Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

2005 - O político decidido que trouxe acção para o País da desolação

Américo Amorim, José Sócrates, Jardim Gonçalves, Paulo Macedo, Alan Greenspan. Galp, Compal, Lusomundo, Banco Postal. Palavras que falam por 2005. O ano em que o petróleo bateu recordes... acima dos 70 dólares por barril.

Miguel Baltazar/Negócios
Negócios 27 de Junho de 2013 às 00:01
  • ...

Figura do ano

Teimoso. Irritável. Um aproveitador de oportunidades. Adjectivos atribuídos a José Sócrates, o político que conseguiu dar ao Partido Socialista a primeira maioria absoluta.

 

Chegou ao poder depois de Jorge Sampaio ter dissolvido a Assembleia e precipitado a demissão de Santana Lopes. Escreveu-se, aliás, sobre a "gritante" diferença de tratamento, por parte do Presidente, nas tomadas de posse dos dois primeiros-ministros. Foi no discurso de posse que Sócrates iniciou um percurso governativo que seria marcado por várias guerras.

 

Anunciou, aí, que a venda de medicamentos não sujeitos a receita médica seria liberalizada. Foi o arranque. O engenheiro também decidiu aumentar o IVA, alterou a idade da reforma para os 65 anos e modificou o modo de cálculo das pensões. Depois, assumiu o leme do plano tecnológico, promoveu o TGV e apresentou a opção da OTA para a localização do novo aeroporto de Lisboa, pontos revelados para tentar fazer esquecer a derrota do PS nas autárquicas.

 

Sócrates era o primeiro-ministro, mas era também um homem presente em todas as pastas. Até mesmo na vida das empresas. No final de 2005, fez-se um balanço sobre as nomeações feitas por Sócrates. E, em pouco menos de um ano, o primeiro-ministro alterara 24 administrações de empresas, reguladores e institutos ligados à área económica.

 

Outra das críticas a Sócrates foi a promessa quebrada relativamente ao combate ao desemprego, que aumentou de 7,1%, no final de 2004, para 7,7%, no terceiro trimestre. Sócrates não cumpriu algumas das promessas eleitorais. Mas a inédita maioria absoluta deu-lhe legitimidade para actuar.

 
O que veio a seguir

Apesar de contestado, José Sócrates voltou a ser eleito primeiro-ministro em 2009. O segundo mandato foi mais complicado do que o primeiro, tanto a nível económico como do ponto de vista político. O percurso na segunda legislatura culminou com a sua demissão, após o chumbo de mais um Programa de Estabilidade e Crescimento, o famoso PEC IV.

 

José Sócrates foi o primeiro-ministro que, embora contra a sua vontade, teve de pedir intervenção financeira externa para evitar a bancarrota do País. As relações entre São Bento e Belém, nesta altura ocupado por Cavaco Silva, não foram fáceis. Sócrates saiu do Governo e também de Lisboa, voando para Paris, onde se dedicou aos estudos. Hoje, está fora da vida política. Ou nem tanto. Comenta a vida política na RTP1. Um aproveitador de oportunidades.

Facto nacional

A Administração Pública sente a convergência

 

Reforma? Só aos 65 anos. Era esta a perspectiva dos funcionários públicos em 2005, quando foi anunciado o aumento da idade mínima legal da reforma. Foi a medida que serviu de emblema para um cenário de aproximação entre o sector privado e o público. "Um ano que a Administração Pública não vai esquecer", escreveu o Negócios.

 

Sócrates foi a figura de 2005 porque também foi ele quem esteve na frente desta e de outras medidas. Ao mesmo tempo, houve uma tentativa de moralização do sector público, para compensar: uma das alterações introduzidas pelo Governo neste ano foi a limitação, a três anos, dos mandatos dos autarcas.

 
O que veio a seguir

Terá havido muitos mais anos que a administração pública não vai esquecer para além de 2005. Como 2013. A convergência entre trabalhadores do sector público e do sector privado passa agora, entre outros, pelo processo de despedimentos.

 

É uma das condições acordadas com a troika no seio do programa de ajustamento que Portugal está a aplicar. Em relação à limitação de mandatos, é um tema de destaque com a aproximação das autárquicas. Já há "vítimas". Espera-se uma decisão do Constitucional.

Facto internacional

Katrina e seus efeitos no mundo

Em Agosto de 2005, um furacão atinge os Estados Unidos, mais concretamente Nova Orleães. A cidade é totalmente massacrada pelo Katrina e a administração Bush é alvo de duras críticas de negligência. Há milhares de mortos e outros tantos desalojados.

