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Lisboa perde 2,8 mil milhões de euros em dois dia (act.)
O "mini-crash" que está a assolar as bolsas mundiais leva a que o índice PSI-20 esteja a perder quase 3 mil milhões de euros em apenas dois dias. Esta perda de valor, que representa 1,5% do PIB nacional, está a ser provocada essencialmente pela desvaloriz
O "mini-crash" que está a assolar as bolsas mundiais leva a que o índice PSI-20 esteja a perder quase 3 mil milhões de euros em apenas dois dias. Esta perda de valor, que representa 1,5% do PIB nacional, está a ser provocada essencialmente pela desvalorização que assola o sector da banca e as "large caps". O PSI-20 está a perder mais de 2% com as 20 cotadas a perderem valor.
(actualiza as cotações)
A crise que está a assolar o mercado imobiliário norte-americano de alto risco e que culminou ontem com uma injecção recorde de liquidez no sistema financeiro por parte do Banco Central Europeu (BCE) está a provocar um autêntico terramoto nas bolsas mundiais.
Depois das fortes quedas de ontem, hoje os principais índices voltam a sofrer desvalorizações acentuadas, com o IBEX [IBEX] de Espanha a recuar 2,32%, o FTSE [UKX] londrino a deslizar 3,07%, o CAC [CAC] francês a perder 3,15% e o DAX [DAX] alemão a desvalorizar 1,66%.
Lisboa não é excepção neste panorama que está a assolar as bolsas mundiais, já que o PSI-20 [PSI20] deslizou ontem mais de 1% e hoje volta a recuar 2,12% para os 12.965,40 pontos, numa manhã em que chegou a perder um máximo de 2,21%.
Esta é a primeira vez em dois meses que o PSI-20 cota abaixo da fasquia dos 13.000 pontos.
Durante a sessão de ontem e ao longo desta manhã, a perda acumulada pelas cotadas que integram o "benckmark" nacional ascendia a 2,8 mil milhões de euros (tomando como referência os preços de hoje às 12h20).
As "large caps" estão a ser as mais castigadas
Neste período, e tal como está a suceder lá fora, é o sector da banca que está a pagar a factura mais elevada pela crise que está a assolar o mercado hipotecário.
O Banco Comercial Português [BCP] e o Banco Espírito Santo [BESNN] estão a acumular perdas de 5,57% e 3,9%, o que representa uma perda de capitalização bolsista de cerca de 500 milhões de euros (ver tabela).
As outras duas "large caps" da bolsa nacional, a Portugal Telecom [PTC] e a Energias de Portugal [EDP] sofreram ambas perdas de mais 2% neste período, o que representa uma perda de valor para ambas de quase 400 milhões de euros.
As cotadas menos penalizadas
São duas as cotadas nacionais do PSI-20 que estão a ser menos afectadas pelo "mini-crash" das bolsas: a PT Multimédia e a Brisa.
A PTM [PTM] avançou ontem mais de 2% e hoje está a sofrer uma desvalorização de 2,62% para os 11,88 euros, isto depois da Cinveste do Coronel Luís Silva ter anunciado um reforço para 4%, numa altura em que a PT está a aprontar a cisão desta unidade.
A Brisa [BRISA] está hoje a desvalorizar 0,1% para os 10,09 euros, depois de ontem já ter amealhado um ganho de 0,8%. Além do reforço recente por parte da Capital Partners, a concessionária de auto-estradas está a beneficiar do seu estatuto de papel refúgio em alturas de queda generalizada da bolsa.
Já a Galp Energia [GALP] está a perder hoje mais de 2%, mas na sessão de ontem valorizou quase 2%, depois de ter anunciado uma descoberta "significativa" de petróleo no Bloco 14 em Angola.
A origem do problema
Tudo começou com a crise no mercado imobiliário norte-americano que levou ao aumento do incumprimento nos créditos hipotecários do chamado segmento "subprime", crédito hipotecário de risco elevado.
A crise do "subprime", que já dura há várias semanas, tornou-se mais visível depois do BNP Paribas ter anunciado a suspensão dos resgates em três dos seus fundos que investem no mercado hipotecário, alegando que estão subavaliados.
"A completa evaporação de liquidez em certos segmentos do mercado de securitização nos EUA tornou impossível avaliar correctamente os activos, tendo em conta o seu ‘rating’", afirmou o BNP Paribas em comunicado. Há uma semana, o presidente do banco dizia que os problemas no mercado "suprime" eram "absolutamente insignificantes".
A crise do "subprime" levou a um forte aumento no custo do crédito, com os bancos a exigirem taxas de juro muito elevadas para emprestarem dinheiro. A taxa "overnight", utilizada pelos bancos para emprestarem dinheiro entre si, atingiu ontem, em dólares, os 5,86%, o valor mais elevado dos últimos seis anos, e que compara com os 5,35% de ontem.
Em euros, a taxa de juro atingiu os 4,62%, acima da taxa de referência do Banco Central Europeu (BCE) que se situa nos 4% e mais alta que imediatamente a seguir aos ataques do 11 de Setembro.
"Os bancos reagiram a esta decisão do BCE como numa liquidação de um supermercado"
Este disparo nos juros levou o BCE a intervir no mercado financeiro injectando 94,8 mil milhões de euros, o valor mais alto de sempre. Na sequência do 11 de Setembro de 2001, o BCE injectou no mercado financeiro 69,3 mil milhões de euros.
A instituição liderada por Jean Claude Trichet disse mesmo que está disponível para providenciar um montante ilimitado de dinheiro aos bancos assegurando assim a manutenção da liquidez no mercado. A redução da liquidez no mercado interbancário dificulta o acesso dos bancos a fundos de curto prazo.
"Os bancos reagiram a esta decisão do BCE como numa liquidação de um supermercado" e "ficaram com tudo [dinheiro] o que podiam", disse um operador à Bloomberg.
Depois do BCE, outros bancos centrais injectaram dinheiro no mercado. A Reserva Federal norte-americana e o Banco do Canadá não implementaram nenhuma medida de emergência mas disponibilizaram um montante anormalmente elevado para as operações de mercado aberto (24 mil milhões de dólares e 1,55 mil milhões de dólares, respectivamente).
O Banco do Japão (BoJ) adicionou um bilião de ienes (6,19 mil milhões de euros) ao sistema financeiro do país e o Banco da Austrália colocou à disposição dos bancos o valor mais elevado dos últimos três anos.