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Maior banco angolano com buraco de 4,3 mil milhões de euros

O BPC, o maior banco angolano, totalmente detido pelo Estado, fechou 2017 com um buraco de 5,2 mil milhões de dólares (4,3 mil milhões de euros), essencialmente devido ao crédito malparado, o segundo pior registo da história da banca em Angola.

O maior banco angolano, totalmente detido pelo Estado, chama-se BPC e fechou o exercício de 2017 com um buraco de cinco mil milhões de dólares (4,3 mil milhões de euros). Reuters
19 de Maio de 2018 às 09:46
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Cerca de 5,2 mil milhões de dólares (4,3 mil milhões de euros) - é esta a dimensão do buraco com que o BPC, o maior banco angolano, totalmente detido pelo Estado, fechou o último exercício, essencialmente devido ao crédito malparado. Trata-se do segundo pior registo da história da banca em Angola.

 

Os dados constam do prospecto da emissão de "eurobonds" de três mil milhões de dólares (2,5 mil milhões de euros), a 10 e 30 anos e com juros acima dos 8,2% ao ano - concretizada pelo Estado angolano este mês -, que foi enviado aos investidores e ao qual a Lusa teve acesso.

 

No documento de mais de 200 páginas de suporte à operação de colocação de títulos da dívida pública angolana em moeda estrangeira, a segunda do género feita pelo país e denominada "Palanca 2", é referido que em Dezembro de 2017, o Banco de Poupança e Crédito (BPC) tinha aproximadamente 874 mil milhões de kwanzas (5,2 mil milhões de dólares) de activos com baixo desempenho e em incumprimento.

 

No mesmo mês, o Estado angolano já tinha emitido títulos de dívida pública no valor de 231 mil milhões de kwanzas (1,080 mil milhões de euros) a favor da sociedade estatal Recredit, para compra de valor equivalente de crédito malparado do BPC, que tentará depois cobrar.

 

O Estado angolano é accionista do BPC, através do Ministério das Finanças (75%), do Instituto Nacional de Segurança Social (15%) e da Caixa de Segurança Social das Forças Armadas Angolanas (10%), que suportaram em 2017, na proporção da sua participação, o financiamento do aumento de capital do banco, no âmbito do processo de reestruturação em curso.

 

Em 2014, um volume de crédito malparado superior a 5,7 mil milhões de dólares (4,755 mil milhões de euros) obrigou à intervenção do Estado no Banco Espírito Santo Angola (BESA), constituindo este o maior buraco da banca do país. Após o colapso da BES português, o BESA foi transformado, por decisão dos novos accionistas e conforme exigência do banco central angolano, em Banco Económico, a 29 de Outubro de 2014, avançando também um aumento de capital e a entrada da petrolífera Sonangol no capital social (39,4%).

 

Em 2017, a administração do BPC constituiu 72,7 mil milhões de kwanzas (392,2 milhões de euros) para "imparidades e provisões" do exercício de 2016, reflectindo nas contas uma perda potencial ou efectiva de quase 400 milhões de euros em créditos concedidos anteriormente.

 

"Esta iniciativa será reforçada em 2017, com o intuito de assegurar o saneamento efectivo da carteira de crédito do banco e atingir um rácio de transformação abaixo dos 70,0%", anunciou ainda a administração do BPC, na altura.

 

Esta medida foi então acompanhada de um reforço dos fundos próprios do banco pelos accionistas, em 26,9%, face a 2015, passando para 171,9 mil milhões de kwanzas (927,4 milhões de euros).

 

Em 2015, o BPC tinha 406 agências em todo o país, com 5.354 trabalhadores, números que subiram, respectivamente, para 443 e 5.530 até final do ano seguinte.

 

Entretanto, a instituição iniciou um processo de redução do número de agências em todo o país.

 

"O banco vive um momento muito particular da sua história. Queremos sanear e reestruturar o BPC. Vamos fazê-lo para que o banco sirva convenientemente o Estado, seu único accionista", disse anteriormente o ministro das Finanças, Archer Mangueira.

 

O plano de recapitalização do banco, explicou a instituição, envolve várias acções que "visam assegurar a manutenção de uma posição financeira sólida e de um nível de rendibilidade sustentável e adequado ao perfil de risco do BPC".

 

Nomeadamente o aumento do capital social por subscrição de acções ordinárias pelos accionistas, no montante de 90 mil milhões de kwanzas (485,5 milhões de euros) e com a venda da carteira de saneamento (crédito malparado) à Recredit, uma espécie de "banco mau" criado pelo Estado para gerir os activos de cobrança duvidosa da banca angolana .

 

Envolve ainda a emissão de instrumentos de dívida subordinada convertível elegíveis para fundos próprios base no valor global de 72 mil milhões de kwanzas (388,4 milhões de euros).

 

"A utilização de fundos públicos é razão mais do que determinante para que o actual conselho de administração encare esta situação como um desafio a vencer, em nome de todos os angolanos. O conselho de administração está ciente dos desafios que tem pela frente, e acredita genuinamente, que num contexto normal de evolução do mercado, o BPC irá voltar a liderar o sistema financeiro angolano, no apoio às famílias, às instituições e às empresas nacionais", conclui o banco, na mesma informação, de 2017.

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