 

A notícia é recebida com preocupação pelos mercados. Fazem-se contas ao que as seguradoras vão gastar mas o destaque vai para os preços do petróleo que se valoriza mais de 5% a 30 de Agosto e chega aos 70,85 dólares por barril. É o máximo histórico até então. E foi o pretexto para os bancos centrais subirem juros.

 
O que veio a seguir

O Katrina foi um abalo para a cidade norte-americana que, entretanto, já se conseguiu restabelecer dos estragos. Neste momento, a cidade já recebe eventos de grande dimensão. Oito anos depois, os mercados já não se preocupam com o furacão. O petróleo está a negociar nos 94,5 dólares por barril, mas já esteve nos 145 em 2008. Ao contrário de 2005, quando a tendência era subir as taxas de juro, os bancos centrais mantêm os juros em baixa.

Imagem do ano

Morre o Papa que uniu parte do mundo

 

Não foi um acontecimento económico, nem tão pouco causou uma revolução nos mercados. Mas foi um exemplo de que é possível haver algo próximo da unanimidade. Vieram de muitos lados os elogios e o respeito pelo Papa João Paulo II no momento da sua morte. Alguns teatrais, outros verdadeiros.

 

Morreu Karol Wojtyla, o polaco que liderou o Vaticano entre 1978 e 2005. Considerado um líder influente da segunda metade do século passado, teve um papel importante na aproximação do Catolicismo com as outras religiões. Houve unanimidade no adeus. Mas, em vida, João Paulo II não escapou a críticas, nomeadamente no seu empenhado combate ao comunismo nos regimes de Leste (o papa era natural da Polónia).

 

Coube a Joseph Ratzinger suceder-lhe. Além da difícil missão de substituir um papa tão popular, teve pela frente um mundo diferente. "João Paulo II enfrentou o comunismo. Bento XVI tem no capitalismo o seu puzzle mais difícil de resolver. A nova ordem transferiu da política para a economia as questões mais sensíveis das relações internacionais", comentou Sérgio Figueiredo, director do Negócios na altura.

 
O que veio a seguir

Joseph Ratzinger, Bento XVI, foi o sucessor de João Paulo II mas, entretanto, já foi também ele substituído. Não porque tenha morrido mas porque decidiu abandonar o maior cargo da Igreja Católica. Francisco é o actual líder do Vaticano, tendo recebido uma aprovação mediática de relevo. Em terra, há neste momento dois papas vivos, embora um tenha abdicado. É a primeira vez que tal acontece em 600 anos.

Negócio do ano

Amorim ajuda Galp a afastar controlo italiano

 

Manuel Pinho é o rosto negocial. Américo Amorim a cara do investidor. Foram eles que colocaram areia no combustível que ardia na Galp há cerca de um ano. A Amorim Energia (em que o empresário está com a Sonangol) assinou um acordo com o Estado e a Eni e ficou com um terço da empresa. O outro terço ficou nas mãos da empresa italiana, que perdeu, contudo, a possibilidade de aumentar essa posição.

 

Ao mesmo tempo, o Estado vendeu as "acções douradas" e acordou que a CGD ficaria com, pelo menos, 1% do capital da petrolífera. O restante capital, até 30%, seria disperso em Bolsa. Entretanto, do acordo fez parte a manutenção da equipa dirigente: Murteira Nabo como presidente do conselho de administração e Marques Gonçalves na presidência da comissão executiva. Os gestores continuaram mas Amorim foi o rosto do negócio. E seria por mais anos. Tinha de manter o investimento até 2010.

 
O que veio a seguir
A estabilidade accionista, com o acordo assinado entre Amorim, Eni e Estado, estava garantida até 2010. Depois, Amorim podia vender, embora, até 2013, tivesse de dar preferência à CGD. Não vendeu. Hoje, a Amorim Energia controla mais de 38% do capital da Galp e tem direito de comprar títulos representativos de mais 8%, que estão nas mãos da Eni. Os italianos detêm, actualmente, uma participação de 16% na empresa nacional liderada por Manuel Ferreira de Oliveira. Os valores accionistas resultam de um novo acordo que foi assinado em 2012. Entretanto, a empresa de Américo Amorim e da Sonangol emitiram obrigações que se irão converter em acções da petrolífera. Esse movimento foi visto pelos analistas como uma forma de ganhar liquidez para exercer os direitos de compra das participações da Eni.
Ver comentários
Saber mais Américo Amorim José Sócrates Jardim Gonçalves Paulo Macedo Alan Greenspan Galp Compal Lusomundo Banco Postal
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio