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CUF regista prejuízos de 23,8 milhões em 2020
A pandemia e os contratos das PPP de Vila Franca de Xira e Braga arrastaram para o vermelho as contas da empresa de saúde do grupo José de Mello, que detém 18 hospitais e clínicas privadas. Só os partos e a dívida subiram.
A CUF registou prejuízos de 23,8 milhões de euros em 2020, o que compara com lucros de 29 milhões no exercício anterior, em resultado da diminuição dos rendimentos operacionais, refletindo o impacto da pandemia, mas também da constituição de perdas por imparidade e de provisões relacionadas com os contratos das parcerias público-privadas (PPP) de Vila Franca de Xira e de Braga.
No comunicado enviado à CMVM esta sexta-feira, 23 de abril, a empresa que detém 18 hospitais e clínicas privadas e que gere ainda o Hospital de Vila Franca de Xira em regime de PPP – o contrato do Estado com a antiga José de Mello Saúde termina a 31 de maio deste ano – lembra que "a pandemia ainda está longe de estar controlada" e que "a incerteza [que persiste] quanto à sua duração (…) terá naturalmente impactos na atividade da CUF".
Os rendimentos operacionais consolidados caíram 24%, atingindo os 533,5 milhões de euros no ano passado - excluindo a atividade da PPP de Braga e os seus efeitos extraordinários em 2019, depois de terminado o contrato a 31 de agosto desse ano, o recuo homólogo seria de 6,8% -, tendo diminuído a um ritmo menor (-6,2%) na rede CUF do que na prestação pública (-11%) em que o resultado da operação caiu 20,7 milhões de euros.
A empresa liderada desde janeiro por Rui Diniz, que assumiu o cargo quando Salvador rendeu o irmão Vasco na presidência executiva do grupo José de Mello, sublinha que "fruto da confiança dos clientes e da resiliência das equipas na retoma da atividade, o 2.º semestre de 2020 traduziu um crescimento face ao período homólogo". No entanto, acrescenta, "tendo em conta a redução registada no 1.º semestre, que gerou um impacto significativo nas contas consolidadas da CUF, o desempenho global do ano é negativo".
No comunicado publicado esta tarde, a marca que reclama o estatuto de maior operador privado de cuidados de saúde no país – presente em Lisboa, Porto, Almada, Oeiras, Cascais, Sintra, Mafra, Torres Vedras, Santarém, Coimbra, Viseu, S. João da Madeira e Matosinhos – destaca ainda a diminuição do EBITDA para 44,3 milhões de euros (-54,7% face a 2019). Atribui-o à quebra da atividade e à manutenção da capacidade total disponível, incluindo ao nível dos recursos humanos, "não tendo recorrido a qualquer lay-off".
Partos no verde e dívida a vermelho
No capítulo dos indicadores assistenciais, os únicos que não derraparam foram os partos no segmento privado, que subiram 5,8% em 2020, e o número de dias de internamento na PPP de Vila Franca de Xira (+2,4%). Todos os outros passaram para o terreno negativo face ao período homólogo, incluindo as consultas (-14,7%), as urgências (-38,5%) e os doentes operados (-9,7%) na rede de unidades privadas da marca CUF.
Por outro lado, a dívida bruta financeira aumentou 42,8 milhões de euros no último ano, subindo para 577,1 milhões de euros no final de 2020, "o que se explica em grande parte pelo recurso a financiamentos no âmbito da expansão da rede CUF [Tejo, Sintra e Torres Vedras] e a linhas de financiamento de curto-prazo obtidas, de acordo com as necessidades de tesouraria no contexto da pandemia".
A CUF informa ainda que no segundo semestre obteve junto dos detentores de obrigações "um consentimento para o não cumprimento do limite de 6,0x do rácio dívida financeira líquida / EBITDA, exclusivamente para o exercício de 2020, substituindo o mesmo por um limite máximo de 570 milhões de euros na dívida financeira líquida, que foi confortavelmente cumprido".
Ao nível do financiamento, oficializou em março de 2020 um contrato de 33 milhões de euros com o Bank of China e, com esta operação, concretizou a sua estratégia de refinanciamento, detalhando que "não [existe] até 2023, além dos financiamentos de curto-prazo contratados, qualquer outro refinanciamento significativo a vencer-se".