Já afirmou em público que uma decisão difícil para um líder é sempre o momento em que tem de saber que está na hora de sair. O senhor é amigo do engenheiro Jorge Jardim Gonçalves, ainda pertence ao conselho superior do BCP, e o líder histórico do banco anunciou esta terça-feira que vai abandonar os cargos. O que pensa desta situação?

Sabe-se muito pouco do que se passou no BCP. A História e o tempo o dirão. Só lhe posso dizer uma coisa: quando se olha para a vida empresarial dos últimos 20 anos e se vê os projectos que foram feitos, certamente que o projecto liderado pelo engenheiro Jardim Gonçalves foi dos melhores e foi vencedor. À boa maneira portuguesa, as pessoas começam a querer pisar alguém que fez uma obra extraordinária. Cometeu erros, mas todos nós os cometemos. O que interessa é que a diferença entre o activo e o passivo é brutal a favor do activo. O banco está aí. É uma realidade. Teve o seu tempo mau, mas será resolvido.

Porque todas as lideranças têm o seu tempo, o engenheiro Jardim Gonçalves não deveria ter antecipado já há algum tempo esta decisão que acabou de tomar?

Não posso julgar os outros. Não conheço a situação interna. O conselho superior a que pertenço é um órgão de aconselhamento. Que o engenheiro Jardim Gonçalves tomou a decisão de se reformar há dois anos, isso tomou. Cedeu o lugar de presidente do conselho de administração a alguém. Agora, por que razão, desde aí, as coisas não marcharam bem, isso não sei.

As lutas de poder aparecem nestas alturas. São legítimas e até humanas. No caso da sua transição também teve que gerir essas expectativas?

Não, porque foi feito um trabalho de preparação muito grande. Tenho dois filhos com capacidade e currículo para desempenhar o lugar de CEO da Jerónimo Martins. Tiveram de perceber que havia um acordo na família e que esse acordo teria de ser cumprido. Por outro lado, tirando o período do ano passado me que voltei a estar doente, tenho acompanhado o trabalho muito de perto.