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Na Alemanha é mais fácil as mulheres chegarem a chanceler do que CEO

Cerca de um terço das 100 maiores empresas da Alemanha não tem mulheres nos seus conselhos de administração.

25 de Dezembro de 2020 às 18:00
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A Alemanha, cuja chanceler Angela Merkel é a chefe de Estado há mais tempo no cargo em todo mundo, tem um dos piores registos de promoção de mulheres nos negócios na Europa. O projeto de lei de quotas - que pede às empresas que tenham pelo menos uma mulher nos seus conselhos de administração - aumentará a participação de mulheres executivas para cerca de 15%, elevando a classificação da Alemanha do 24.º lugar para perto do 17.º entre os 27 países membros da União Europeia, de acordo com o Boston Consulting Group.

"Não acredito que isso vá criar o impacto que se deseja", disse em entrevista Maria Ferraro, diretora financeira da Siemens Energy e entre as poucas mulheres de destaque na Alemanha empresarial. "Um indivíduo que é diferente não resolve, embora seja um progresso."

O projeto, que será apresentado ao governo nos próximos dias, exige que conselhos com quatro ou mais membros tenham pelo menos uma mulher. Mas como não exige nada sobr conselhos com menos de quatro membros ou daqueles que já têm uma administradora executiva, afetará apenas cerca de 30 das 107 maiores empresas do país.

A proporção de mulheres em conselhos executivos nas 30 maiores empresas cotadas da Alemanha caiu 1,9 pontos percentuais neste ano para 12,8%, em comparação com 28,6% nos EUA, segundo a Allbright Foundation, que promove a diversidade na gestão. Cerca de um terço das 100 maiores empresas da Alemanha não tem mulheres nos seus conselhos de administração.

No entanto, das 100 maiores empresas cotadas, as 30 com maior diversidade de género superaram o índice de referência DAX em mais de dois pontos percentuais. E se a Alemanha corporativa não aderir à diversidade de gestão de forma mais completa, corre o risco de prejudicar a sua vantagem competitiva, adverte Ferraro.

Em 2001, sob o comando do então chanceler Gerhard Schroeder, os líderes empresariais comprometeram-se a fazer mais, mas pouco fizeram. Uma lei de 2015 instou as maiores empresas cotadas do país a indicar 30% das mulheres para os seus conselhos de supervisão, deixando intocados os poderosos conselhos de administração de tomada de decisões.

Em maio do ano passado, discursando para uma sala cheia de mulheres empresárias em Berlim, Merkel mal conseguia esconder a sua frustração com o número de empresas alemãs sem presença feminina no conselho executivo. Caracterizou o cenário como "uma atitude de recusa".

 

Ainda não está claro quais serão as penalidades para as empresas que não cumprirem as quotas do projeto, que também deixa outras métricas de igualdade de género inalteradas. Com cerca de 20%, a Alemanha tem a segunda pior disparidade salarial entre homens e mulheres na UE, atrás da Estónia. Além disso, nenhuma das 30 maiores empresas do país tem uma mulher no cargo de CEO.

Uma mulher "pode tornar-se chanceler na Alemanha, mas não uma CEO", disse Wiebke Ankersen, diretor da Allbright. Embora as quotas tenham sido implementadas com sucesso em países como a Noruega e a França para melhorar o equilíbrio de género, os legisladores e a opinião pública na Alemanha têm exercido menos pressão por mudanças.

Não é de surpreender que os esforços das empresas alemãs tenham sido superficiais, disse Monika Schulz-Strelow, chefe de um grupo de defesa de mulheres em conselhos com sede em Berlim denominado Frauen in die Aufsichtsraete, ou Fidar. "Cumpriram os requisitos mínimos da lei, mas não mudaram a cultura e a atitude corporativa", disse.

Interesses enraizados perpetuaram antigas estruturas que inibiam as mulheres até de seguir uma carreira, quanto mais alcançar níveis superiores da administração. Isso inclui regras fiscais que penalizam as famílias com dois rendimentos, creches que ficaram atrasadas em relação a outros países, regras que concedem aos cônjuges que não trabalham benefícios previdenciários gratuitos e uma pensão generosa para as viúvas, diz Jutta Allmendinger, presidente do Centro de Ciências Sociais de Berlim.

"Temos um estado de bem-estar que foi construído no século passado e cujos contornos ainda hoje dificultam a independência das mulheres", diz Allmendinger, integrante de um grupo de mulheres que lançou uma campanha nos media em outubro a favor do projeto de quotas. "Isso explica o número relativamente pequeno de mulheres com alto nível educacional que rapidamente voltam ao trabalho depois de terem um filho."

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