Notícia
2006 - Ousadia de Paulo Azevedo gerou maior negócio de sempre
Foi o ano da reforma da Segurança Social, foi o ano do Simplex, foi o ano da ASAE. Mas acima de tudo foi o ano de OPA, e logo duas: a Sonaecom tentou comprar a PT e o BCP tentou comprar o BPI. Ambas falharam. Lá fora, Saddam Hussein foi morto.
Figura do ano
Foi um ano de recordes: a bolsa de Lisboa subiu 30%, como nunca antes se tinha visto. Portugal começou a impulsionar as energias renováveis, o Governo socialista começou a aplicar o Simplex, a Segurança Social foi reformada e passou a contar com o factor de sustentabilidade e a ASAE começou a patrulhar todos os estabelecimentos comerciais. Mas o que realmente marcou 2006 foram as Ofertas Públicas de Aquisição – OPA, um termo que voltou de supetão ao léxico dos portugueses. E Paulo Azevedo foi responsável pela maior que o País já vira.
do capital da PT (50,01%), a operação teve um valor de 10,7 mil milhões de euros. O valor oferecido pela Sonaecom representava uma valorização de 16,1% pelas acções da PT, que negociavam a 8,18 euros.
A 27 de Dezembro de 2006, o Negócios escrevia que esta operação teve muito a dever a Paulo Azevedo, pela visão, arrojo, diplomacia e contributo para as telecomunicações. Paulo Azevedo, à altura com 39 anos, conseguiu tirar o sono a Henrique Granadeiro, na altura o "chairman" da PT, e conseguiu colocar os reguladores em posições antagónicas. Mas não foi só isso: Paulo Azevedo conseguiu fazer disparar a valorização em bolsa da empresa que liderava. Apenas um ano depois do lançamento da OPA, as acções da empresa valorizaram 800 milhões de euros. As da PT também. Paulo Azevedo foi a figura de 2006.
A OPA da Sonaecom à PT demorou mais de um ano a ser concluída, e acabou a ser rejeitada. A empresa liderada por Paulo Azevedo chegou a aumentar o preço que oferecia pelas acções de 9,5 euros para 10,5 euros. Nada disso foi suficiente para convencer o conselho de administração, que rejeitou a proposta. Em Março de 2007, a assembleia geral da PT rejeitou a desblindagem dos estatutos, o que confirmou oficialmente que a operação ficava sem efeito. Quanto a Paulo Azevedo, assumiu em 2007 a presidência executiva (CEO) da casa-mãe Sonae, sucedendo ao pai, Belmiro de Azevedo, que se tornou o "chairman", ou presidente não-executivo.
As acções da Sonaecom, que chegaram a negociar nos 5,74 euros, estão agora abaixo dos dois euros. As da PT valem pouco menos de três euros.
Facto nacional
ASAE lança-se a todos os negócios que mexem
A Autoridade de Segurança Alimentar e Económica nasceu em Janeiro de 2006, agregando num só órgão, com estatuto de polícia criminal, as inspecções económicas e alimentares. E apareceu com estrondo, percorrendo feiras, encerrando gasolineiras, visitando supermercados, apreendendo produtos contrafeitos e fechando diversos restaurantes que não cumpriam as condições mínimas de higiene.
A ASAE, liderada (então) por António Nunes, realizou no ano de estreia 2.143 operações de fiscalização, para as quais contou com 6.202 brigadas. As acções, algumas muito mediáticas, resultaram no encerramento de 505 estabelecimentos.
Facto internacional
Julgamento de Saddam Hussein
Os Estados Unidos invadiram o Iraque em Março de 2003 e só demoraram nove meses a capturar o ditador Saddam Hussein, que estava escondido num buraco. Contudo, julgar Saddam Hussein foi um processo bem mais moroso. O Governo interino iraquiano ficou com a custódia do ex-líder em 2004 e o julgamento começou nessa altura. O Tribunal Especial do Iraque, constituído de propósito para julgar crimes contra a humanidade e outros crimes de guerra cometidos entre 1968 e 2003, condenou Saddam Hussein à morte em Novembro de 2006.
