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2004 - Deixou a Jerónimo Martins a sonhar com a expansão polaca

O ano que viu Portugal chegar à final do Euro 2004 foi também aquele que assistiu a um rebuliço em São Bento, com dois primeiros- -ministros e um Parlamento dissolvido. Madrid foi vítima de um ataque terrorista e a Galp protagonista do negócio do ano.

Pedro Elias
Negócios 27 de Junho de 2013 às 00:01
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Figura do ano

 

Alexandre Soares dos Santos era, em 2004, o CEO da gigante da distribuição Jerónimo Martins. Deixou essas funções por motivos de saúde e teve a coragem de deixar a empresa, um negócio de família, nas mãos de Luís Palha da Silva, que vinha de fora, um passo que poucas empresas familiares se disporiam a dar. Mas Soares dos Santos, estava habituado a pensar com a razão e não com o coração, escreveu então o Negócios.

 

Foi isso que aconteceu quando, em 2001, numa altura de "aperto", de viu forçado a desfazer-se do negócio das águas Vidago, Melgaço e Pedras Salgadas. Uma venda que deixou mágoas a Soares dos Santos, mas que se enquadrou numa estratégia global de venda de activos para reduzir a dívida do grupo. Lá fora, Soares dos Santos lutou por sair do Brasil, tendo

Vamos ter mais um ano de muita cautela. E temos de começar a crescer outra vez
 

Soares dos Santos, CEO da Jerónimo Martins, em entrevista ao Negócios, a 14 de Maio de 2004

conseguido vender a operação da Sé. Uma venda tão importante e difícil que o CEO haveria de dizer que a empresa "apanhou a última carruagem do último comboio", que é como quem diz, aproveitou a última oportunidade para sair a tempo do país. A Jerónimo Martins desinvestiu também no mercado polaco, onde chegou em 1997, e concentrou-se no segmento "discount" com as lojas Biedronka. Um dos objectivos de Soares dos Santos era, aliás, chegar às 1.200 lojas no país.

 

O gestor, que assumiu a presidência não executiva do grupo, deixou as contas da empresa equilibradas e os negócios bem definidos. Tentou fazer uma fusão com a Sonae, que não conseguiu, mas não desistiu de dar dimensão à empresa. Apelou várias vezes ao regresso à política de Cavaco Silva. "Foi o único grande primeiro-ministro que tivemos", disse ao Negócios.

 
O que veio a seguir

Soares dos Santos continua a ser o presidente não executivo da Jerónimo Martins, e assistiu a uma enorme evolução no negócio na Polónia. Se em 2004 apontava para 1.200 lojas, actualmente a Jerónimo Martins detém 2.125 lojas "Biedronka". A empresa também entrou na Colômbia, onde está sob o nome "Ara". Já o Brasil está definitivamente "enterrado", afirmou em Março Pedro Soares dos Santos, filho de Alexandre, que assumiu as funções de CEO depois da saída de Luís Palha da Silva. A Polónia revelou-se, aliás, uma aposta acertada da empresa: em 2012 valeu 61,9% do total de vendas do grupo, enquanto o Pingo Doce pesou "apenas" 30,8%. A Jerónimo Martins iniciou, entretanto, uma fundação dedicada a Francisco Manuel dos Santos, fundador do grupo, que é avô de Alexandre Soares dos Santos.

Facto Nacional

Santana foi para São Bento e provou a “bomba atómica”

 

Foi um ano politicamente muito agitado em Portugal. No espaço de alguns meses, Portugal teve três primeiros-ministros. Tudo começou com a saída de Durão Barroso para a presidência da Comissão Europeia, em Julho de 2004. Jorge Sampaio, o Presidente da República, aceitou o nome de Santana Lopes, indicado por PSD e CDS, para ser o novo chefe de Governo. Porém, alegando falta de credibilidade do Executivo, Sampaio usou a "bomba atómica" a 30 de Novembro desse mesmo ano, derrubou o Governo e a maioria que o apoiava e convocou eleições antecipadas para Fevereiro de 2005.

 
O que veio a seguir
Jorge Sampaio usou a "bomba atómica" pela segunda vez (já o tinha feito em 2001) e foi Presidente até 2006. Nas legislativas de 20 de Fevereiro de 2005, Santana Lopes ainda se apresentou a votos, mas foi esmagado por José Sócrates, que conquistou 45% dos votos e uma maioria absoluta. Santana Lopes obteve um resultado de 28,7%, perdendo para o PSD mais de 400 mil votos face às anteriores legislativas, em 2002. Começou aí a primeira de duas legislaturas de Sócrates. Santana regressaria à política na Câmara de Lisboa.

