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Miguel Maya: BCP tem uma relação "corretíssima" com petrolífera Sonangol

O presidente do BCP, Miguel Maya, disse hoje que o banco que lidera tem uma relação "corretíssima" com a petrolífera angolana Sonangol, sua acionista, e que nunca lhe foi concedido crédito para adquirir ações.

ANTÓNIO PEDRO SANTOS
31 de Janeiro de 2020 às 07:53
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"A relação com a Sonangol é corretíssima. Sempre foi, desde que sou administrador, desde 2009, absolutamente correta", disse Miguel Maya, em resposta aos jornalistas à margem da Banking Summit, que decorreu em Lisboa.

O gestor afirmou ainda que a sua relação com Manuel Vicente, antigo vice-presidente de Angola e ex-presidente da Sonangol, também sempre "foi completamente correta" e disse que foi no âmbito do habitual agradecimento aos acionistas que em 2012 (poucos dias depois de tomar posse como vice-presidente) enviou uma carta a Manuel Vicente.

"Tive várias interações com a Sonangol, que teve um papel importante na recuperação que o BCP fez e em 2012 fui convidado -- não pela Sonangol nem por qualquer acionista -- pelo Dr. Nuno Amado a ser vice-presidente, o que aceitei. No final de cada assembleia-geral agradeço às pessoas que me delegam votos e tive o cuidado de agradecer também aos principais acionistas", justificou Maya.

A revista Sábado, na reportagem hoje publicada 'O ataque de Angola aos bancos portugueses', conta a história da influência de Angola na banca em Portugal e divulga uma carta de Maya a Manuel Vicente em que o gestor refere o "privilégio" de privar com o político angolano e os "ensinamentos" transmitidos.

Miguel Maya garantiu ainda, aos jornalistas, que o "BCP nunca concedeu crédito à Sonangol para adquirir ações".

Sobre a participação da Sonangol no BCP, onde é o segundo maior acionista com 19,5% do capital social (o principal acionista é o grupo chinês Fosun com cerca de 27%, segundo as últimas informações), Maya considerou que não há razões para "haver alteração da participação no banco".

Ainda sobre a forma como o BCP controla operações financeiras que possam ser suspeitas, Miguel Maya disse que o banco que lidera tem um bom sistema para avaliar se as operações cumprem as leis e as normas existentes ('compliance', no termo técnico em inglês) e que em qualquer movimento suspeito faz reporte às autoridades, mas afirmou também que está sempre disponível para o escrutínio dos supervisores.

"Tudo aquilo que reguladores perguntam obviamente que respondemos. Temos registo sobre qualquer movimentação de contas no BCP, tudo fica registado e é passível de ser analisado pelas autoridades a qualquer momento. Temos um nível de escrutínio e um nível de qualidade da informação que garante total transparência", afirmou.

Questionado sobre o impacto das revelações do 'Luanda Leaks' no banco, Miguel Maya disse que o BCP não age em função das notícias, uma vez que tem mecanismos de alerta, mas admitiu que as notícias levam a atenção redobrada.

"A única coisa que fazemos quando vemos notícia nos jornais relativamente a alguns nomes é validar se houve transferências que possam não ter sido detetadas, é um 'check' adicional , mas temos os modelos montados de forma a não necessitar destas notícias", afirmou.

Miguel Maya admitiu ainda que o caso do 'Luanda Leaks' se pode refletir em todo o sistema: "Tudo o que acontece de mau a um banco em Portugal reflete-se no sistema todo, não seria correto nem sincero dizer que não me preocupa".

No dia 19 de janeiro, o consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação (ICIJ) revelou mais de 715 mil ficheiros, sob o nome de 'Luanda Leaks', que detalham esquemas financeiros de Isabel dos Santos (filha do ex-Presidente de Angola Eduardo dos Santos) e do marido, Sindika Dokolo, que terão permitido retirar dinheiro do erário público angolano, utilizando paraísos fiscais.

De acordo com a investigação do consórcio, do qual fazem parte o Expresso e a SIC, Isabel dos Santos terá montado um esquema de ocultação que lhe permitiu desviar mais de 100 milhões de dólares (cerca de 90 milhões de euros) para uma empresa sediada no Dubai e que tinha como única acionista declarada Paula Oliveira.

A investigação revelou ainda que, em menos de 24 horas, a conta da Sonangol no EuroBic Lisboa (banco de que Isabel dos Santos é a principal acionista, liderado desde 2016 por Teixeira dos Santos, ex-ministro das Finanças do governo PS de José Sócrates) foi esvaziada e ficou com saldo negativo no dia seguinte à demissão da empresária da petrolífera angolana.

O EuroBic anunciou, na semana passada, que cortou relações comerciais com Isabel dos Santos, que a empresária vai abandonar a estrutura acionista e deixar de exercer os direitos de voto associados à sua participação.

Também hoje, na Banking Summit, o governador do Banco de Portugal (BdP) referiu-se implicitamente ao tema 'Luanda Leaks', afirmando que a instituição é atenta e ativa a verificar e avaliar as medidas tomadas pelos bancos a operar em Portugal para prevenirem operações de branqueamento de capitais e assim continuará.

"O Banco de Portugal continuará a ser diligente, atento e muito ativo na inspeção dos sistemas de prevenção de branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo", disse Carlos Costa, na sua intervenção conferência sobre banca organizada pela Associação Portuguesa de Bancos (APB).
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