nacionais – Leixões, Lisboa e Sines – com reforço da sua interconectividade".
Em segundo lugar, "mas decorrente dessa premissa", defende que "não há necessidade urgente de construir novas infra-estruturas portuárias marítimas para dar resposta aos aumentos previsíveis da procura".
Verifica-se, sim, considera o mesmo estudo, "a necessidade de se realizar investimentos pontuais nos dois portos que são, actualmente, os mais relevantes para o sistema portuário nacional: o porto de Leixões, como grande entreposto de exportação e com forte ligação ao tecido económico regional e que se encontra no limite da capacidade; e o Porto de Sines, uma plataforma com posição privilegiada no apoio à logística das grandes rotas internacionais".
Ou seja, remata o estudo, "por muito que a economia portuguesa venha a crescer nos próximos anos, não haverá ‘hinterland’ [área de influência] que justifique a construção de novos portos de mar, muito menos em Lisboa, cujo porto ainda está longe de atingir a capacidade instalada".
(Notícia actualizada às 15:42)