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Alcançado pré-acordo sobre IRC global. Falta convencer nove países
São 130 os países a remar para o mesmo lado. Contra estão nove nações, maioritariamente paraísos fiscais, que veem na taxa mínima de, pelo menos, 15% uma ameaça à sua soberania e principal fonte de receitas fiscais.
As principais economias mundiais estão agora mais perto de impor um imposto mínimo global sobre os rendimentos das empresas, embora alguns paraísos fiscais não estejam de acordo. A medida pode entrar em vigor já em 2023.
São 130 os países que subscreveram a proposta de aplicar uma taxa de, pelo menos, 15% sobre os rendimentos das empresas à escala global e ainda uma taxa adicional a aplicar às 100 maiores empresas do mundo. Foram, contudo, deixadas de fora medidas de exceção à industria financeira ou à indústria transformadora que poderão ainda ser alinhavadas e incluídas no pacote de medidas até outubro.
Todo o G20 estará a bordo e os seus membros devem assinar o documento no dia 9 de julho, em Veneza, por intermédio dos seus ministros das Finanças. A reunião da OCDE de hoje fica também marcada pela adesão de países tidos como indecisos, como a Turquia, China ou mesmo a Índia.
Contra estão apenas nove países, a maioria com baixas taxas de IRC. São eles a Hungria, Irlanda, Estónia, Barbados, Quénia, Nigéria, Peru, Sri Lanka e São Vicente e Grenadinas.
Os países que recusaram assinar o pré-acordo mediado pela OCDE invocaram o receio de perder a capacidade de fixar empresas no seu território e mesmo um perigo direto à sua soberania. Alguns destes países veem neste imposto uma das suas principais fontes de receitas e responsável por uma parte significativa do seu PIB.
Caso um acordo universal não seja alcançado, os países que se recusem a aceitar a medida podem ser alvo de sanções económicas como resposta.
A medida foi desenhada com vista a impedir as grandes multinacionais de utilizarem medidas de engenharia fiscal que lhes permitam atribuir lucros obtidos em países de impostos mais altos junto de paraísos fiscais. A isto chama-se ‘profit shifting’ e, apesar de não ser ilegal, tem custado milhares de milhões aos governos de todo o mundo em prol de uma quantidade reduzida de paraísos fiscais.
O que dizem as letras pequenas?
O pré-acordo hoje alcançado tem, ainda assim, algumas cláusulas adicionais. É aplicável apenas a empresas com receitas superiores a 20 mil milhões de euros e uma margem de lucro superior a 10%, antes de impostos.
No futuro, a receita mínima das empresas sujeitas ao novo imposto global poderá baixar para 10 mil milhões de euros, mas a alteração está pendente de revisão.
As receitas obtidas através do novo imposto serão depois distribuídas pelos países em que a empresa em questão contabilizar pelo menos um milhão de euros em receitas. Para os países mais pobres, o requisito mínimo fica-se pelos 250 mil euros.
O "mas" dos Estados Unidos
Apesar de ser um dos subscritores do pré-acordo alcançado hoje em Paris, os Estados Unidos deverão ter uma condição que querem ver satisfeita antes da entrada em vigor do novo imposto global: a não taxação das gigantes tecnológicas na Europa.
Segundo uma carta entregue a alguns diplomatas europeus pelo Governo americano a que o jornal Politico teve acesso, Joe Biden vê na intenção europeia em taxar as gigantes tecnológicas (a maioria das quais de origem americana) um obstáculo à subscrição da taxa global de IRC pelos Estados Unidos.
Na verdade, o problema dos Estados Unidos é para com todos os países que tencionem implementar um imposto específico às empresas tecnológicas, onde se inclui a proposta em cima da mesa na União Europeia.
A iniciativa deve ser introduzida para debate nos órgãos europeus a meio do mês de julho e é vista como um meio de financiar o plano de recuperação no pós-pandemia.
"A Taxa Digital da UE, mesmo que diferente de outros impostos aos serviços digitais, ameaça o trabalho levado a cabo através da OCDE/G20 (…). Urgimos para que se trabalhe com o Conselho Europeu e a Comissão Europeia para atrasar o lançamento da proposta da Taxa Digital da UE", pode ler-se na carta a que o Politico teve acesso.
"Apreciamos as repetidas declarações públicas que indicam que a UE tenciona assegurar que a sua taxa digital complementa uma decisão multilateral e consensual (…). Tal complementaridade só será possível se os trabalhos de pré-acordo inclusivos da OCDE/G20 forem concluídos antes da UE propor a sua taxa", continuava o documento.
Irlanda a favor de 'competitividade fiscal'
A Irlanda faz parte de um pequeno grupo de países europeu contra a medida e perdeu o apoio dos seus habituais parceiros em matérias fiscais na União Europeia. Holanda, Malta e Luxemburgo estão entre as 130 nações que subscrevem a proposta para uma taxa mínima de IRC fixada em 15%.
Através do seu ministro das Finanças Paschal Donohoe, Dublin defende "vigorosamente" o "direito à competição fiscal". Segundo as contas do ministério das Finanças daquele país, a medida pode custar cerca de 2.000 milhões de euros aos cofres do Estado até 2025.
Em resposta, o secretário-geral da OCDE, Mathias Cormann, disse que o acordo não impede a competição fiscal. Em vez disso, coloca-lhe uma fasquia.
"Este pacote não elimina a competição fiscal, tal como não deve, mas estabelece limitações acordadas multilateralmente. Ele também acomoda os vários interesses espalhados pela mesa de negociações, incluindo os das pequenas economias e das jurisdições em desenvolvimento", argumentou o secretário-geral da OCDE.