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Jardim Gonçalves: Governo de Sócrates "precisava de dominar o BCP"
Antigo presidente do BCP diz que na altura da guerra pelo poder no banco "a pressão para meter no BCP gente da confiança do Governo era grande e vinha de todo o lado".
"O Governo precisava de dominar o BCP, o que só era possível com a nomeação de um presidente". A frase é de Jorge Jardim Gonçalves, antigo presidente do BCP, que em entrevista ao Público sugere que foi o Governo de José Sócrates que em 2007 colocou Carlos Santos Ferreira a liderar o maior banco privado português.
Em entrevista ao Público, publicada esta sábado, 3 de Junho, Jardim Gonçalves refere que "a pressão para meter no BCP gente da confiança do Governo era grande e vinha de todo o lado".
Questionado se Vítor Constâncio, então governador do Banco de Portugal, esteve alinhado com o grupo que queria tomar conta do BCP, Jardim Gonçalves responde que o primeiro-ministro e o ministro das Finanças da altura (Sócrates e Teixeira dos Santos) "precisavam de ter um controlo mais fino do sistema financeiro para fazerem a colocação da dívida pública", sendo que para tal necessitavam de "dominar o BCP", pois "mandavam na CGD e o BES era dócil e tomava a dívida pública e o BCP era independente. E o BPI era pequeno".
Para ilustrar como foi o Governo de Sócrates a liderar a escolha dos novos gestores do BCP na altura, Jardim Gonçalves lembra que o então ministro das Finanças Campos e Cunha "tinha-se recusado a nomear o Armando Vara para a CGD, decisão que Teixeira dos Santos viria depois a tomar". Posteriormete, "Armando Vara acaba por ser escolhido pelo grupo de António Mexia e da Ongoing para ir com Carlos Santos Ferreira para o BCP", refere.
Sobre Carlos Santos Ferreira, que assumirá a liderança do BCP no final da luta pelo poder no banco, Jardim Gonçalves refere que era um gestor que "não explica, não fala, não comenta" e "tinha uma boa relação com José Sócrates, com Teixeira dos Santos e Vítor Constâncio. Mas não sei quem mandava em quem".
Para o fundador do BCP, os políticos tiveram responsabilidade na criação da guerra pelo poder no banco. "Só mais recentemente percebi o que aconteceu naquele período, onde houve uma conjugação de ingredientes todos metidos no BCP para provocar uma guerra. E um deles, e muito importante, é o político. Não falo de um partido político, mas de um grupo de pessoas cobertas politicamente pelo PS e pelo PSD", refere Jardim Gonçalves na entrevista ao Público.
Sobre o seu sucessor à frente do BCP, Paulo Teixeira Pinto, refere que "que quando percebeu que as coisas não eram como deviam ser disse que estava doente, e estava, e foi à sua vida".