Saddam Hussein recorreu da pena de morte a que foi condenado, mas sem sucesso.
A execução do ex-presidente iraquiano teve lugar a 30 de Dezembro de 2006. Saddam Hussein recusou usar o capuz antes de ser enforcado. A saída do ditador não acalmou a situação: desde a entrada dos americanos no território, morreram 100 mil cidadãos e 4.500 soldados americanos.
Os Estados Unidos saíram do Iraque no final de 2011.
Imagem do ano
Cavaco Silva eleito para o primeiro mandato em Belém
Depois de mais de uma década afastado da política activa, Cavaco Silva regressou em 2006, ao ser eleito para a Presidência da República. Cavaco Silva foi eleito para Belém à primeira volta, a 22 de Janeiro, por apenas algumas décimas: obteve 50,59%. Por pouco menos haveria uma segunda volta. Cavaco Silva regressou à política após dez anos fora do activo. Foi primeiro-ministro entre 1985 e 1995, ano em que resolve pôr-se fora da corrida às eleições legislativas, que foram ganhas por António Guterres.
Cavaco Silva foi logo depois candidato à Presidência da República, em 1996, mas perdeu contra Jorge Sampaio, que obteve 53,41% dos votos e que cumpriu dois mandatos como Presidente. Quando Sampaio se afastou, Cavaco regressou. Depois de vários apelos de personalidades ligadas à direita, o ex-primeiro-ministro anunciou que era candidato a Belém a 20 de Outubro de 2005. Teve como adversários Manuel Alegre, Mário Soares, Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã.
Cavaco Silva venceu as eleições e tomou posse a 9 de Março, sucedendo a Jorge Sampaio, que não podia voltar a candidatar-se.
Cavaco Silva cumpriu o primeiro mandato até ao fim e recandidatou-se à Presidência da República em 2011, para cumprir o segundo e último mandato. Com a eleição de Pedro Passos Coelho, nesse mesmo ano, a direita conseguiu finalmente ter "uma maioria, um governo e um Presidente", como sonhara Sá Carneiro. Cavaco Silva tem estado envolvido em algumas polémicas e a oposição acusa-o de apoiar o Governo.
Negócio do ano
OPA à PT e ao BPI não deixaram nada como dantes
Foi o ano das fusões e aquisições: em 2006, houve 28 mil negócios de compra e venda de empresas em todo o mundo. Portugal não foi excepção e assistiu não a uma, mas a duas Ofertas Públicas de Aquisição (OPA). A maior foi protagonizada pela Sonaecom, que em Fevereiro de 2006 anunciou que ia avançar para a compra de 50,01% do capital da PT por 10,7 mil milhões de euros (oferta que subiu, mais tarde, para 11,8 mil milhões de euros).
A OPA da Sonaecom foi considera "hostil" pela administração da PT. Apenas um mês depois da OPA da Sonaecom, o BCP também decidiu ir às compras e apresentou uma OPA para controlar a totalidade do capital do BPI, oferecendo 5,7 euros por acção, o que avaliou o negócio em 4,33 milhões de euros. A OPA à PT foi, até então, o maior negócio de sempre em Portugal, e a sua dimensão permitiu aos títulos das empresas experimentarem fortes valorizações em bolsa, o que levou o índice lisboeta a subir 30% em 2006.
Ambas as OPA fracassaram.
A da Sonaecom esbarrou na intransigência do Conselho de Administração da PT e, mais tarde, na falta de vontade dos accionistas para desblindar os estatutos da empresa. O BCP chegou a ter uma operação especial em bolsa para apurar os resultados da OPA que lançou sobre o BPI, mas não conseguiu assegurar o número suficiente de acções para passar a controlar a instituição liderada por Fernando Ulrich.
Na verdade, o BCP precisaria de conseguir convencer os accionistas a venderem 85% do capital, mas só foi transaccionado 3,93% das acções do banco. Os dois bancos sofreram fortes descapitalizações bolsistas desde então. O BCP, que a 7 de Maio valia 3,10 euros, vale agora menos de 10 cêntimos. O BPI, que valia mais de 6 euros, está a negociar abaixo de um euro.