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Iberdrola garante estudar reservas de lítio no Tâmega antes de encher albufeira

A Iberdrola garante que "os mais significativos que possam ser localizados serão analisados em detalhe, para determinar e quantificar o seu teor de lítio".

Bruno Simão/Negócios
16 de Junho de 2017 às 15:19
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A Iberdrola garantiu hoje que vai inventariar os filões de lítio na zona inundável da futura albufeira do Alto Tâmega antes do enchimento e durante a fase de desflorestação prevista para o início de 2020.

 

A empresa espanhola disse ainda nada ter "a opor" a explorações mineiras das áreas concessionadas, "desde que não prejudiquem o correto avanço das obras".

 

Numa declaração escrita enviada à agência Lusa, fonte oficial da empresa espanhola - que em 2008 ganhou o concurso para construção e exploração do 'Sistema Electroprodutor do Tâmega' - esclarece que o 'Relatório de Conformidade Ambiental com o Projecto de Execução' (RECAPE), aprovado pelas entidades competentes, "visa realizar, antes do enchimento da albufeira, um estudo/inventário dos filões aplitopegmatíticos existentes no interior da zona inundável da futura albufeira de Alto Tâmega".

 

Antecipando que "estes filões são susceptíveis a conter lítio", a Iberdrola garante que "os mais significativos que possam ser localizados serão analisados em detalhe, para determinar e quantificar o seu teor de lítio", num inventário a executar pela empresa "antes de proceder ao primeiro enchimento da albufeira do Alto Tâmega".

 

Segundo referiu à Lusa a empresa, o que está previsto é realizar esse estudo "durante a fase de desflorestação, que antecede o enchimento da albufeira", o que está previsto "para o primeiro trimestre de 2020".

 

As obras de construção do aproveitamento de Alto Tâmega iniciaram-se em 2016 com a construção dos acessos, sendo que desde Março deste ano decorrem as obras da barragem da central do Alto Tâmega.

 

Investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), nomeadamente Alexandre Lima, têm alertado para a ameaça que a construção do complexo de barragens no rio Tâmega pode constituir para a jazida de lítio -- minério muito procurado mundialmente, porque serve para produzir baterias de telemóvel, computadores e veículos eléctricos -- que há várias décadas se sabe existir na zona das Covas do Barroso.

 

Em declarações à Lusa em agosto de 2016, o geólogo já tinha afirmado que avançar com a construção da barragem sem outros estudos para verificar a quantidade lítio era "matar à nascença" algo que poderia ser de uma "mais-valia", que é "a extracção de minérios de lítio (por exemplo, espodumena) para a produção de concentrados de litiníferos", utilizados "na fabricação de baterias para os carros híbridos ou eléctricos".

 

Questionada pela Lusa, fonte oficial da Iberdrola recordou que "a existência de outros recursos na zona desde há muito está identificada e assinalada em todos os estudos que foram levados a cabo, em particular na avaliação ambiental estratégica realizada pelo estado português, (...) nomeadamente a exploração de lítio".

 

Segundo a empresa, se é um facto que na zona envolvente da futura albufeira do Alto Tâmega "será aplicado o 'Plano de ordenamento de albufeiras de águas públicas', a ser elaborado pela Autoridade Nacional da Água" para "proteger as albufeiras de potenciais explorações mineiras", a verdade é que "a Iberdrola, tal como comunicou em diversas ocasiões, não tem nada a opor sobre a exploração das áreas concessionadas, desde que não prejudiquem o correto avanço das obras do Sistema Eletroprodutor do Tâmega".

 

Salientando que "compete ao Estado português e aos respectivos organismos com tutela sobre estas matérias definir o regime de utilização dos futuros leitos e albufeiras do Tâmega", a empresa diz que estes podem "autorizar, na medida em que tal decisão não conflitue ou ponha em risco o funcionamento do Sistema Eletroprodutor do Tâmega, a exploração de outros recursos, nomeadamente a exploração de lítio".

 

Para o investigador Alexandre Lima, "do ponto de vista económico é difícil perceber o que vale mais [a exploração de lítio ou o aproveitamento hidroeléctrico], se é que são incompatíveis", sustentando que o que não se pode ignorar "é que o lítio é um metal estratégico para os próximos anos".

 

O responsável enviou em 2011 uma primeira reclamação à Agência Portuguesa do Ambiente (APA), à qual diz que a Iberdrola respondeu com "um relatório de muita má qualidade" que incidia "exclusivamente na área de inundação pelas águas das albufeiras, deixando de parte a área de protecção", bem como "a mais significativa ao nível de recursos minerais existentes, que importa avaliar".

 

De acordo com o professor da FCUP, foram feitas outras reclamações, cujo parecer por parte da Comissão de Avaliação (que está a regular a actualização do cumprimento de condicionantes impostas no âmbito do RECAPE), "exige à Iberdrola que faça um estudo dos filões de lítio".

 

A agência Lusa tentou, sem sucesso, obter uma posição da APA.

 

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