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Suez: Empresas começam a calcular perdas após desencalhe de navio
O Canal de Suez pode estar aberto novamente, mas a batalha devido aos prejuízos causados pelo bloqueio mais longo da hidrovia em quase meio século está só a começar.
Com as cargas atrasadas durante semanas, senão meses, o bloqueio pode desencadear uma série de processos movidos pelos afetados, como armadores, fabricantes e produtores de petróleo.
"As questões jurídicas são imensas", disse Alexis Cahalan, sócio da Norton White, em Sydney, que é especializada em direito do transporte. Segundo o responsável, devido à variedade de cargas transportadas através da hidrovia, como petróleo, grãos, bens de consumo como frigoríficos e produtos perecíveis, ainda vai demorar para saber a dimensão dos pedidos de indemnização.
O navio porta-contentores Ever Given foi desencalhado na segunda-feira, e o tráfego pelo canal - que liga o Mediterrâneo ao Mar Vermelho - foi retomado logo de seguida. O bloqueio, que começou quando o navio bateu na margem na terça-feira passada, foi o mais longo do canal desde que foi fechado durante oito anos após a Guerra dos Seis Dias de 1967. O incidente destacou mais uma vez a fragilidade da infraestrutura do comércio global e ameaças às cadeias de fornecimento já afetadas pela pandemia de coronavírus.
As autoridades egípcias estavam ansiosas para a retoma do tráfego na hidrovia, que é um ponto de passagem de cerca de 12% do comércio mundial e de cerca de 1 milhão de barris de petróleo por dia.
"Coordenar a logística de quem passa primeiro e como isso vai ser resolvido, acho que os egípcios têm uma tarefa e tanto nas mãos", disse John Wobensmith, CEO da Genco Shipping & Trading, em entrevista à Bloomberg Television.
O bloqueio deve reduzir os ganhos das resseguradoras globais, que já foram atingidas pela pandemia, tempestades de inverno nos EUA e inundações na Austrália, de acordo com a Fitch Ratings. Como consequência, os preços do resseguro marítimo vão subir ainda mais, disse a agência. A Fitch estima que as perdas podem chegar a centenas de milhões de euros.
Numa possível série de processos, os proprietários das mercadorias a bordo do Ever Given e de outros navios poderão procurar compensação das suas seguradoras devido aos atrasos. Essas seguradoras de carga podem, por sua vez, entrar com ações contra os proprietários do Ever Given, que então recorrerão às seguradoras para proteção.
A Evergreen diz que a japonesa Shoei Kisen Kaisha - proprietária do navio - é responsável por quaisquer perdas. A Shoei Kisen assumiu certa responsabilidade, mas diz que os armadores terão de negociar com os proprietários das cargas.