Facto internacional

Islâmicos espalham o terror em Espanha

 

Depois do 11 de Setembro de 2011, que fez mais de três mil vítimas mortais em Nova Iorque, o mundo acordou para o fenómeno do terrorismo e começou a precaver-se. Os estados começaram a controlar a entrada de indivíduos suspeitos e as viagens aéreas foram radicalmente alteradas.

 

Ainda assim, Espanha não conseguiu impedir, a 11 de Março, uma série de atentados terroristas em quatro comboios urbanos de Madrid. Dez explosões em simultâneo fizeram 191 mortos e 1.700 feridos. O ataque foi efectuado por uma célula islâmica que se inspirou na Al-Qaeda.

 
O que veio a seguir
O 11 de Março de 2004 ajudou à queda do governo de Aznar, que se apressou a culpar a ETA pelo ataque, que afinal fora levado a cabo por uma célula islâmica sem ligações directas à Al-Qaeda. Nas eleições de 14 de Março, Zapatero, do PSOE, saiu vencedor. Quatro terroristas que planearam o ataque suicidaram- -se em Abril de 2004, depois de terem sido descobertos pela polícia. Um ano depois, Londres também foi vítima de um ataque à bomba que matou 52 pessoas.

 

Imagem do ano 

Euro2004 acaba com Portugal a perder para a Grécia

 

Portugal organizou o Campeonato da Europa de 2004 e começou a perder para a Grécia. Ganhou os restantes jogos, alguns épicos (afastou a Inglaterra nos penáltis), mas no final, a história repetia-se: a 4 de Julho e no Estádio da Luz, Portugal voltaria a perder para a Grécia, desta vez por 1-0.

 

O Euro 2004 foi o maior acontecimento do ano, e teve um impacto forte no País. Foram construídos de raiz sete estádios e renovados três (Guimarães, Porto-Boavista e Coimbra), que implicaram um enorme investimento e a construção de novos acessos rodoviários.

 

Os transportes públicos, especialmente o ferroviário, foram melhorados: a linha do Minho foi duplicada e electrificada entre o Porto e Braga e o Alfa Pendular passou a fazer a ligação directa entre Braga e Faro, duas das cidades-sede do campeonato de futebol.

 

As 16 selecções de futebol que participaram na competição deram negócio aos hotéis, tal como os milhares de adeptos que acompanharam as selecções durante cerca de um mês.

 

Para os gregos foi um ano de sucesso em termos desportivos: depois de uma vitória inesperada no Euro, também organizaram os Jogos Olímpicos.

 

O que veio a seguir

Além da melhoria nos acessos e transportes, o impacto económico positivo do Euro esteve muito circunscrito aos meses da competição. O negativo ainda hoje se faz sentir: várias câmaras endividaram-se em níveis muito elevados para financiar a construção dos estádios e respectivas vias rodoviárias de acesso. Alguns estádios, como o de Aveiro, Leiria ou Algarve, estão praticamente às moscas.

Negócio do ano
Petrocer vence corrida à compra de 40,8% da Galp

 

A privatização da Galp, iniciada em 1999, permitiu aos italianos da Eni adquirirem 33,34% da petrolífera. Em 2004, ano em que o mercado dos combustíveis foi liberalizado em Portugal, o Executivo liderado por Durão Barroso chega a acordo com a Eni para a saída do capital da Galp, em troca de uma participação de 49% na Gás de Portugal, que seria destacada da Galp.

 

Obtido o acordo da Eni, o Governo lançou em Abril uma consulta a grupos privados para a compra de entre 33,34% a 47% do capital da Galp (somando a percentagem detida pela EDP). Aparecem quatro grupos, mas a corrida é sobretudo disputado pelo grupo americano Carlyle e pelo consórcio Petrocer, que agrupa os accionistas nacionais da Unicer.

 

O concurso é duro e divide o Governo, mas à fase final passam o grupo Mello e a Petrocer. Este último vence a corrida a 40,84% da Galp já com Santana Lopes no poder, mas o negócio ainda tinha de ser aprovado pela Comissão Europeia.

 

O que veio a seguir

 

O negócio estava tremido no final de 2004, e em 2005 veio mesmo abaixo. A Comissão Europeia chumbou a entrada da Eni na Gás de Portugal, o que deveria render 1.200 milhões de euros aos cofres públicos. A compra da Gás de Portugal pela EDP e pela Eni era fundamental para concretizar a entrada do consórcio Petrocer no capital da Galp: se a Eni e a EDP não saíssem da petrolífera, não haveria capital para vender à Petrocer. Mario Monti, que em 2004 era o comissário da Concorrência, chumbou, em Dezembro desse ano, o negócio.

 

A EDP recorreu para o Tribunal Europeu de Justiça para anular essa decisão, mas este confirmou o chumbo. A Eni continua na Galp, mas decidiu, em 2012, alienar uma parte da sua participação no capital à Amorim Energia e a outros investidores.
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