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BlablaCar, o Tinder dos transportes, oferece boleia a investidores
Apanhar boleia para uma longa viagem com um estranho pode não ser para qualquer um, mas a francesa BlablaCar aposta que os investidores vão querer uma parte do negócio quando a empresa abrir o capital.
Com a sua aplicação que liga proprietários de carros e passageiros que vão na mesma direção, a maior empresa de boleias da Europa tem cerca de 89 milhões de utilizadores em 22 países. Para o cofundador e presidente da BlablaCar, Nicolas Brusson, traçar o futuro da empresa inclui uma oferta pública inicial.
"Em algum momento, é provável que avancemos com a abertura do capital", disse Brusson, numa entrevista na sede da empresa em Paris. "A meu ver, estamos felizes em mantermo-nos uma empresa privada por mais dois anos. Por enquanto, estamos a construir um negócio sustentável e em crescimento".
Preocupações com as alterações climáticas e custos mais altos dos transportes, bem como subsídios públicos para viagens partilhadas, dão impulso ao segmento. A 6 de fevereiro, a BlablaCar anunciou que as receitas aumentaram 71% no ano passado, em que a empresa ganhou 17 milhões de novos utilizadores. Cerca de 21 milhões de passageiros viajaram utilizando a aplicação no quarto trimestre, um aumento de 38% em relação ao mesmo período do ano anterior.
"A boleia é o Tinder dos transportes", disse Guillaume Crunelle, que acompanha o setor dos transportes da Europa na consultora Deloitte. "É um negócio que ainda está na linha de partida. A mentalidade está a mudar rapidamente, impulsionada pelo clima, e a boleia é um dos negócios que está a ganhar com isso".
Na quarta-feira, a russa Vostok New Ventures, que tem uma participação de cerca de 8,7% na BlablaCar, elevou a sua avaliação da empresa para 1,82 mil milhões de dólares, um aumento de mais de 40% em relação ao ano anterior.
Ainda assim, devido à experiência de empresas de transportes com aplicações como a Uber Technologies, cujas ações caíram na sua estreia em bolsa, pode levar alguns anos até a BlablaCar dar o mesmo passo. Na fase inicial de crescimento, as empresas não querem sujeitar-se aos interesses de curto prazo de acionistas transitórios.
Criada em 2006, a BlablaCar é apresentada como uma história de sucesso francesa. Embora a empresa afirme que o seu lucro em 2018 mostra que pode ser rentável, a BlablaCar registou prejuízos no ano passado devido a investimentos para expandir a sua presença em países como o Brasil, Rússia, Turquia e Índia. A BlablaCar está em fase de "crescimento", disse Brusson.
Embora o negócio em França esteja a evoluir de forma positiva, a crescente concorrência e a monetização de boleias em mercados emergentes continuam a ser desafios.
"A BlablaCar é muito lucrativa em França, eles digitalizaram a boleia", disse Jean-Marc Bally, investidor de capital de risco da Aster Capital Partners, que injetou cerca de 1 milhão de euros em outubro na Karos, uma rival da BlablaCar.
O desafio agora é obter lucros noutros mercados. Fazer as pessoas pagarem por um lugar no carro não é fácil em mercados em expansão como o Brasil, Rússia e México, disse Brusson. O CEO, que trabalhou em Silicon Valley no início dos anos 2000, sonha com um IPO nos EUA.
Ainda assim, embora a BlablaCar tenha atualmente uma vantagem confortável no mercado de boleias, isso pode ter vida curta. A concorrência pode tornar-se mais acirrada e pesar na sua avaliação.
Concorrência à parte, a BlablaCar enfrenta restrições do próprio negócio. Receios de abuso - a Uber enfrenta casos de agressão sexual, e dois passageiros da chinesa Didi foram assassinados - podem manter algumas pessoas longe deste tipo de serviços.