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Portugal tenta livrar-se do fantasma do Banco Espírito Santo

Para Portugal, existe um antes e um depois do Banco Espírito Santo.

Pedro Elias
05 de Agosto de 2017 às 14:00
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A queda em desgraça de um dos grupos bancários mais antigos do país e da família que o fundou praticamente apagou os sinais do seu domínio único no país. O nome do banco já não brilha no alto de um prédio com vista para a Praça Marquês de Pombal, no centro de Lisboa, e o logo do banco desapareceu das camisolas dos jogadores dos três maiores clubes de futebol de Portugal. Três anos depois do colapso do banco, muitos em Portugal só querem virar esta página.

 

"Portugal era um grande país antes do Banco Espírito Santo e continuará a ser um grande país depois do Espírito Santo", disse Manuel Oliveira, funcionário de manutenção de um edifício na Praça Marquês de Pombal. "A vida continua."

 

Em muitos sentidos, o grupo chegou a simbolizar os excessos que levaram Portugal a pedir um resgate aos seus parceiros da Zona Euro. O Banco Espírito Santo quebrou sob o peso de dívidas incobráveis com empresas controladas pelo Espírito Santo Group, controlado pela família, e foi resgatado pelo Fundo de Resolução do Banco Central em 3 de Agosto de 2014.

 

Os activos e o nome daquela que é considerada a maior dinastia bancária de Portugal já não estão nas manchetes e Ricardo Salgado, que dirigiu o banco por mais de duas décadas, está a tentar salvar o nome e a honra da sua família.

 

‘Um príncipe’

 

Salgado, de 73 anos, bisneto do fundador, ajudou a transformar o que começou em 1869 como uma pequena loja de câmbio em Lisboa no maior banco privado de Portugal. Salgado supervisionou a expansão da instituição em 25 países, já que a sua família abriu dezenas de negócios não-financeiros que vão desde uma rede de hotéis em Portugal e no Brasil, os Tivoli, até uma fazenda de mais de 135.000 hectares no Paraguai.

 

"Ele parecia um príncipe", afirmou João Duque, professor de Finanças do Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa. "Salgado falava com uma voz calma que transmitia confiança e segurança a todos ao seu redor. Ele tinha tudo o que precisava para ter sucesso."

 

Isso não foi suficiente para salvar a instituição lisboeta de mais de 140 anos do colapso e do esquecimento. O nome na praça principal de Lisboa foi substituído pelas letras do Novo Banco, o banco derivado do Banco Espírito Santo após o seu resgate de 4,9 mil milhões de euros.

 

As equipas de futebol de Portugal procuraram novos patrocinadores, como a Emirates Airlines. A marca do Banco Espírito Santo, que segundo o Brand Finance, era a mais valiosa entre todos os bancos do índice PSI-20 em 2014, hoje é tratada como uma relíquia. Um punhado de porta-chaves, calendários e outros itens com o logotipo BES podem ser encontrados por até 100 euros na loja de comércio electrónico OLX.

 

Virar a página

O Governo de Portugal espera concluir a venda do Novo Banco à empresa de private equity dos EUA, Lone Star, até Novembro. A venda proposta está destinada a virar a página sobre o maior resgate bancário da história do país. Também marcará a maior venda do império do Espírito Santo desde que o grupo desmoronou em 2014.

 

"A venda encerraria um capítulo importante num momento em que o sector financeiro de Portugal está a melhorar", disse Filipe Garcia, economista da empresa de consultoria financeira IMF-Informação de Mercados Financeiros, com sede no Porto. "Mas o acordo ainda não está fechado."

 

A maioria dos outros activos do grupo Espirito Santo foi vendida ou está em processo de liquidação.

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