As empresas em Portugal que exportam para mais de 100 mercados são um pequeno nicho no conjunto das empresas exportadoras que em 2022 foi de 53.107, segundo dados de Comércio Internacional de Bens (CI) do INE. Mas não é um exclusivo de empresas de grande dimensão como a Navigator do Grupo Sodim/Semapa no papel, a Corticeira Amorim ou a Sogrape, que se baseiam em recursos naturais portugueses. Inclui também empresas como a Fricon, a Tecnimede, ou a Amtrol-Alfa, a Taylor’s, a Symington, a Aveleda, a Indasa, a Care to Beauty, a Prozis ou, em termos de produtos, os têxteis ou o calçado. Este exportou, em 2022, 76 milhões de pares para 174 países, com o Belize a ser o último carimbo no passaporte das exportações portuguesas deste setor.
Mas há empresas de outras áreas de atividade a dar nas vistas. Uma delas é a indústria farmacêutica. Em 1980 o fundador da Tecnimede, Jorge Ruas, imaginou uma empresa que investisse na investigação e desenvolvimento e se expandisse globalmente. "Um ‘born global’ é uma empresa que desde o seu início persegue esta visão de se tornar global rapidamente, sem ter passado por longo período de crescimento doméstico. Não nos internacionalizámos por necessidade ou por sequência lógica, nascemos para ser internacionais", refere António Donato, CEO da Tecnimede. Hoje o grupo exporta para mais de 100 países, tem presença direta em Espanha, Itália, Marrocos, Colômbia e Brasil. Em 2022, o mercado internacional representou 44% dos cerca de 215 milhões de euros faturados e conta com mais de 750 colaboradores.
António Donato explica que a exportação de produtos farmacêuticos é influenciada pela dimensão do mercado do país de origem. Por isso, foi importante tornar-se a segunda maior empresa do mercado de ambulatório português, e ter escolhido uma área, um "mix" de produtos relativamente homogéneo, que não necessite de grandes adaptações durante o processo de internacionalização.
"O Grupo Tecnimede não sabe atuar em mercados desregulados, por isso procuramos territórios onde a abordagem comercial, marketing, fiscal, seja mais próxima da que conhecemos", sublinha António Donato. Hoje, entre os produtos mais exportados, está um injetável com tecnologia de fabrico que está patenteada para os Estados Unidos da América e uma combinação fixa inovadora. Na área dos medicamentos genéricos, que foi o início da atividade da empresa, o mais importante é um produto oncológico que deve ser fabricado em condições especiais. Acrescenta que "estamos a expandir o nosso pipeline de medicamentos de valor acrescentado, que nos permitem a disrupção e a diferenciação necessárias para crescer internacionalmente".
O vinho e a cortiça
O Mateus Rosé é a primeira marca de vinho global portuguesa e continua a ser o vinho português mais vendido em todo o mundo com mais de duas garrafas a cada três segundos e com presença em mais de 100 mercados. Este "best-seller" faz parte das mais de 30 marcas que a Sogrape exporta para cerca de 120 mercados, e representam cerca de 80% da faturação que em 2022 foi de 347 milhões de euros.
Esta empresa tem produção própria em Portugal, Espanha, Chile, Argentina e na Nova Zelândia e conta com seis empresas de distribuição própria nos mercados chave como Portugal, EUA, Reino Unido, China e Angola. A que se acrescenta "a rede de parceiros que construímos ao longo de 80 anos" que permite "além disso, ter uma presença relevante numa enorme quantidade de mercados onde operamos com potencial para os nossos vinhos e, portanto, gozar de uma diversidade e dispersão geográfica", explica João Gomes da Silva, "Chief Commercial Officer" da Sogrape.
A Corticeira Amorim é o maior grupo de transformação de cortiça do mundo e ultrapassou em 2022 os mil milhões de euros de faturação em mais de 100 mercados e conta uma rede de distribuição d e 63 empresas. "Uma ferramenta que permite quer colocar os nossos produtos em tempo recorde em qualquer ponto do globo, quer manter-nos bem perto dos desafios, necessidades e preocupações dos nossos clientes", afirma António Rios Amorim, presidente e CEO da Corticeira Amorim. Acrescenta que a venda de "um total de 6,1 mil milhões de rolhas de cortiça produzidas anualmente que comprovam, dia após dia, as suas inumeráveis vantagens e representam cerca de 70% do volume de faturação da Corticeira Amorim".
