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Testes de stress: bancos avaliados pela Fed "aprovados". Mas devem reforçar reservas de capital

Dos 31 maiores bancos a operarem nos Estados Unidos, nenhum escapa à recomendação: todos devem reforçar os fundos próprios. Ainda assim, todos eles mostraram dispor de capital suficiente para absorverem 684 mil milhões de dólares de perdas - no cenário mais adverso - e continuarem a conceder crédito às famílias e empresas.

Reuters
26 de Junho de 2024 às 21:59
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Os 31 maiores bancos (com 100 mil milhões de dólares ou mais em ativos totais) a operarem nos Estados Unidos, que foram avaliados pela Reserva Federal (Fed) norte-americana no âmbito dos testes de stress anuais, tiveram todos nota positiva. Ainda assim, para se precaverem contra uma recessão severa, em que as perdas podem ser mais elevadas do que o previsto, o melhor é reforçarem as suas reservas de capital, recomenda a Fed. 

O aumento dos níveis de incumprimento dos cartões de crédito, a pressão sobre o crédito às empresas e o aumento de despesas "sugerem que os requisitos para as reservas de capital devem ser mais elevados", afirmou o vice-presidente da Fed, Michael Barr, na apresentação destes resultados dos testes de resiliência às maiores instituições financeiras do país.

 

Quaisquer aumentos nos amortecedores de capital poderão afetar o volume da recompra de ações próprias e os dividendos a distribuir pelos maiores bancos dos Estados Unidos. A Fed, recorde-se, usa estes testes como ferramenta para avaliar se os amortecedores de capital da banca do país são suficientes em caso de apuros.

 

"Tal como o sistema financeiro, o teste de stress é dinâmico. À medida que os riscos no sistema financeiro mudam, também os testes de stress terão de se ir ajustando", referiu Michael Barr.

Embora os cenários económicos com que a Fed trabalhou se tenham mantido praticamente inalterados este ano face a 2023, a hipotética tempestade económica pesou sobre os balanços dos bancos, sublinha o banco central.

 

Assim, os 31 bancos analisados este ano (em 2023 foram apenas 23 bancos) apresentavam - nos testes de stress de este ano – perdas maiores do que no ano passado "porque os balanços dos bancos apresentam, de certa forma, maiores riscos" e também "porque as despesas são mais elevadas", afirmou Barr.

 

Coletivamente, os rácios de adequação dos fundos próprios de base ('tier one') – isto é, o dinheiro que é guardado como ‘almofada’ para perdas no balanço – recuaram em 2,8 pontos percentuais para 9,9%. Esta queda foi mais elevada do que a do ano passado (quando já tinha havido uma diminuição de 2,5%) e é mesmo a mais alta desde 2018, dado que os bancos se confrontam atualmente com um contexto de taxas de juro mais altas durante mais tempo.

Assim, no cenário adverso mais severo, o rácio de capital CET1 dos 31 bancos cai dos 12,7% registados no quarto trimestre de 2023 para o mínimo projetado de 9,9% no início do horizonte da projeção - mas depois recupera para 10,4% no fim do horizonte da projeção.

 

A Fed diz que, este ano, os bancos se deparam com riscos "substanciais" nos cartões de crédito e com maiores taxas de incumprimento, bem como com carteiras de crédito corporativo de maior risco e despesas mais elevadas – a par com comissões mais baixas.

 

Tudo junto, os cenários económicos negativos em que os balanços dos bancos foram analiados resultaram em perdas teóricas de 684 mil milhões de dólares, incluindo 80 mil milhões para perdas com imobiliário, 175 mil milhões para prejuízos com cartões de crédito e 142 mil milhões em empréstimos para imobiliário industrial e comercial.

Entre os fatores que contribuíram para as perdas incluía-se – nos cenários hipotéticos da Fed – uma queda de 40% nos preços do imobiliário comercial, um aumento significativo de escritórios vazios, uma taxa de desemprego entre 6,5% (contra 4% atualmente) e 10% (no pior cenário, o de uma recessão severa) e uma queda de 36% nos preços das casas. Dadas as dificuldades que têm sido reportadas por alguns bancos devido à instabilidade do mercado imobiliário residencial e comercial, este foi um fator em foco nos testes de 2024.

Bom posicionamento em caso de recessão

 

Apesar dos maiores riscos, e da consequente necessidade de reforço das reservas de capital, a Fed concluiu que os 31 bancos avaliados  - entre os quais o JPMorgan Chase, Goldman Sachs e Bank of America - parecem estar "bem posicionados" para suportarem uma severa contração económica.

 

Com efeito, depois de absorverem as perdas hipotéticas de 684 mil milhões de dólares, os 31 bancos ainda se mantinham acima dos requisitos mínimos para o rácio de capital Common Equity Tier 1 (CET1), referiu o banco central dos EUA.

Assim, os bancos mostraram que conseguiriam manter os seus níveis de capital intactos para poderem continuar a conceder crédito e apoiar a economia em caso de recessão. No entanto, o ideal é que reforcem as suas reservas, no entender da Fed, dado que em cenários de maior stress também as perdas poderão ser maiores.

Há testes de stress à banca dos EUA desde 2009

 

Estes testes anuais à resiliência da banca, recorde-se, são realizados no âmbito da Lei Dodd-Frank (onde se inclui, por exemplo, a famosa "Regra Volcker", que visa limitar as operações bolsistas por conta própria por parte da banca) promulgada após a crise financeira de 2008 – na sequência da crise do "subprime" (concessão de empréstimos a clientes com fraca qualidade creditícia, que deixaram de poder pagar os créditos à habitação quando se deu a bolha do imobiliário).

 

Durante a crise financeira, que teve início em 2008 nos EUA e contagiou o mundo inteiro, muitos bancos considerados "demasiado grandes para falir" [dada a sua importância sistémica] tiveram de contar com os contribuintes para serem resgatados.

 

Depois disso, têm vindo a ser introduzidas normas regulatórias a nível mundial no sentido de evitar uma réplica daquela crise no futuro. A Fed realiza estes testes de stress desde 2009.

 

Essas regras dizem respeito, nomeadamente, à transparência dos instrumentos financeiros e à tomada de risco por parte do setor financeiro, onde se incluem os requisitos de capital destinados a amortecer eventuais choques – daí que haja os chamados ‘testes de stress’ nos Estados Unidos e Europa, que visam avaliar a resiliência do setor financeiro a cenários hipotéticos de descarrilamento das economias.

 

A Fed tinha por hábito realizar estes testes através de duas fases, mas desde 2020 que tem optado por uma avaliação anual única.

 

A Reserva Federal usa estes testes para levar as entidades de concessão de crédito a constituírem almofadas de capital em caso de necessidade. Os bancos que chumbavam na segunda ronda de testes – nos últimos anos não tem acontecido – enfrentavam restrições em matéria de recompra de ações e de distribuição de dividendos.

(notícia atualizada pela última vez às 23:17)

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