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InCycles: Produção de bicicletas corre sobre rodas

A pandemia teve, no início, um impacto muito negativo para a empresa portuguesa líder no fabrico de bicicletas elétricas, mas acabou por acelerar os investimentos em micromobilidade, o que resultou num crescimento exponencial.

Paulo Duarte
31 de Maio de 2021 às 08:30
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"O florescente vale do ciclismo português", chamou o jornal Le Monde ao conjunto de empresas que se concentra na região de Águeda e que em 2019 elevou Portugal ao lugar de maior produtor de bicicletas da União Europeia. A InCycles, líder nas "e-bikes",  foi uma das fabricantes nacionais visitadas pela publicação francesa, no extenso artigo publicado em outubro do ano passado com honras de primeira página.

Com uma experiência de décadas no setor do ciclismo, nomeadamente como fabricantes e distribuidores de componentes de bicicletas, João Maia, Rui Conceição, Pedro Conceição e Ricardo Marques decidiram em 2009 unir forças e fundar a InCycles, direcionando-a para a montagem e comercialização destes veículos de duas rodas. Nessa altura, a empresa contava apenas com uma linha de montagem e empregava 20 pessoas. "Gradualmente, devido ao acréscimo de encomendas, aumento do leque de clientes, contratos com novos parceiros e investimentos em outras áreas de negócio relacionadas com a montagem de bicicletas" esse número cresceu até aos 170 postos de trabalho diretos que assegura hoje, explica Pedro Conceição, um dos acionistas da empresa.

Os investimentos passaram, explicou, pela instalação de cinco linhas de montagem de rodas e, mais recentemente, pela implantação de duas linhas de pintura. "Neste momento e já com quatro linhas de montagem de bicicletas essencialmente elétricas fomos sentindo a necessidade de aumentar o número de postos de trabalho", afirmou, salientando estar "neste preciso momento a proceder a contratação de aproximadamente 40 novos colaboradores".

Um imenso passo em frente
No ano passado, a InCycles  investiu cerca de um milhão de euros  numa nova fábrica na Anadia, que está já em plena laboração após a instalação da linha de pintura , realizada este mês. O investimento deveu-se às necessidades geradas pelo contrato de fornecimento que tinha celebrado com a Uber, o maior operador de micromobilidade do mundo, que levou a empresa portuguesa à liderança da produção de bicicletas elétricas.

Pedro Conceição explica que aquela multinacional decidiu em 2018 apostar nas "e-bikes", levando à especialização da InCycles neste tipo de bicicletas. "Entretanto surgiu a covid-19 e o cancelamento do contrato", recorda o responsável, que é um dos quatro sócios, frisando que "o facto de o mercado ter crescido exponencialmente e de se saber que a InCycles tinha ganho esta especialização fez com que surgissem clientes de todo o mundo que procuravam este serviço". Ou seja, sublinha, "após um passo atrás demos um imenso passo em frente".

Pedro Conceição reconhece que as vendas do último ano foram muito afetadas pela rutura da cadeia de fornecimento e principalmente pelo cancelamento daquele que era o seu maior contrato de fornecimento, tendo caído para 20 milhões de euros.  A pandemia, afirma, teve um impacto "muito negativo" no início, "mas acabou por ter um efeito de crescimento exponencial que se irá manter nos próximos anos". É que a covid-19 originou uma vontade de o consumidor procurar meios de deslocação que evitassem o contacto próximo com os outros, além de ter gerado uma aceleração nos investimentos em micromobilidade que estavam já a surgir . Duas razões que levaram a uma forte procura a nível mundial. E ao bom momento que este setor nacional atravessa hoje.

Próximo passo: trotinetes elétricas
A InCycles tem na Europa o seu principal mercado, que representa aproximadamente 90% do volume de exportação, mas está neste momento, e à parte de toda a Europa, a exportar para o Reino Unido, Estados Unidos, Norte de África e América Latina. Além das bicicletas elétricas produz também bicicletas regulares e está a iniciar a produção de trotinetes elétricas. Tem também a sua própria marca – a Cycles Eleven.

 Neste momento, a empresa tem instalada na nova unidade fabril uma capacidade de produção de 1.200 bicicletas por dia, que "facilmente pode ser ajustada e ampliada", diz Pedro Conceição. O caminho é de crescimento.  "Dispomos neste momento, e pensando em 2022, da nossa  capacidade produtiva praticamente tomada, o que nos leva a pensar principalmente em otimizar ao máximo a nossa produção e, com vista a novos projetos que estamos a desenvolver com alguns novos clientes de referência, eventualmente na instalação de mais duas linhas de montagem de bicicletas".

O sucesso da InCycles, diz o responsável, "deve-se à qualidade do que fazemos". Já o interesse que as fabricantes de bicicletas portuguesas estão a despertar nos media internacionais "é um reflexo do trabalho realizado pela Abimota (Associação Nacional das Indústrias de Duas Rodas), que colocou a produção nacional nas bocas do mundo".

Pedro Conceição não tem dúvidas de que "a indústria das duas rodas em Portugal está em ebulição" e o trabalho quer da associação quer dos empresários do setor "criou uma apetência pelo investimento na produção de bicicletas e, mais importante, em produção de componentes". No seu entender, "a produção de bicicletas e componentes pode explodir em Portugal, mas é necessário que o Governo olhe para este setor com seriedade, e honestamente não sinto esse apoio". É que, assegura, "só com muito sacrifício de todos os empresários e da Abimota se tem conseguido fazer este caminho difícil".

No ano passado, Portugal foi o primeiro produtor de bicicletas da União Europeia, com 2,7 milhões de unidades, destronando Itália (2,1 milhões), num pódio em que figura ainda a Alemanha (1,5 milhões). Para o crescimento da InCycles, Pedro Conceição  salienta o contributo decisivo que tiveram as medidas antidumping introduzidas por Bruxelas, que ajudaram a proteger o setor das  importações de bicicletas chinesas. Só no  mercado de bicicletas elétricas o peso da produção chinesa tinha subido de 10% para 35% entre 2014 e 2017 na Europa. "Sem as leis de proteção não seria, de todo, possível a produção de bicicletas na Europa", garante Pedro Conceição. Como escreveu o Le Monde, o "David europeu ergueu a cabeça para o Golias chinês".
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