O frio que vai de Portugal
A Fricon está em 118 mercados com produtos e soluções de refrigeração e congelação, vai duplicar a capacidade de produção para 200 equipamentos por dia da sua unidade em Vila Conde. Foi criada em 1976 por Artur Martins Azevedo e tem ainda uma unidade fabril no Recife, no Brasil, e uma delegação em Madrid.
Isabel Azevedo, presidente e CEO da Fricon, considera que "esta estratégia de negócio tornou a marca numa referência no setor da refrigeração comercial e [permitiu] encontrar oportunidades e responder a necessidades dos maiores retalhistas alimentares no mundo", além de empresas como a Coca-Cola, Cervejaria Schincariol, Grupo Pepsi, Unilever, Nestlé, Häagen-Dazs, entre outras.
Este investimento na exportação permitiu diversificar o risco e não ficar na dependência de um punhado de mercados. Como salienta Isabel Azevedo, "a exposição a diferentes culturas e mercados também levou e leva, a uma maior inovação e adaptabilidade da empresa, tornando-a mais resiliente às flutuações económicas e às mudanças nas preferências dos consumidores".
Esta amplitude de mercados implica atenção em relação às tecnicidades e regulamentações de cada mercado, porque a distribuição em mercados internacionais pode apresentar complexidades significativas devido à diversidade geográfica, regulamentações aduaneiras, barreiras comerciais, responsabilidade logística e o cumprimento das normas de homologação dos produtos. "Financeiramente é importante atentar à gestão de riscos cambiais, à mitigação de custos de transação e aos riscos no crédito concedido", refere Isabel Azevedo.
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O retrato das exportações
Há mais de 53 mil empresas exportadoras, mas cerca de 90% das vendas de bens ao estrangeiro são feitas por menos de 3.300. As que vendem para mais de cinco países dominam a estatística.
A força das exportações Os dados mostram que a grande força das exportações reside nas empresas que exportam para mais de cinco mercados. Em 2014 estas empresas representavam 9,2% das empresas e 39 mil milhões de euros, 81,2% do valor das exportações de bens. Em 2022 passaram a representar 15,7% das empresas e 82,9% do valor, ou seja, 64,4 mil milhões. Mais, segundo o Inquérito Perspetivas de Exportação de Bens, de fevereiro de 2023, 3.293 empresas significavam cerca de 90% das exportações de bens.
A diversificação de mercados Na análise do diretor da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, Óscar Afonso, os dados mostram que após uma descida do peso do mercado intracomunitário nas exportações de bens, de 80,9% em 2000 para 70,3% em 2013, registou-se um ressurgimento desse peso até 76,8% em 2019. Desde então, assistiu-se a um novo recuo, atingindo 70,4% em 2022. Espanha, França, Alemanha, Itália, Países Baixos, Bélgica e Polónia são os principais mercados de exportação de bens na Europa, mas como assinala Óscar Afonso, os principais mercados extracomunitários em 2022 foram os EUA (4.º maior mercado), o Reino Unido (5.º), Angola (9.º), Brasil (12.º) e Turquia (13.º). "No seu conjunto, esses cinco maiores mercados extracomunitários justificaram 20% da subida de 23% das exportações de bens em 2022, o que atesta a sua importância para a dinâmica recente das vendas para o exterior. Em sentido contrário, as exportações para a China (o nosso 17.º maior mercado de exportação), recuaram 7,9% em 2022", salienta Óscar Afonso.
A estrutura por grupos de produtos Com base em dados de 2021 o grupo de produtos "Máquinas e aparelhos" passou a pesar 14,3% das exportações de bens seguindo-se os "Veículos e outro material de transporte", com 13,2%. Seguem-se os "Metais comuns" com um peso de 8,9%, os "Plásticos e borrachas" (7,7%), os "produtos Agrícolas" (7,2%), os "produtos Químicos" (6,2%) e os "Combustíveis minerais" (5,8%). Estes sete grupos de produtos representam 63,3% das exportações de bens.
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